Autor Data 29 de Outubro de 1981 Secção Mistério... Policiário [328] Competição Torneio
“Do S. Pedro ao Natal” Problema nº 7 Publicação Mundo de Aventuras [420] |
O CASO DO MORTO NO ESCRITÓRIO Sherlock Holmes
e Dra. Watson Vocês
não me conhecem, mas eu apresento-me… Sou John B. Clarence, detective da secção de homicídios da Polícia
Metropolitana de New York. A minha divisão é a 3ª, de Manhattan. Há
dias, fui encarregado de descobrir quem matara Richard T. Williams, mais
conhecido pelo «rei do sabão»… Tinha umas vinte
fábricas desse artigo espalhadas pelos E. U. A. … E não só! O
seu corpo fora descoberto pela sua secretária, que nos telefonara
imediatamente. Quem recebeu a chamada foi o meu chefe, o tenente Kelly, que a avisou para manter o escritório encerrado e
nada dizer a ninguém, antes da chegada de um membro da Polícia. Como eu
estava de serviço nessa altura, fui encarregado de seguir para o escritório
da vítima – já com todos os elementos de identificação possíveis. Quando
cheguei ao 23ª andar, vi de imediato no átrio a secretária à
minha espera, que reconheci pelas indicações que me tinham sido dadas. Fiquei
admirado… Bem, admirado por duas coisas… Por a ver ali, fora dos escritórios,
e porque eu a conhecia muito bem, por tê-la visto várias vezes nos mais diversos
clubes nocturnos de New York e até de Las Vegas,
onde fazia «Strip-Tease»… Era conhecida no meio por «Pussy» Anne… Resolvi não o dar a conhecer… Esperei que a
«Gata» pusesse o rabo de fora… Depois
das identificações, segui miss Silvya
Burton – foi esse o nome que me dera e que já me tinham indicado –, que,
depois de abrir a porta do átrio e outras mais, já dentro da área dos
escritórios, me levou ao gabinete do sócio maioritário da firma Williams Parker, S.A. Um gabinete igual a tantos outros que
pertencem a tipos como William, com a excepção de
este ter um cadáver com uma bala na testa… e um revólver no chão alcatifado… O
corpo estava sentado numa cadeira (ou cadeirão) de cabedal, a cabeça com
enorme equimose na nuca pendia para o lado esquerdo e no chão, uma poça de
sangue ainda fresco, cuja mancha avermelhada ia ensopando e aumentando na
alcatifa. Da arma, nem eu saberia o que se iria descobrir… Enquanto
esperava a chegada do pessoal técnico, dei uma olhadela ao gabinete, notando
a secretária algo desarrumada, com gavetas meio abertas e o cofre também aberto,
com algumas notas, moedas, acções e documentos vários
ali bem à mostra… Voltei-me
para a «gatinha» e… –
Miss Burton, quem esteve aqui que pudesse ter feito
isto? –
Hoje, apenas entraram três pessoas no gabinete, se excluirmos o meu patrão e
eu própria… Estiveram cá: a esposa, o filho e o sócio. A esposa entrou e saiu
pouco tempo depois. Foi acompanhada pelo marido até ao elevador e sorriu-se
cumprimentando-me quando passou por mim, aqui sentada. (Nesta altura já
tínhamos saído do gabinete e estávamos no área do escritório). Ele depois
regressou ao gabinete e meia hora mais tarde, mais ou menos veio o sócio, o Mr. Steve Parker, pessoa que
não nutre simpatias por mim – por outros motivos – pagando-lhe eu na mesma
moeda!… Anunciei-o, entrou e estiveram reunidos mais ou menos uma hora e
nesse espaço de tempo chegou aflito, como quase sempre, o Jimmy, filho da
primeira mulher de Mr. Williams. Como o pai
estivesse ocupado, esperou aqui comigo, mas via-se bem a sua ansiedade e nervosismo…
Disse-me que estava «enrascado» visto ter perdido há dias bom dinheiro com
uns tipos aos quais prometera pagar esta manhã… Eles já o tinham procurado e
pareceu-me, pela conversa, que os jogadores o teriam pressionado bastante e
até ameaçado… O rapaz estava desfeito… Contava, mais uma vez, que o pai –
como sempre o tratava, aliás!, e com respeito!, isso
diga-se! – o salvasse da encrenca! Era costume!…
Chegava a vir aqui pedir dinheiro, duas ou três vezes por semana… alegando
sempre que o pai não lhe dava mesada… E Mr.
William, sempre o tinha salvo, até já de questões de
Tribunal, por motivos de droga… «passagem», não a «tomada», porque isso não
fazia… Mas jogador, isso era… E até… se falou de um caso amoroso com a esposa
do pai… Fiquei
espantado com tal notícia, mas a bela «Pussy»
acalmou-me logo… –
… É a terceira mulher do patrão e tem apenas vinte anos!… Neste
momento a porta do átrio deu sinal de ser aberta e entrou no escritório um
casal… Um par bastante estranho… Ela toda vestida de preto, com aparência de
muito nova… muito atraente… Ele, talvez com uns cinquenta anos, alto, forte,
quase calvo, ventre proeminente… A um sinal da secretária percebi que se
tratava da viúva do «rei do sabão» e – do sócio deste. –
Fui alertada pelo Mr. Parker
do sucedido e ele fez o favor de me acompanhar… Desejava ver o meu marido, se
não vê inconveniente… –
Claro que não, minha senhora… Queira acompanhar-me, por favor. Perante
a vista do corpo daquele que fora o seu marido, a senhora começou a soluçar baixinho e
retirou-se. Fiquei
sozinho no gabinete e comecei a pensar… Tinha três suspeitos – e porque não
quatro?… E todos eles podiam ter cometido o crime, se… Ordem
das visitas: 1º
Suspeito: – A esposa do morto… a viúva… Não jogava certo… visto que ao sair
para o elevador, passara pela secretária e fora acompanhada pela «vítima» –
que ainda não o era… mas ficaria milionária e podia começar a fazer o que
quisesse… Ela deu a vez ao 2º
Suspeito: – O sócio de Mr. Williams, o Mr. Parker, que ali se demorara
mais ou menos uma hora… Iria ficar à frente dos negócios, por ser sócio, e
seria um futuro e novo arei do «sabão»… e saíra do
gabinete para entrar o 3º
Suspeito: – O filho da vítima, o rapaz ansiado por dinheiro, aflito,
pressionado… Viria a ser herdeiro? É natural que sim, mas…
Saíra, para dar lugar – considerando as entradas no gabinete, claro! – ao 4º
Suspeito: – A secretária Silvya Burton, ou a «Pussy» Anne, ex-actriz de «Strip-Tease»…
Nos ficheiros da Polícia o seu cadastro não estava nada limpo com as «ofensas
à moral», como não o estava o do anterior suspeito… – e fora ela que
encontrara o corpo sem vida, como telefonara… –
Miss Burton (ela, elegante, como sempre, acaba de
chegar junto a mim e à secretária do morto…) continue a sua interessante
conversa no momento em que fomos interrompidos… E por isso: – o casal? –
Já se retirou, Mr. Clarence – e não sei se aquele mulherengo
do Parker não está a «fazer-se» ao «piso» da viúva…
Mas adiante! Não temos nada com isso. O pior será o meu lugar… Conservá-lo-ei?… – Pois, atendendo da melhor maneira
possível o despistado e desfeito rapaz, a uma certa altura a porta do
gabinete abriu-se e apareceu o Mr. Parker que, recuando, saiu do gabinete e, contra o
costume, encostou a porta… Ao voltar-se deu de caras com o filho de Mr. Williams e pareceu-me ter ficado aborrecido,
hesitante… Por sua vez o rapaz nem sequer lhe ligou porquanto, de ar
desvairado passou por ele, mal bateu na porta do gabinete e sem esperar,
entrou logo e fechou-a atrás de si… Esteve lá talvez uns dez minutos e saiu,
com aparência ainda mais desvairada e quase a correr, como quem foge do diabo
e do fogo do inferno… – Entrei eu quase logo a seguir no gabinete – pois já
estava só – e encontrei isso que vê… Telefonei-lhe logo… O resto já sabe…
Fechei tudo e saí para o átrio, esperando… Pensando
em tudo isto eu tinha a certeza absoluta que, na história, naquilo que eu
sabia, no que ouvira e no que vira, algo não estava a bater certo… Confundia-me…
A não ser que… Talvez
sim… Por isso mesmo, cabe aqui perguntar: 1º
– Quem achas que matou o «rei do sabão» 2º
– Como e por que chegaste a essa conclusão? (Explica tudo convenientemente).
(Cuidado!…) |
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© DANIEL FALCÃO |
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