Autor

Vítor Hugo

 

Data(s)

3 de Outubro de 1957 e

14 de Novembro de 1957

 

Secção

Quem Foi?

 

Competição

Torneio Vítor Hugo

 

Publicação

Mundo de Aventuras [424 e 430]

 

 

O MISTÉRIO DA CARTA QUEIMADA

Vítor Hugo

Dedicado a Detective Sem Nome

 

Chovia copiosamente e o vento fustigava com impetuosidade os ramos nus das pobres árvores indefesas. As últimas folhas caiam desesperadas em voos caprichosos, sendo arrastadas no turbilhão das águas, para longe.

Nas ruas não se via viv’alma e o raro transeunte fugia apressadamente à inclemência do tempo.

Um vulto, indiferente à chuva e ao vento, procurava saltar o muro de uma vivenda, usando de todos os artifícios para não provocar ruídos. Perto, um cão ladrou e as cortinas de uma das janelas foram pressurosamente afastadas, mostrando o rosto congestionado de um homem já idoso, que procurava devassar a escuridão. Mas o vulto quando sentira o cão ladrar, agachara-se rapidamente atrás dum tufo de flores, confundindo-se com o negrume da noite.

As cortinas voltaram a cobrir a luz do escritório, mas lá dentro o homem voltava a fumar cigarro após cigarro, olhando insistentemente o relógio da sala. Sentava-se à secretária e procurava ler um jornal, uma revista, mas a sua atenção era sempre atraída para uma carta…

De repente, abriu-se uma porta…

O homem levantou-se rapidamente e inquiriu com voz angustiada:

– «Quem está aí? És tu?...»

Ao ver o vulto que avançava ameaçador, a sua expressão transformou-se num esgar de pânico…

– «Tu! Isso não, não faças, eu…»

Um facho de fogo não o deixou continuar e tombou pesadamente sobre a fofa carpete do escritório.

– «Aí tens o que merecias, ladrão». – E o intruso, agarrando na carta, lançou-a ao fogo que crepitava no fogão. Depois fugiu apressadamente, procurando não deixar indícios acusadores.

A noite cobriu os seus passos e abafou o seu vulto.

 

O inspector Mário Neto, praguejando ainda da sua pouca sorte, limpou os sapatos molhados e seguiu o criado, que4 viera abrir a porta. No escritório jazia o corpo do dono da casa: o sangue deixara de correr, mas a sua expressão causava mal-estar, mesmo a profissionais. 

O médico legista tomou conta do corpo, enquanto os fotógrafos procuravam focar todos os ângulos da sala. A máquina policial começara a trabalhar: não foram encontradas impressões digitais estranhas, pois do dono da casa e do seu criado, havia-as naturalmente, em grande número; descobriu-se uma janela aberta, com sinais evidentes de ter sido forçada e a confirmá-lo havia uma série de manchas – água e lama – que se estendiam pelo corredor até à sala da tragédia. A própria carpete apresentava sinais evidentes da passagem de uns pés enlameados, mas fora impossível à polícia lançar alguma luz sobre esta descoberta.

Na lareira, encontraram o fragmento duma carta que veio determinar o móbil do delito: vingança.

Apenas foi possível à polícia, reconstituir os seguintes passos:

«…Trabalhei muito e não consegui nada se não o conhecimento da ingratidão e incapaci… Não sei por que razão esperav… me pudesse esquecer de… cá urgentemente se não terei de ir aí e já sab… que pode acontecer…»

As restantes frases eram ilegíveis. O papel era vulgar, bem como a tinta bazul.

Mais um enigma para resolver, mais um quebra-cabeças, daqueles que apaixonaram a opinião pública e que põem em “xeque” a polícia.

Na quietude do seu gabinete, o inspector descrevia ao seu jovem amigo, o advogado Jorge de Melo, o andamento das investigações deste caso tão bicudo.  

– «Que me diz, Jorge?» – inquiriu o inspector.

– «Parece ser daqueles casos de que nós gostamos. Pena foi que o fogo não tivesse poupado um pouco mais a carta, assim… deixe-me ver os depoimentos dos suspeitos.»

 

Depoimento do criado:

Não estava em casa quando se dera o acidente, pois era dia de folga e fora, como habitualmente, à cidade. Regressara por volta das 11 horas e chamara imediatamente a polícia. Não tinha quem confirmasse os seus passos, pois vagueara.

Depoimento do irmão da vítima:

Não visitava o irmão há muito tempo. «Era um tipo sem escrúpulos e tinha muitos inimigos». Fora o causador da sua desdita, mas não era razão para o matar. Deitara-se cedo por causa de pertinaz constipação.

Depoimento do professor que fora visita da casa:

Fez-se justiça. Tipos destes não merecem outro fim. Arruinara-o, desonrara-lhe o nome, tinha bastas razões para fazer justiça por suas mãos. Não o fizera! Não saíra de casa, pois precisava de ver uns pontos dos seus alunos.

 

Desafia-se a argúcia dos «sherlocks»:

1) Quem foi o culpado?

2) Porquê?

 

Uma N. da R. publicada no n.º 430 (14.11.1957), dava conta de que este problema fora publicado incompleto,

pois faltava-lhe o texto, a partir do depoimento do irmão da vítima…

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO