Autor Data 10 de Fevereiro de 2013 Secção Policiário [1123] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2013 Prova nº 1 (Parte I) Publicação Público |
O MISTÉRIO DA CARTEIRA DESAPARECIDA Tryit O
João acabara de chegar ao café e não vinha muito satisfeito. Esteve a ver um
jogo de futebol no estádio da terra e aquilo não correu nada bem, ao que
contou. –
Logo no princípio os de lá de cima marcaram um golo, depois de um falhanço do
nosso guarda-redes. Então não é que o rapaz em vez de defender a bola que até
vinha na sua direção, resolveu baixar-se? Já viram o filme? A bola direita ao
gajo e ele, cheio de medo, desviou-se! E depois a
porcaria da chuva, que não parou um segundo que fosse e eu que me esqueci do
guarda-chuva em casa… –
Mas conta lá o que aconteceu. Perderam por quantos? –
Ora, perdemos por 2-0 e o segundo golo também foi um grande frango. Assim não
vamos lá! Mas as minhas desgraças não acabaram, porque quando fui para casa,
vi que me esqueci da chave no bolso do outro casaco e como a minha mulher foi
fazer uma visita à mãe, fiquei fora de casa. Já é galo! –
Olha, olha, dois frangos e mais um galo… Mas tiveste a sorte de nos apanhar
aqui, pá! Vamos beber um copo e esquecer essas chatices… Zé,
manda aí uma rodada para a malta… Escassos
minutos depois, já havia algazarra, enquanto se alinhavam para lançar os
dardos contra um alvo estrategicamente colocado num canto pouco frequentado,
não fosse a pontaria mais etilizada provocar alguma desgraça. Um
a um, todos despiram os casacos e empilharam-nos em cima de uma mesa de
bilhar desativada por problemas no pano. Durante
muito tempo durou o campeonato de dardos, ora com vitória de uns ora de
outros, entremeadas por rodadas que eram ruidosamente saudadas. Quando
finalmente chegou a hora da debandada, cada qual para sua casa, na hora das
contas, o João pegou no casaco e gritou que lhe faltava a carteira: –
Estava aqui, no bolso interior, tenho a certeza! –
Vejam no chão, pode ter caído… Espera aí, o meu casaco estava por baixo do
teu e não me falta nada. O do Álvaro estava por cima… Álvaro, falta-te alguma coisa? –
Não, está aqui a carteira, tenho tudo… –
Bolas, se não falta nada ao Álvaro nem a mim, foi muita pontaria terem
roubado a tua carteira… Não estás a ver se não pagas? –
Duvidas de mim? Tenho a certeza que tinha a carteira
quando atirei o casaco para o monte, tenho a certeza absoluta! Vim do futebol
para aqui, diretamente, não fiz paragens nem nada. E no campo fui beber uma
cerveja com o Tropas e paguei eu… Tropas? Ó Tropas!... –
Que é, pá? –
Lembras-te do copo que bebemos no campo de futebol? Quem pagou? –
Foste tu, João, pagaste e vieste embora. Eu ainda lá fiquei mais um bocado… –
Viram? Eu tinha a carteira, paguei e agora desapareceu. Alguém a tem e se é
brincadeira, isto acaba com um pero nas fuças, entendem? –
Espera aí, pá, dá cá o casaco, se calhar meteste noutro bolso ou tens o forro
descosido e caiu, sei lá, dá cá o casaco… Mas
não era o caso. O casaco era relativamente novo, muito bem cuidado e tratado,
não tinha buracos no forro, nem nos bolsos e, de facto, em nenhum deles havia
rasto da carteira. –
Estão a ver? Estão a ver? Se alguém tem a carteira, passem-na para cá, se não
têm, paguem lá as bebidas que eu depois pago a minha parte, mas tenho de me
ir embora procurar a carteira, vou fazer o caminho ao contrário… –
Alto aí, João! És muito boa pessoa, mas há nesta história algumas coisas que
não estão muito bem… Conta lá tudo outra vez, muito calmamente… –
Lá vem este com as manias de que é um detetive. Andas a ler o PÚBLICO ao
domingo, não é? Só pode… Que
coisas achou o amigo do João que não estavam lá muito bem? De que estava ele
a desconfiar e que indícios lhe despertaram as dúvidas? |
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© DANIEL FALCÃO |
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