Autor

Sete de Espadas

 

Data

27 de Janeiro de 2012

 

Secção

Correio Policial [17]

 

Publicação

Correio do Ribatejo

 

 

NUM CORREDOR COM 20 METROS ou BISBILHOTICES NA RESIDENCIAL DAS AVENIDAS

Sete de Espadas

 

Imaginem as gentis leitoras e os prezados amigos uma Residencial nas chamadas “Avenidas Novas de Lisboa”, situada numa dessas vivendas dos anos 20 onde, no primeiro andar, no topo de uma larga e ampla escadaria bem lançada, depois de um patamar, se entrava num largo e comprido corredor alcatifado num tom verde azeitona, em cujas paredes cremes se viam algumas gravuras iluminadas no momento por quatro “apliques” e por um candeeiro de tecto com duas lâmpadas de largo quebra-luz roxo, de franjinhas

Para esse corredor davam todas as portas dos quartos e todas essas portas abrindo para a direita…

Ao fundo do corredor abria-se na parede um cone com uma abertura interior de 75 centímetros de raio, fechado no exterior por uma janela de vidro avermelhado, guarnecida de uma grade de ferro trabalhado…

Ao canto, próximo da porta do quarto da porta doze, um dos jarrões enormes de louça vidrada, onde se depositavam os chapéus de chuva molhados…

Por cima do óculo, a toda a largura da parede, um espelho, ligeiramente inclinado. Creio que estão a ver o que era, e quase como era, a “Residencial das Avenidas”.

Claro que todos os quartos estavam ocupados, sendo numerados, pela esquerda de 1 a 13, e os do lado direito de 2 a 12.

No momento do grito – e isto estava escrito nas declarações que a todos tinham sido pedidas pelo inspector – o hóspede do quarto dez, funcionário da “repartição de finanças” instalada no bairro, principiava a subir o último lance da escada interior, quase escada de caracol…, situada ao fundo, à direita do corredor, e vira pelo espelho a porta do quarto nove a fechar-se. Depois desviara a vista por causa do degrau que à tarde tinha sido retirado para ser substituído e… a partir daqui era tudo o que todos sabiam.

Os ocupantes dos quartos doze, oito, quatro, três e cinco estavam reunidos no quarto um, festejando o aniversário do ocupante, professor de educação física.

A viúva do Brigadeiro Saavedra, ocupante do quarto onze, fora quem gritara ao acordar repentinamente e ao ver um embuçado, de mascarilha, a estender a mão para o valioso colar colocado numa concha sobre a cómoda. Ambos tinham desaparecido num abrir e fechar de olhos, como que volatilizados. Depois, e quase de seguida, segundo lhe parecera, a primeira pessoa a entrar ali fora a ocupante do quarto treze, logo seguida pelo ocupante do quarto dez que declararam nada mais ter visto de anormal.

O colar, de facto tinha “voado”… e do “mascarilha” nada se apurara. No entanto, e para descanso dos leitores se informa que, o primeiro fora mais tarde encontrado sob umas camisas dentro de uma das gavetas da cómoda do ocupante do quarto doze… que nada soubera explicar, até porque estava no aniversário.

A ocupante do quarto nove declarara que tinha acabado de chegar, que mal tivera tempo de encostar a porta do quarto e dirigir-se para a escrivaninha para daí estender a mão e descer a gelosia, quando ouvira o grito da senhora do lado. Como não gostava de se meter na vida dos outros, deixara-se ficar no quarto, ciente que a senhora seria imediatamente assistida. Era sempre assim, mal se dava um grito em qualquer lado.

O ocupante do quarto treze, um ourives que desprezava as superstições, declarara que, ao ouvir passos no corredor, tinha espreitado pela sua porta, que ligeiramente abrira uma simples greta, e vira pelo espelho do fundo do corredor a ocupante do quarto nove a entrar e fechar mansamente a sua porta.

O ocupante do quarto sete não fora encontrado na altura… mas por coincidência a “steno” que ocupava o quarto seis, declarara, garantindo com segurança, que o vira pela sua porta que por curiosidade entreabrira um ou dois minutos antes do grito, sair do onze, caminhando para a direita, para o fundo do corredor, silenciosamente, tanto quanto lhe parecera, mas a passos largos.

O ocupante do quarto dois, despachante da Alfândega, apesar dos ruídos de alegria ouvidos no quarto um, do grito e do posterior rebuliço, continuava a dormir paulatinamente, quando lhe entraram no quarto.

Mais tarde, veio a saber-se que Rodrigo, solicitador, e ocupante do quarto sete, era quem administrava os bens da viúva do Brigadeiro Saavedra. Fora ao quarto da Senhora D. Letícia buscar umas acções da “Companhia das Águas” necessárias para a manhã seguinte – o que a viúva confirmara! – e dissera ter visto o colar no seu lugar habitual… mas não se afligir, porquanto, o valor estava devidamente seguro!

No dia seguinte, o inspector encarregado do assunto, sem quaisquer outros elementos da “Técnica” que tinha fotografado e recolhido impressões digitais, começou a arquitectar uma teoria e envolver dois suspeitos e… a um por ter querido imitar um célebre “ladrão elegante de mascarilha negra e charpe de seda branca” qual “rato de hotel” e a outro por possível e provável conivência… mandou-os buscar!

Naquela folha de papel amarelecido nada mais constava… mas o caso não se tornava assim tão difícil, porquanto… Pois!... Pois!...

 

Pergunta-se:

1º – Será capaz de indicar os dois suspeitos?

2º – Diga o “como” e o “porquê” dessa sua indicação.

 

SOLUÇÃO (não publicada)

© DANIEL FALCÃO