Autor

Smasher Smile

 

Data

16 de Abril de 1981

 

Secção

Mistério... Policiário [308]

 

Competição

Torneio “Dos Reis ao S. Pedro”

Problema nº 7

 

Publicação

Mundo de Aventuras [392]

 

 

O MORDOMO… INDECISO!

Smasher Smile

 

O inspector Martins deixou cair o pesado batente da casa do rico antiquário. A porta lembrava a entrada de um daqueles poderosos solares medievais, onde se está livre dos perigos exteriores… mas não dos interiores. Também ali os perigos tinham tomado forma, mas faltava saber se teriam vindo do exterior ou interior.

Nesse momento, um mordomo, já velhote, com ar excitado veio abrir a porta.

– Sou o inspector Martins – disse o detective mostrando a identificação.

– Entre. Está lá dentro um agente esperando o senhor. Eu vou conduzi-lo.

Entrou numa sala onde se encontrava um grupo de estranhas personagens. Numa secretária junto a uma janela escancarada, estava sentado um jovem de aspecto assaz invulgar. Todas o classificariam de um jovem tipo desportista, porém essa opinião era forçosamente modificada ao reparar numas muletas caídas por sobre uma cadeira junto a ele.

Perto de uma lareira de tamanho excessivo, onde tudo era invulgarmente grande, desde os fósforos até ao gigantesco conjunto de atiçadores de ferros que se encontrava incompleto, estava uma senhora de aspecto simples mas em quem depressa se adivinhavam modos agradáveis.

No centro da sala, num divã, estava o que restava do antiquário, e a arma do crime, um atiçador.

Nesse momento um homem fardado, que se encontrava no fundo da sala, adiantou-se.

– Boas tardes, inspector.

– Boas tardes, sargento. Já chamou a ambulância?

– Já. Deve estar a vir.

– Eu gostava de falar com um de cada vez, noutro compartimento, se possível.

Dirigiram-se para outra sala onde somente entraram o inspector e a senhora.

– Podia dizer-me quem encontrou o corpo?

– O jovem que ficou lá fora.

– O das… muletas?

– Sim – e continuou, como adivinhando e curiosidade do inspector. – Ele usa muletas desde há oito anos, quando teve um desastre de automóvel. O meu marido ia um pouco bêbado a conduzir, mas não sofreu nada. O Carlos ficou com uma deficiência muscular que lhe impede o movimento de uma das pernas.

– Sim, compreendi. Vamos mudar de assunto. Onde se encontrava a senhora hoje de manhã até descobrirem o cadáver?

– No jardim. Gosto de tratar das flores. Também não passou ninguém pelo jardim e eu não ouvi nada, visto a janela desta sala dar para as traseiras.

– Obrigado. Podia chamar o criado.

A senhora saiu. Poucos segundos depois entrava o criado.

– Puxe essa cadeira – disse o inspector. – Onde se encontrava no momento do crime?

– A limpar o pó dos quartos.

– Então sabe quando se deu o crime? – lançou o inspector de chofre.

O velhote hesitou e depois respondeu com ar nervoso:

– O menino Carlos é que diz que o crime foi por volta do meio-dia. Ele viu a sombra de uma pessoa que fugia.

– Ah, sim. E que costumava o seu patrão fazer de manhã?

– Ele acordava sempre cedo, e após trabalhar um bocado, dormia das 11.30 até ao almoço. Tinha o sono muito pesado.

– Há mais criados na casa?

– Sim, mas estão todos de folga na Província.

– O jovem… esse Carlos, é da família do seu ex-patrão?

– É um primo afastado.

– Obrigado. Pode sair e peça ao jovem para entrar.

O jovem entrou.

– Sente-se – disse o inspector apontando o cadeirão. – A que horas encontrou o corpo?

– Ao meio-dia, logo a seguir ao crime – respondeu o jovem.

– Como sabe que o crime se deu ao meio-dia?

– Quando entrei na sala e vi o triste espectáculo, acerquei-me da janela aberta, pois o criminoso devia ter entrado por ali, e vi uma sombra já bastante alongada de alguém que fugia, a alguns metros.

– Sim… E porque veio aqui à sala?

– Foi para falar com ele de umas partilhas. Um tio dele morreu sem deixar testamento e com apenas três familiares. Dois filhos e o meu primo, que se juntou agora ao tio, lá em «cima». Eu tratava de grande parte dos assuntos dele. Cursei Direito em Coimbra.

– Ah sim… – comentou o inspector, abstracto. Repentinamente levantou-se, como movido por urna mola e dirigiu-se à sala onde tinha estado o cadáver. Junto ao divã ainda estava caída a arma do crime… um gigantesco atiçador. Baixando-se o inspector tentou levantá-lo, mas só o conseguiu com muita dificuldade. Para se equilibrar aguentando a barra encostou-se à secretária e devagar deixou cair o atiçador sobre o divã que se situava perto. – Sargento, já sei quem cometeu o crime – exclamou.

 

PERGUNTA-SE;

1 – Quem acha que pode ter sido o assassino?

2 – Explique detalhadamente o raciocínio do inspector, para chegar ao nome do assassino e a sua origem (externa ou pertencente à casa).

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO