Autor

Tetraedro

 

Data

15 de Novembro de 1984

 

Secção

Mistério... Policiário [433]

 

Competição

Torneio Do S. Pedro ao Natal - 84

Problema nº 4

 

Publicação

Mundo de Aventuras [539]

 

 

TAMBÉM SE MORRE AO SÁBADO

Tetraedro

 

Sábado, 7.30 horas da tarde.

O conhecido actor Alberto Mendes acabara de falecer no Hospital Municipal, após ter sido alvejado, 20 minutos antes, em frente ao Teatro Municipal. Todos os esforços para salvar a vida do célebre actor foram em vão e os médicos não puderam fazer mais nada de que assistir à morte provocada por violentas hemorragias internas. A bala assassina fora encontrada e pertencera, muito provavelmente a uma espingarda de grande precisão.

Despedi-me do médico que me entregara a bala e atravessei um oceano de jornalistas e repórteres da rádio e TV que bebiam avidamente as notícias que lhes eram fornecidas.

Fui jantar a um restaurante ali perto e enchi-me de coragem para ir tentar resolver aquele caso.

 

Dirigi-me então ao local do crime, o Teatro Municipal, onde a polícia tomara conta das operações. Acerquei-me de um dos homens ali presentes:

– Então, sargento, que temos por aqui?

– Chegou finalmente, inspector fontes. Chegámos à conclusão, após termos falado com diversas testemunhas, que o tiro deve ter sido disparado do hotel em frente, «Hotel do Teatro», muito provavelmente do 3º andar.

No «Hotel do Teatro», local a que me desloquei seguidamente, fui informado que no momento apenas 3 quartos do 3º andar, com vista para o teatro, estavam ocupados: o 305, o 311 e o 315.

Olhei para o relógio: 8.35.

 

O quarto 305 era ocupado por um homem de cerca de 30 anos que nos abriu a porta com os olhos sonolentos, a barba por fazer, um pijama amarrotado.

– Que querem?

– Polícia. Não sabe que Alberto Mendes foi alvejado a tiro cerca das 7 horas?

– Não, não sabia. Onde?

– Aqui em frente e suspeitamos que o tiro partiu do hotel. Sabe de algo que se possa considerar suspeito?

– Não. Estou a dormir desde as 6.00 pois vou ter uma reunião às 9.30, que se deverá prolongar pela noite fora. Estou nesta cidade a tratar de uns negócios.

– Posso entrar e dar uma vista a olhos?

– O quê? Suspeita de mim? – exclamou o ocupante do 305, subindo peia primeira vez a voz. Depois acalmou-se e deixou-me entrar. As persianas estavam meio corridas e a luz difundia-se suavemente pelo quarto. A cama estava enrodilhada. Havia uma mala de viagem aberta no chão, a roupa repousava sobre uma cadeira.

– Onde vai ser o local da reunião? – perguntei.

– É do outro lado da cidade… – disse, bocejando em seguida.

 

A porta do quarto 311 foi-me aberta por um outro homem, este possuidor de uma espessa barba e aparentando os seus 40 anos. De dentro do quarto vinha o som sempre alegre dar televisão, mais precisamente a voz de uma locutora que, certamente, se abria em sorrisos…

Olhei para o relógio, eram 8.55.

– Que deseja? – perguntou o hóspede do 311.

– Polícia. Estou a investigar o assassinato de Alberto Mendes.

– Morreu? Quando e onde? – espantou-se o meu interlocutor.

– Hoje. Foi alvejado a tiro às 7.10, aqui em frente.

– Lamento que não o possa ajudar, não sei de nada. Desde as 6.00 que estou sentado naquela cadeira a ver televisão. Só me levantei para lhe vir abrir a porta. Mas entre.

Entrámos. Encostada a uma parede, encontrava se uma cadeira bastante confortável aos pés da qual se encontrava uma manta. Na parede oposta estava a televisão que apresentava agora alguns animados anúncios. Um jornal espraiava-se sobre a cama.

– Que programas é que deram hoje?

– Estou a ver que desconfia de mim. Mas seja… Desde as 6.00 tem dado no primeiro canal uma série filmada, um programa de variedades e o telejornal que acabou há pouco tempo. Não sei o que vem a seguir.

 

Bati à porta do quarto 315. Olhei para o relógio, eram 9.10. A porta foi-me aberta por outro homem. Era um homem de uns 70 anos e usava óculos. Vestia um rompão largo.

– Boa-noite – comecei eu – sou da polícia e gostava de lhe fazer umas perguntas.

– Não fui eu que matei, se é o que julga – respondeu apressadamente o velhote.

– Como?

– Não fui eu que matei o actor. Pode mandar revistar o meu quarto.

– Calma. Se não se importa, gostava de dar uma vista de olhos.

O quarto estava arrumado. Um livro sobre a cómoda apresentava um título sugestivo: Tratado de Quiromancia. Uns chinelos debaixo da cama d fizeram-me notar que o velhote estava descalço. A janela estava aberta e entrava uma brisa fria pelo quarto dentro.

– Já jantou?

– Já. Fui jantar às 8.40 no restaurante junto ao teatro, mal comi e voltei há 15 minutos, aborrecido com esta porca vida.

Olhei uma vez mais para o relógio: os ponteiros marcavam 9.20.

 

– Então, inspector Fontes, descobriu algo? – perguntou-me o sargento.

– Sim. Mande fazer uma busca ao quarto 3…

 

Meia hora depois o sargento voltou com uma espingarda de precisão nas mãos.

– Tinha razão, Inspector!

Sorri. Meti-me no carro e voltei pare casa e para os braços da minha mulher. Quando ela me abriu a porta eram 10.20. Um sorriso trocado entre ambos, fez-me esquecer o mundo lá fora…

 

1 – Em que quarto se encontrava a espingarda?

2 – Explique a sua conclusão.

 

SOLUÇÃO (não publicada)

© DANIEL FALCÃO