Autor Data 24 de Junho de 1982 Secção Mistério... Policiário [358] Competição Torneio
“Dos Reis ao S. Pedro” - 82 Problema nº 11 Publicação Mundo de Aventuras [454] |
A VARANDA Tetraedro O
Dr. Antunes, químico laboratorial tinha sido assassinado em sua casa e eu, Inspector Fontes, fui chamado à sua mansão para
investigar o crime. Claro que se repete aqui o termo «assassinado» pois foi
essa a palavra na altura utilizada, como podem verificar a seguir… A
mansão situava-se no cimo de uma falésia cortada a pique, acossada
violentamente pelas ondas do oceano. A vista era verdadeiramente magnífica e
melancolicamente os meus olhos perdiam-se nas águas do Atlântico que rugiam
50 metros abaixo. Dei
um último olhar e virando as costas ao oceano percorri a larga varanda,
entrando na sala pela ampla porta envidraçada. Dentro da sala esperava-me a sr.ª de Antunes, uma senhora
obesa, contando cerca de 40 anos. –
Conte-me o que se passou – pedi. –
Eu chamei-o, inspector Fontes, porque o meu marido
foi hoje assassinado – a sr.ª
de Antunes fez uma pausa como que esperando uma interrupção e continuou: – Tínhamos
acabado de almoçar e estávamos a conversar, eu, o meu marido e o meu enteado,
aqui nesta mesma sala. Como o criado demorava a trazer os cafés que
costumamos tomar sempre a seguir ao almoço, o meu enteado resolveu ir à
cozinha ver se estavam prontos. Pouco depois voltou trazendo uma bandeja
sobre a qual vinham dois cafés e um chá. A folhas tantas o meu marido pediu ao
meu enteado que lhe fosse buscar o binóculo para observar os pássaros que
abundam por estas paragens. Enquanto o meu enteado foi satisfazer o pedido do
meu marido, este deitou o açúcar no seu café, mexeu-o, levantou-se e dirigiu-se
à varanda levando a chávena do café na mão. Contemplava o mar quando levou a
chávena aos lábios pela primeira vez… A
sr.ª de Antunes
interrompeu-se para secar uma lágrima que lhe correu pelo lado esquerdo da
face utilizando para isso um lenço branco. –
Aí – continuou com a voz vacilante – o seu rosto contorceu-se num esgar de
dor, o seu corpo tombou para a frente, rolou sobre o parapeito da varanda e
caiu para o outro lado. Quando cheguei à varanda e olhei para baixo, as águas
já o tinham engolido… –
E depois, o que fez? – inquiri. –
Corri imediatamente para dentro de casa e chamei pelo Jorge, o meu enteado,
que acorreu instantes depois. Mais tarde, quando nos acalmámos, telefonámos
para a polícia. Nessa
altura, entrou na sala o criado da casa carregando dois cafés numa bandeia. –
Ernesto! Já lhe disse para deitar fora as chávenas rachadas! – exclamou a sr.ª de Antunes. –
Desculpe, minha senhora, mas esqueci-me… –desculpou-se
o criado. –
É que eu tenho horror a beber por chávenas rachadas, pois estas podem
transmitir doenças – explicou-me a sr.ª
de Antunes. –
Deixe estar, eu bebo pela chávena rachada – disse eu deitando açúcar na
chávena rachada, ao mesmo tempo que a sr.ª
de Antunes se servia da outra dizendo: –
Se não se importar… – e depois, voltando-se para o criado: – Pode ir,
Ernesto. Após
termos bebido o café, dirigi-me à cozinha que se situava no piso inferior, a
fim de falar com o criado. –
Eu atrasei-me a preparar os cafés e o chá (o sr.
Jorge bebe sempre chá) – contou-me o criado Ernesto –, e quando me preparava
para deitar o café nas chávenas apareceu-me na cozinha o Sr. Jorge que se
ofereceu para as levar para cima. Eu comecei então a preparar o jantar, e foi
quando estava a cortar os bifes que vi passar pela janela uma sombra, mas não
percebi o que tinha sido. Logo a seguir ouvi a senhora a gritar pelo sr. Jorge. Subi então ao andar de cima… –
E que viu? – perguntei ao mesmo tempo que reparava
que a janela da cozinha se situava por debaixo da varanda. –
Deparei com a senhora, que chorava nos braços do sr.
Jorge. Achei melhor não interromper e limitei-me a trazer para baixo as
chávenas. –
O que é que lhes fez? – inquiri. –
Lavei-as e estão agora a secar – disse-me apontando para uma grade. Olhei e
vi duas chávenas de café e uma de chá, reparando que uma das chávenas de café
estava rachada. –
Não as devia ter lavado… – resmunguei. –
Eu não sabia o que se tinha passado e além disso não pensei que as chávenas
tivessem alguma importância… Falei
depois com Jorge que encontrei no laboratório que o dr.
Antunes mantinha em casa. –
O Ernesto tinha-se atrasado mais uma vez com os cafés, por isso fui lá abaixo
ver o que se passava. Quando voltei, o meu pai estava a ler o jornal, e assim
continuou enquanto eu e a minha madrasta bebemos as nossas bebidas. Quando
acabou de ler o jornal pediu-me para lhe trazer o binóculo, de maneira que
ele pudesse observar a passarada que costuma voar nestas redondezas. –
E foi buscar então o binóculo… –
Exacto. Quando estava a abrir o armário do meu
quarto onde se encontra o binóculo, ouvi a minha madrasta a chamar por mim.
Acorri e ela começou a chorar nos meus braços. O
dr. Antunes não deixou nenhuma herança significativa,
uma vez que a mansão era propriedade de sua mulher e a vítima não possuía
outros bens. Não sabia qual fora o motivo, mas quando espremesse uma pessoa
que eu cá sabia… isso tudo viria ao de cima. Isso e a confissão do assassínio… Pergunto:
1
– Acha que o dr. Antunes foi envenenado? 2
– Explique convenientemente o seu raciocínio, considerando, tal como nós,
duas hipóteses, que deverá fundamentar. |
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© DANIEL FALCÃO |
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