Autor

Virmancaroli

 

Data

2 de Março de 1990

 

Secção

O Detective - Zona A-Team [92]

 

Competição

Torneio Sintimex

Problema nº 3-A

 

Publicação

Jornal de Almada

 

 

O FANTASMA NOCTURNO

Virmancaroli

 

Numa noite de domingo para segunda-feira houve certa agitação no hotel Montiagri.

Por volta das duas horas da madrugada a baronesa de Alcochete foi despertada por um ruído singular, ruído que, depois de observação mais atenta se revelou como sendo feito por um vulto masculino envergando uma ampla camisa de dormir branca.

O fantasma nocturno saía então pela janela da suite da baronesa.

Depois de um instante de terror, a aristocrática dama recordou-se das suas cordas vocais e utilizou-as com tal intensidade que às duas horas e oito minutos não devia haver uma única pessoa a dormir em todo o hotel Montragri.

Às duas e 15 minutos já a baronesa sabia que o fantasma nocturno lhe levara não só o dinheiro como todas as jóias.

Às três horas chegou o eficiente comissário Virgílio, que iniciou as investigações.

Ao bater das quatro apurava-se o seguinte:

Que, em presença dos factos:

a) – o ladrão utilizara a janela como porta;

b) – apenas sobre três dos hóspedes do hotel recaíam as suspeitas.

E isto com base na estrutura do edifício.

O comissário Virgílio, acompanhado do seu assistente Oliveira, visitou os três suspeitos, um após outro.

Enquanto Virgílio fazia os interrogatórios, Oliveira, muito calado no seu canto, estenografava tudo o que se dizia. Havia anos que os dois usavam este processo com o maior sucesso! Eram sobretudo as muitas perguntas de importância secundária que irritavam sempre os interpelados. Ao fim de uma hora estava tudo terminado.

Virgílio e Oliveira sentaram-se no gabinete do director, e o comissário voltou-se para o assistente, dizendo:

– Vamos a isto!

Oliveira pegou no bloco e começou:

– Falei primeiro com o Brázio, o jogador de golfe. Disse que tinha ouvido a baronesa gritar. Não lhe acudiu, segundo declarou, por ter os seus próprios problemas a resolver. Conhece a baronesa. Não olhou pela janela. Diz ter vertigens. Duvida de que as declarações da baronesa sejam verdadeiras. Tomou banho nessa noite, já tarde. Fuma, é apreciador de whisky.

Oliveira virou a folha e disse:

– Agora o senhor Matos, do Barreiro.

O comissário acenou a cabeça.

– Sim, o dos comprimidos para dormir.

Oliveira prosseguiu:

– Matos apareceu à porta de pijama vermelho, às riscas. À primeira pergunta – se tinha notado qualquer coisa estranha durante a noite – respondeu assim: tomei um comprimido para dormir, pelas onze horas, e dormi até agora. Não ouvi ninguém gritar. Podem-me revistar o quarto. E, quando o senhor comissário lhe perguntou se conhecia a baronesa, a sua resposta foi «Não». Matos trabalha no ramo de exportações e importações. É solteiro e foi corredor de motos.

O assistente Oliveira virou mais uma folha do bloco.

– O terceiro da lista chama-se António Ramos, comerciante de géneros alimentícios. Insultou-nos e disse que só servíamos para perturbar o sossego. Disse também que a baronesa só usava jóias falsas. Segundo declarou, ouviu os gritos dela numa semi-sonolência. Primeiro julgou que estava a sonhar, mas depois foi à janela e olhou para fora, mas não viu nada. Disse ainda que não tinha camisa de dormir.

Neste momento bateram à porta e outro agente entrou no gabinete.

– Já revistámos os três quartos, senhor comissário. Não encontrámos nem jóias nem a camisa de noite.

– Como era de esperar! – observou o comissário. – O ladrão embrulhou as jóias na camisa de dormir e atirou-as para baixo, para um cúmplice. Vamos lá então prender o ladrão! – Acompanham-me?

 

Pergunta-se:

1) – Quem iria o comissário prender?

2) – Porquê? Diga tudo o que se oferecer dizer sobre o caso em questão.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO