Autor

Virmancaroli

 

Data

14 de Agosto de 1992

 

Secção

O Detective - Zona A-Team [160]

 

Publicação

Jornal de Almada

 

 

UMA REUNIÃO DE LUXO

Virmancaroli

 

Com excepção de uma das pessoas sentadas à mesa, ninguém suspeitava de que aquela noite iria acabar de forma tão singular.

Essas pessoas eram Maria Leopoldina – a dona da casa, conhecida repórter de uma revista de modas – e os seus convidados: A cantora Maria Domingas. os dois actores António Mendes e Inácio Figueira e ainda o professor de dança, João Teles.

Enfim, um grupo de gente ilustre.

Depois de um requintado jantar, que a própria dona da casa confeccionara, tinha-se bebido café e alguns cálices de vinho do porto. A disposição era excelente. Então no momento em que os ponteiros do velho relógio de caixa alta marcavam as 23 horas, Maria Leopoldina ergueu-se, anunciando:

– E agora tenho uma surpresa para vocês: vou buscar duas garrafas de autêntico champanhe francês, que é tão bom e tão caro que já estou arrependida de não o ter bebido sózinha.

– A este alegre prelúdio seguiram-se animados vivas.

– E, quando ela perguntou: «Quem me acompanha à cave?», António Mendes homem baixo e robusto, que sofria com o facto de existirem poucos papéis para autores baixos, levantou-se de um salto e exclamou: – Eu! Eu, que, por um lado, sou uma bela companhia e, por outro, adoro caves onde haja bom champanhe francês.

A senhora Leopoldina voltou-se então para a cantora:

– Entretanto, tu tiras as taças do guarda-louças. E tu, Teles, limpas os cinzeiros. Ao mesmo tempo o nosso querido Inácio abre as janelas para arejar a sala, sim? – rematou.

Quando Maria Leopoldina e António Mendes voltaram com as garrafas, já todos os seus desejos tinham sido satisfeitos.

– Eu fui sempre o membro da minha família com mais jeito para abrir garrafas! – exclamou Inácio Figueira, precipitando-se para as garrafas de champanhe cobertas de pó.

Um minuto depois, cintilava nas taças a deliciosa, a preciosa bebida.

Ao fim de um quarto de hora, António Mendes sugeriu:

– Estava a apetecer-me dar um pé-de-dança. Que dizem vocês a isso?

Todos concordaram e Maria Leopoldina ligou o gira-discos.

Enquanto António Mendes puxava a cantora para o lado da sala onde as cadeiras já tinham sido afastadas e Inácio Figueira e a dona da casa dançavam enlaçados, João Teles não tinha mãos a medir, enchendo as taças que se iam esvaziando. Mas em breve foi rendido nas funções, pois a falta de damas obrigava sempre um cavalheiro a ficar sentado.

E assim se chegou às 23 horas e 40 minutos.

Foi nessa altura que Domingas se sentou num maple, lançou um olhar vago em redor e a cabeça descaíu-lhe para o lado. Numa palavra: A cantora adormecera.

A «tragédia» começara então.

Três minutos depois já António Mendes abanava a cabeça, bocejando e resmungando numa voz arrastada:

– A Domingas contagiou-me... nunca me aconteceu uma coisa assim. Tenho de dizer à Domingas que…

O que ele pretendia dizer à Domingos afundou-se num murmúrio ininteligível e, cambaleando, António Mendes escorregou para um canto do sofá…

Faltavam 10 minutos para a meia-noite quando o último conviva caiu, derreado.

Com os olhos vidrados, Inácio Figueira enfiou-se entre António Mendes e Maria Leopoldina.

No cinzeiro ardiam dois cigarros. E cinco pessoas dormiam um sono profundo…

Cinco pessoas? Não… Apenas quatro.

Nesse momento a quinta pessoa levantou-se cautelosamente. Com um sorriso irónico no canto da boca, certificou-se de que os outros dormiam e começou rapidamente a despojá-los de dinheiro e jóias, indo de imediato à rua o voltando.

Quando, ao longe, um relógio deu a meia-noite, o trabalhinho chegava ao fim.

O malfeitor ausentou-se da sala durante 10 minutos. Ao regressar bebeu deliciado uma taça de champanhe, sentou-se no seu lugar e entregou-se ao efeito do soporífero que deitara nas bebidas.

Seis horas e 15 minutos.

Em todo o sou explendor, o sol da manhã entrava pela janela da sala.

João Teles, agarrou nas bandas do casaco do António Mendes e abanou-o, gritando várias vezes:

– Acorda, Mendes… Acorda! Aconteceu uma coisa estranha? Acorda. Mendes!

De pálpebras pesadas, António Mendes pestanejou e abriu os olhos. Ao mesmo tempo levou a mão ao bolso do colete e gritou, horrorizado:

– Desapareceu-me o meu relógio de ouro.

– Teles fez um movimento com a cabeça.

– O meu também. Assim como o meu anel de brilhantes e o relógio de pulso! Vá temos de acordar os outros.

Foi um despertar desagradável para os outros três. Enquanto as duas senhoras davam por falta de todas as suas jóias, Inácio Figueira anunciava o desaparecimento do seu dinheiro e de uma cigarreira de ouro. Pouco faltou para que Maria perdesse os sentidos…

Pelo contrário, Maria Leopoldina. A infeliz dona da casa, foi a primeira a pronunciar uma frase sensata:

– Deixem-se ficar sossegados nos vossos lugares. Não toquem em nada. Eu vou chamar a Polícia.

– A Polícia? – repetiu Domingas, espantada. – Queres levantar escândalo?

– É a melhor coisa a fazer, Domingas – disse António Mendes, em apoio de Maria Leopoldina.

E outros acenaram com a cabeça concordando com ele.

– Então chama. Cá por mim…

Bem, não é necessário esperarmos pela Polícia. Já sabemos quem foi o autor do roubo, não é verdade?

Faça o seu relatório e apresenta os factos.

 

PERGUNTAMOS:

1) – Quem foi o autor do roubo?

2) – Porquê? Justifique os pormenores da sua culpabilidade.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO