Autor

Sete de Espadas

 

Data

24 de Julho de 1975

 

Secção

Mistério... Policiário [19]

 

Publicação

Mundo de Aventuras [95]

 

 

O ERRO… E O CASTIGO

Sete de Espadas

 

Rui de Mendonça – um rapaz alto, bem constituído, com todos os seus músculos bem doseados pela ginástica, de face morena e esguia, queixo voluntarioso denotando um tipo acentuadamente latino, cabelo revolto e de olhar vivo, penetrante e o inteligente – fumava distraidamente um cigarro, enterrado numa fofa cadeira de braços, no seu gabinete de trabalho, enquanto o seu espírito se espraiara desde a «teoria antropológica do criminoso» de Lombroso, à «teoria psicológica», de Iarde, e o fumo que do seu cigarro continuava a subir em espirais cada ver maiores…

…quando, insistentemente, retiniu a campaínha do telefone.

– …

– Eu mesmo.

– …

– Como? O dr. Paulo?... Vou imediatamente.

Ao volante do seu potente «Torpedo», Rui avança veloz para a encosta debruçada sobre a parte oriental da cidade, onde se situa a vivenda «Mira-Rosa»… Um criado espera-o ao portão da quintinha e encaminha-o para uma enorme porta-janela, totalmente aberta para o jardim, enquanto vai dizendo:

– Chamámo-lo, senhor doutor, porque a menina Julieta achou conveniente que tomasse conhecimento do caso… O sr dr. Paulo foi encontrado morto cerca das 15 horas… Todos dizem que ouviram o tiro, e eu e a menina, possivelmente por estarmos mais próximos do escritório, entramos quase ao mesmo tempo pela porta do jardim e, debruçando-nos sobre o corpo, vimos que já nada havia a fazer. A menina sentiu um choque tremendo, ficou bastante abalada, mas com uma calma surpreendente não deixou entrar mais ninguém e ordenou-me que lhe telefonasse… Estávamos atrás do edifício mas não demorámos…

Ao aproximar-se Rui verifica que o pequeno grupo que troca impressões, no jardim, junto à porta-janela do escritório é composto pelo Carlos Jorge, antigo pretendente de Julieta, Joaquim Silveira, filho adoptivo do dr. Paulo Ramires – ambos ultimamente incompatibilizados com o doutor – Roberto Miranda, um aluno bastante promissor mas algo ambicioso, e a acabrunhada Julieta.

Fez-se um enorme silêncio à aproximação de Rui… Este cumprimentou afectuosamente Julieta e em silêncio entrou o escritório…

Caído de costas, entre a ampla secretária e a única porta interior do escritório, o corpo do dr. Paulo, com o braço direito meio estendido… um pouco mais longe a pistola… e o braço esquerdo estendido ao longo do corpo… Não há sinais de luta e todos os objectos se encontram nos respectivos lugares. Acima do seu ombro esquerdo, o sangue mancha a alcatifa do escritório…

Momentos depois Rui telefona para a P.J… Ordena ao criado que não abandone a porta-janela do jardim e não deixa entrar ninguém… Ampara, meigamente a sua amiga de infância e, através do jardim, tal como entraram, dirige-se para uma pequena sala do rés-do-chão da vivenda… Depois de saber que mais ninguém se encontra em casa, aconselha Julieta a subir ao seu quarto e repousar, enquanto, um a um, pede para conversar com os assistentes e vai tomando notas:

Roberto Miranda: Tinha vindo pedir um conselho ao professor, e como este lhe dissesse para esperar, fora passeando, sozinho, até aos fundos do jardim… Voltara e ao aproximar-se vira aparecer do lado das áleas de baixo o Carlos Jorge…

Carlos Jorge: Fora à biblioteca para tirar uns apontamentos e ao passar pela porta interior do escritório chegara-lhe aos ouvidos ruídos de violenta discussão… Apesar da porta entreaberta, não vira ninguém mas ficara surpreendido pelo tom das vozes… Já na biblioteca fora surpreendido pelo ruído insólito de um tiro… Correra pelo corredor, empurrara a porta e logo vira o corpo do doutor caído de costas e um vulto a fugir para o jardim. Saiu a perseguir o vulto, mas como as áleas de baixo do jardim e do parque apresentam um perfeito labirinto, não vira ninguém… Quando regressa já ali estavam Julieta e o criado.

Joaquim Silveira: Diz que estava num ponto qualquer do jardim… Não quisera dizer onde, nem com quem… Ao ouvir o tiro viera para o edifício a tempo de ver chegar Roberto Miranda…

E, finalmente, quando ouviu, no primeiro andar:

Julieta: Dissera que estava atrás do jardim… Mal ouvira o tiro correra, com um horrível. Pressentimento… Vira o criado a correr para si, do outro lado, e ambos chegaram ao mesmo tempo em frente da porta-janela do escritório, no jardim, na frente do edifício… Não mexeram em nada… Mandara o criado telefonar-me…

Rui deu por findas as conversas… – Mas isto é quase impossível… No entanto… Com que razão?... Eu sei que a escola inglesa nos diz…

 

Não incomodamos mais… Deixemos o Rui no seu solilóquio e perguntemos, assim de repente, aos nossos leitores:

1 – Quem acha que foi o criminoso?

2 – Onde verifica o erro cometido?...

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO