Autor Data 16 de Setembro de 2012 Secção Policiário [1102] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2012 Prova nº 6 (Parte I) Publicação Público |
Solução de: FALSÁRIOS INCOMPETENTES Verbatim As
notas de vinte euros apreendidas pela polícia apresentavam uma numeração
constituída por uma letra seguida de onze algarismos, tal como as notas que
nos passam pelas mãos. As letras dos quatro grupos referidos – M, U, V e X –
também são correntes entre nós, em particular a M. Verificamos,
ainda, que se obtêm sequências numéricas se retiramos o último algarismo aos
números das notas, tal como acontece com os conjuntos de notas novinhas que
recebemos no banco, cuja ordenação numérica só descortinamos depois de
desprezar o último dígito. Esse
décimo primeiro algarismo é um elemento de controlo. Se o leitor conferir
umas tantas notas de euros, verificará que, tirando a prova dos noves aos
números iniciados pelas letras M e V, obtém sempre 4 como resto. Já o mesmo
não acontece quando a letra inicial é diferente daquelas duas, como é o caso
de U e X. Mas se atribuirmos às letras M e V o valor 5, a U o valor 4 e a X o
valor 7, concluiremos que a prova dos noves dos números de doze algarismos
daí resultantes dá sempre zero. É
desse modo que está concebido o sistema de validação dos números das notas de
euros: cada letra, que identifica o país emissor, tem um valor de 1 a 9 e o
resultado da prova dos noves do número de doze algarismos (onze mais o dígito
do valor da letra) é sempre zero. Assim, o último algarismo, o de controlo,
assume o valor necessário para que o resultado da prova dos noves seja nulo. (Algumas
correspondências: Portugal M – 5, Espanha V – 5, França U – 4, Alemanha X –
7, Áustria N – 6, Itália S – 2, Grécia Y – 8, Bélgica Z – 9, Irlanda T – 3). Ora
bem, qual foi o erro dos nossos falsários? Talvez por se terem concentrado
sobre notas emitidas em Portugal (M com o valor 5) e em Espanha (V também com
o valor 5), terão concluído que os números de onze algarismos de qualquer
nota de euros deveria apresentar 4 como resto da prova dos noves, tendo
acabado por aplicar esse princípio, erradamente, a notas começadas por outras
letras, no caso presente U da França e X da Alemanha. E
quem estaria metido na tramóia
da distribuição do material falsificado? Mestre Ernesto, de certeza, porque: –
Mentiu sobre a origem do dinheiro, ao afirmar que o tinha levantado no banco,
onde, como sabemos, nunca lhe entregariam maços de notas novas com a
numeração errada; –
Entrou em contradição sobre a data dos movimentos de valores. Com efeito, os
levantamentos de todo o dinheiro, que disse ter efectuado
na semana anterior, não conferem com o incidente relatado por Tino Maluco,
ocorrido dois meses atrás, o qual leva a crer que, nessa altura, as caixas já
andariam a transportar numerário; –
Mostrou ter uma história demasiado bem preparada para contar no caso de ser
apanhado com alguma quantidade inusitada de dinheiro. Para lhe conferir maior
crédito, até a entremeou com uma alusão à sua semi-clandestinidade,
como se fosse o seu único desvio à legalidade; –
Finalmente, com uma história tão boa para explicar a origem do dinheiro, não
foi capaz de apresentar a melhor de todas as comprovações, ou seja, a
indicação precisa das entidades bancárias onde fizera os levantamentos. Arsénio
Mendes, o dono da vivenda e do armazém anexo, também não pode ficar de fora
dos suspeitos da tramóia,
pois terá despedido o miúdo só por ter pegado numa caixa do Mestre, o que não
é lógico, a menos que se admita que ele terá sentido o perigo do rapaz querer
ir ver o que as caixas continham. No
caso deste desafio, tendo-se em conta que os números de identificação dos
mais diversos artigos costumam incluir dígitos de controlo, chegar-se-ia a
informação pertinente pesquisando na internet com as palavras “notas euro
dígito controlo”. Claro que é necessário ser crítico e fazer contraprova do
que aparece, porque circula muita informação errada. Também
há livros em que esta matéria é tratada, como o interessantíssimo Da Falsificação dos Euros aos Pequenos
Mundos de Jorge Buescu (Gradiva). Na primeira
edição desta obra vem a indicação de que o número das notas de vinte euros
emitidas em Portugal começa sempre por um 3, a seguir ao M. Isso já não é
assim. Numa amostragem, feita em 2011, verifiquei que começavam por 8 todos
os números das notas de vinte euros precedidos da letra M. |
© DANIEL FALCÃO |
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