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Autor Data 1 de Abril de 2018 Secção Policiário [1391] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2018 Prova nº 3 – Parte I Publicação Público |
ROUBO NA NOITE ESCURA Stage 15 A noite foi muito escura e
chuvosa, por vezes com ventos fortes e rajadas. Durante a madrugada alguém
notou que caiu neve de forma pouco intensa, mas que conseguiu cobrir os
campos ainda que só por alguns minutos. O clima andava instável e
aquelas condições já não deviam ocorrer se o ano fosse normal, mas não era o
caso. O Brocas, um possante cão
que era excelente guarda, ladrou toda a noite, no dizer do seu dono, um
velhote que não gerava simpatias em ninguém da vizinhança, não propriamente
por fazer mal a alguém, mas por não se dar com ninguém. Constava na aldeia que
tinha uma fortuna imensa escondida em casa e quem lá entrou para fazer algum
serviço veio dizer que tudo era muito escuro e provocava arrepios, era
medonho, mas não referiam fortunas nem fausto, nem objectos
de arte ou ouro. – O Brocas não se calou um
momento sequer. Já não o podia ouvir. Sabem, eu tomo uns comprimidos para
conseguir dormir, mas nem assim preguei olho. Pensei que ladrava por causa do
vento que fazia um barulho medonho, mas não era por isso, era porque andava
alguém por cá a roubar-me. – O que foi que lhe
roubaram? – perguntou o guarda Felício. – Foram ao meu cofre e
levaram tudo. – Está bem, mas o que é
esse “tudo”? Se não sabemos o que lá estava, não podemos saber se foi muito
ou pouco, se foi dinheiro ou objectos, está a
perceber? – Era só o que faltava
estar a dizer o que tinha no meu cofre. Eram coisas minhas, de muito valor e
que agora desapareceram. – Vamos lá ver esse cofre… Era um cofre instalado na
parede, que parecia ser bastante robusto e não tinha sinais de arrombamento
ou danos. – O senhor desculpe, mas
este cofre parece estar em boas condições, não tem marcas de violência, nada. – Pois, mas o que lá estava
dentro desapareceu, não vê que está vazio? Alguém esteve aqui e roubou tudo. – Mas como, se não o
arrombou? – Ora, o cofre está sempre
com a chave na fechadura e aberto. Para que havia de estar fechado se vivo
sozinho e ninguém nunca cá veio roubar nada? Felício percorreu as
imediações do cofre e não registou nada de anormal, não havia marcas de
arrombamento de portas ou janelas nem de pegadas ou outras, pelo menos à
vista desarmada. No terreno, maltratado,
havia lama e poças de água por todo o lado, mas não havia marcas de alguém
ter por ali andado nos últimos tempos. A terra não estava revolvida nem
pisada e só as marcas de muita água eram visíveis. No fundo da garagem, agora preso por uma
corrente, estava o Brocas, que o dono prendeu pouco antes da chegada da
polícia, mas que quando não havia visitas andava solto por todo o lado. Era
um cão possante e de pelo curto, limpo e brilhante, sinal de que era muito
bem tratado. Isso mesmo fez Felício destacar ao velho: – Tem aqui um belo cão,
certamente não deixa ninguém aproximar-se… – Sim, é verdade, mas esta
noite foi uma desgraça, esteve agitado toda a noite, ladrou, ladrou, parecia
doido e nem me deixou pregar olho. Um pavor! Felício estava confuso,
nada parecia jogar certo na história e não havia sinais de ladrão mas o
velhote jurava que fora assaltado. Ia confirmar se havia algum seguro que
pudesse receber e se foi actualizado recentemente.
Eram mais as dúvidas que as certezas, mas já tinha algumas coisas para
escrever no relatório da ocorrência, procurando responder às perguntas: Será que houve mesmo
assalto vindo do exterior? Justifique todas as suas
afirmações e retire as conclusões possíveis. |
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© DANIEL FALCÃO |
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