Autor Data 5 de Abril de 1984 Secção Mistério... Policiário [416] Competição Torneio
“Dos Reis ao S. Pedro” - 84 Problema nº 4 Publicação Mundo de Aventuras [518] |
A DANÇA DA MORTE Tetraedro As luzes
principais apagaram-se. Apenas a mortiça luz vermelha que iluminava a arena,
se conservava aceso. O silêncio caiu apenas interrompido pelo ritmo de uma pancada
seca de um tambor que ecoava lenta e cadenciadamente. Três vultos negros
surgiram na arena. Eram os dançarinos. Estavam envoltos em capas negras todas
iguais. Ostentavam todos máscaras, mas cada uma possuía uma cor diferente.
Uma era vermelha, outra azul e a outra verde. As pancadas do tambor
aceleraram. Os seus corpos seguiram o ritmo. A beleza dos seus corpos e dos
seus movimentos, sustinham-me a respiração. E o tambor tocava cada vez mais
depressa. Após bastantes passos de rara beleza os 3 dançarinos encontravam-se
numa roda no centro da arena, de braços entrelaçados, de costas uns para os
outros e saltando co ritmo do tambor (agora tocado num frenesim). Saltavam
com as pernas abertas dobradas pelos joelhos e saltavam simultaneamente com
os dois pés. E giravam. Giravam ao ritmo do tambor a uma velocidade cada vez
maior e, a sua dança e o som do tambor agora ensurdecedoramente acelerado
exaltavam e extasiavam o público. E então deu-se
a tragédia. Um dançarino caiu por terra levando as mãos à barriga, e a
multidão dividiu-se entre aqueles que aplaudiram e aqueles que gritaram. Quando
se viu que aquilo não fazia parte do espectáculo o pânico gerou-se. Quando a
polícia tomou conta da situação eu, inspector Fontes, tomei conta das
investigações. Após o médico me ter informado que o dançarino morrera
atingido a tiro, dispus-me a ouvir os depoimentos. Falei primeiro com os
dançarinos. – Não percebo
nada disto – declarou Carlos Gouveia – o Alberto (era o nome dele) era um
tipo bestial. Não merecia isto. É certo que tinha muitos inimigos… – Quem eram? – O Jorge
Ramiro por causa de um assunto de saias. Não se davam nada bem. E havia o
Roberto Barata que lhe ficou com uma certa inveja pois ele e o Alberto, concorreram
para o lugar quando se retirou o Luís Gomes, antigo dançarino. Lutaram ambos
para o lugar e acabámos por contratar o Alberto. Nunca se satisfez com a
nossa decisão. E isto para não falar do Manuel Pereira o sobrinho e herdeiro
dele. É que o Alberto tinha ganho muito dinheiro com o nosso espectáculo. Falei com
Mário Gouveia, o segundo dançarino e irmão do primeiro. – Foi aquela
mulher que o matou – disse-me. – Não que fosse ela quem disparou o tiro, isso
não digo. Mas ao trocá-lo pelo Jorge Ramiro, tornou-o algo irritante. Praticamente
não tinha amigos. Só nós éramos amigos dele – olhou comovidamente para a
máscara azul que Alberto Pereira usava quando tora atingido. – E pensar que
usei esta máscara ainda ontem… – Essa não era
a dele? – Não. As
máscaras eram usadas indiferentemente. Era como calhava. Depois ouvi o
depoimento de Jorge Ramiro. – Estava a ver
o espectáculo, estava – declarou – estava sentado na última fila ao lado de
Maria. Para dizer a verdade não gostava nada de Alberto Pereira. Mas como
tenho agora a Maria ao meu lado, casei-me com ela e nunca me daria ao
trabalho de matá-lo. Se ele vivesse, sofreria mais – terminou esboçando um
sorriso. Maria Ramiro,
a mulher disputada, disse-me no seu depoimento: – Se suspeita
do Jorge, está enganado. Se algum deles matasse o outro, seria o Alberto a
matar o Jorge. Nós até julgámos que aquela cena fosse uma inovação do espectáculo… – Lamenta o
que aconteceu? – Até certo
ponto… Depois foi a
vez de Roberto Barata. – Não, não
gostava dele, mas não o mataria. Eu gostava de vencê-lo de outra forma. Sabe,
a dançar. Até lamento o que hoje vi. Mas não muito… – Em que fila
estava? – Na segunda,
salvo erro. Para terminar
falei com o sobrinho. –
Encontrava-me no espectáculo, sim. Na terceira fila – afirmou Manuel Pereira.
– Tinha vindo pedir-lhe dinheiro. Ando um bocado apertado. Mas tudo acabou
pelo melhor… Nunca mais me vai faltar dinheiro. Isto é, nos tempos mais próximos
– dito isto sorriu e levou o charuto aos lábios. Caminhava
agora na arena deserta, o palco do sombrio espectáculo que se desenrolara
naquela noite, ali debaixo dos meus olhos. Seria difícil
provar quem era o culpado, mas eu sabia quem fora. Baixei a cabeça e lamentei
a perda que a Arte sofrera nesse dia. 1 – Quem matou
Alberto Pereira? 2 – Explique a
razão da sua resposta.
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© DANIEL FALCÃO |
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