Autores Virmancaroli | Insp. Moka | Rip Kirby Data 19 de Maio de 1995 Secção O Detective
- Zona A-Team [238] Competição Problema nº 4 | Convívio do Barreiro Publicação Jornal de Almada |
O INTRUSO ARMADO Virmancaroli, Insp. Moka e Rip Kirby Aquela
manhã de 12 de Fevereiro de 1995 estava calma e sem nuvens na Barroca D’alva, uma herdade situada entre Montijo e Alcochete. Às
10h15 Glória Santana, de 39 anos de idade, falava ao telefone com a sua amiga
Deolinda Cacheira, de 60 anos de idade. Glória havia-se mudado para aquela
casa fazia dois anos, logo após ter-se separado do marido. A amizade de
Deolinda significava muito para ela. De
repente, Glória reparou que o vidro da porta fora partido e apercebeu-se da
presença de alguém. –
Está alguém cá em casa! – murmurou ela ao telefone. A
ligação foi subitamente interrompida. Rapidamente, Deolinda discou o número
da sua amiga, mas ouviu o sinal de “linha ocupada”. Nesse momento chegava a
casa o marido de Deolinda Cacheira, José António de sua graça e com 66 anos
de idade. Agricultor reformado, seco de carnes e aparentemente tímido, José
António tinha um fundo enérgico e era de natureza muito prestável. Acabava
precisamente de auxiliar um vizinho seu a reparar a charrua e – coincidência
– prometera ir nesse mesmo dia “à da Glória” para lhe arranjar a bomba de
água. Assustada,
Deolinda falou-lhe da conversa interrompida. –
De certeza que não sucedeu nada, mas vou já por lá para me certificar – disse
José António. Contudo,
no trajecto para casa de Glória, José António foi
pensando com os seus botões que poderia haver mesmo problema e que, dada a
demora previsível de uma intervenção policial (Montijo ou Alcochete ficam
ainda distantes), teria de ser ele a enfrentar qualquer anormalidade que se
lhe deparasse. A sua estatura meã (cerca de 1,62m) não o atemorizava em nada.
Entretanto,
assim que Glória tinha precipitadamente pousado o telefone, o intruso entrou
pela porta da cozinha e apontou-lhe uma espingarda. Tresandava a álcool. –
Senta-te – ordenou, arrancando-lhe o telefone da parede – Se alguém passar
por aquela porta, mato-te! Glória
deixou-se cair na cadeira da cozinha, pensando «É agora! É agora que me vai
matar!». O
mascarado andava nervosamente de um lado para o outro. –
Descansa que não venho cá pelo teu ouro! Mas ao anoitecer estaremos mas é
ambos mortos! – anunciou ele, troçando do seu medo. Ora
Glória pesava oitenta e poucos quilos e tinha 1,85m de altura, o que lhe
daria algumas hipóteses num puro confronto físico com o intruso, um pouco
mais baixo e menos robusto. Mas o facto deste estar
armado não lhe dava grandes hipóteses, pelo que – tentando controlar o medo
que a invadia – começou a ponderar a forma que teria de fugir dali. Lembrou-se
então da prometida visita de José António, que chegaria certamente de um
momento para o outro e que, a menos que o pudesse avisar, seria morto também!
PAM! A chama irrompeu do cano da espingarda caçadeira quando o intruso puxou
o gatilho. Um projéctil perfurou o ombro de Glória
que, ignorando a dor, lutou quanto podia para se manter lúcida. Com
a chegada inesperada do José António, o intruso escapuliu-se pelas traseiras
em direcção ao caminho de areia, entre herdades,
deixando porém algumas pegadas bem visíveis. Glória, socorrida no hospital do
Montijo, ficou fora de perigo. Após
algumas investigações, levadas a cabo pelas autoridades, foram sujeitos a
interrogatório três suspeitos, dois deles vistos por aquela área no dia do
ocorrido. O
primeiro suspeito era exactamente o ex-marido de
Glória Santana, Marco Silva, residente no Pinhal Novo. Com 37 anos de idade e
1,73 metros de altura, Marco Silva trabalhava numa fábrica no Alto
Estanqueiro. Afirmou que estivera alguns dias atrás por aquelas bandas, mas
andava à caça e lembrava-se mesmo de ter caçado dois coelhos. No dia 12
dormira até depois do meio-dia e nada mais tinha a declarar. O
segundo suspeito, Jorge Pinto, residia em Rio-Frio. Tinha 1,66 m de altura e
pesava cerca de 68 quilos. Trabalhava nas malhadas de Rio-Frio e no dia do
ocorrido fora ali pescar às valas… O
terceiro e último suspeito, Nataniel Gocha, “O Lingrinhas”, morava no
Samouco, tinha 1,65 m de altura, mas apenas 51 quilos de peso. Naquele dia
fora ao local no seu “Diane” a cair de velho
procurar um cachorro “pointer” que lhe fugira e que
alguém lhe disse ter sido visto a vaguear por ali. No “Diane”
foram encontrados dois cartuchos de chumbo miúdo, que Nataniel justificou por
ter “andado aos pombos”, na semana anterior. Poucos
elementos foram disponibilizados nestas primeiras declarações. Contudo, uma
outra informação à disposição dos investigadores consistia no comprimento das
pegadas deixadas pelo intruso mascarado, que era de aproximadamente 255 mm. Os
três suspeitos foram mandados, para já, em liberdade. Algo porém se começava
a definir num determinado sentido, e pergunta-se
ao Leitor o que poderia concluir, com base no que de mais relevante possa ter
encontrado. |
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© DANIEL FALCÃO |
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