Autor Data 17 de Julho de 2005 Secção Policiário [731] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2004/2005 Prova nº 9 Publicação Público |
Solução de: ASSÉDIO, BOMBONS E CRIME Severina Este problema surge na
penúltima quinta-feira do ano de 2004. João António deu os parabéns ao
padrinho no dia 21/12/04, dia do começo de Inverno (solstício). Que por graça
o comandante António Ruas considerava o dia mais pequeno do ano. O padrinho de João António
foi assassinado por Alcides Bernardo – concluiu-se que sem premeditação – das
17h30 de 22/12/04 até às 8h00 de 23/12/04. O Euro/2004 trouxera
Alcides a Portugal, na ida para Espanha – onde tinha negócios. Tal como no
ano de 1994, Lisboa Capital da Cultura. Do mesmo modo, na volta ao Brasil,
estivera no mesmo hotel pelo fim do ano. António Ruas era um homem
vívido. Mesmo comprando, de vontade, ao antiquário a pulseira roubada a sua
mulher, não teve dúvidas que este seria um receptor.
Desconhecia quem fosse o ladrão, nada sabia do dono do retrato escondido, nem
conhecera Alcides. Mas de posse do retrato oferecido a D. Julieta, ao
encontrar Alcides no hotel, tirou semelhanças e não teve dúvida que este era
o “Romeu”. E fora o ladrão! Deste modo, naturalmente e devido a evidentes
pontos de contacto, o outro era um receptor e
comprara-lhe a pulseira. Por isso, não ficou surpreendido pela reacção do antiquário, ao ver Alcides, apesar da
indiferença deste; nem com o súbito mal-estar deste, ao conhecer-lhe a
opinião sobre a morte da esposa, ao encontrar o seu retrato na sua gaveta…
Não teria, de todo, culpa na morte da senhora, mas iniciou o processo.
Conhecedor do barbitúrico que ela usava, facilmente preparou a bebida, para
lhe causar dormência e poder furtar-lhe a jóia. Sem
supor que, por vontade dela, a dose fosse reforçada. Agora, de partida para o
Brasil, temendo que António Ruas estivesse informado do roubo pelo
antiquário, decidiu matá-lo. Trazia sempre consigo uma Taurus,
pistola automática, calibre .22. Mostrou-se indisposto, foi
à casa de banho para ganhar tempo e assentar ideias. Estando a casa de banho
onde foi perto da porta de serviço, abriu a porta e encostou-a; podia ser-lhe
útil. Acabou por abandonar a
reunião e esconder-se, até todos terem saído, para voltar. Já de luvas
calçadas, à porta da vivenda, viu a vizinha à janela. Falou alto sobre se ter
esquecido dos óculos, deixando no ar um motivo para voltar inocentemente
atrás. Ao ver a senhora fechar a janela, deu a volta e entrou à vontade pela
porta de serviço, que deixara entreaberta, surpreendendo o dono da casa
sentado no sofá – olhando o retrato da esposa –, disparou-lhe um tiro de
pistola na têmpora esquerda, com a sua mão direita, tombando o comandante
para o outro lado. No chão caía a cápsula da bala da pistola automática,
fabricada no Brasil (conforme me ensinou um familiar). Sem perda de tempo, tirou
da gaveta o seu retrato, principal móbil do crime, cedeu à tentação de
colocar o revolver que estava na gaveta, um Colt .32, na mão do morto
(de onde acabou por cair), talvez a ocupar o lugar da arma do crime, que não
abandonou, saindo pela porta da frente, por sobre resíduos de lama, sem
lembrar a porta encostada. Onde já tinha deixado a marca de um dos seus pés,
ainda humedecido. O comandante não era
canhoto, logo não foi ele quem disparou o tiro – foi assassinado. Foi isso
que João António percebeu ao analisar o corpo do padrinho. |
© DANIEL FALCÃO |
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