Autor Data(s) 3 de Abril de 1959 Secção (várias) Competição III Torneio Nacional de Problemística
Policiária Fase Final – 1º Problema Publicação Flama [578] |
O CASO DO ANTIQUÁRIO Vítor Hugo Foi
o primeiro dia da Primavera. Respirava-se um ar novo, vivificado; um cheiro a
seiva impregnava os campos e jardins. O
movimento começara nas ruas, os cafés tinham aberto as suas portas, nas lojas
viam-se os artigos em exposição. Mas, naquela travessa alguma coisa não estava
bem… A loja do antiquário não estava ainda aberta. Ele que era dos primeiros
a vir cavaquear e a gozar o sol matinal… Foi
então que descobriram que a porta apenas se encontrava encostada, e que o
antiquário não veria mais os claros dias de Primavera. Os
jornais da tarde traziam já o relato do delito… «Trágica morte dum velho
antiquário…» morto com dois golpes de punhal. O corpo foi encontrado por
detrás do balcão, junto ao cofre aberto… Presume-se que o móbil do delito
tenha sido o roubo. A polícia pôs-se em campo e espera solucionar em breve
este caso. O inspector Mário Neto, encarregado das
investigações, procedeu já a alguns interrogatórios e à detenção de alguns
suspeitos e tudo nos leva a crer que o autor do delito não gozará durante
muito tempo de liberdade». –
Antes assim fosse, meu caro, antes assim fosse, mas o certo é que continuamos
como no primeiro momento, às escuras. – E o inspector
cruzava, a largas passadas, a salinha confortável do seu amigo, o jovem
advogado Jorge de Melo. –
Mas não tem nenhuma pista? – interrogou este. –
Várias, mas umas não deram nada, e outras não conseguimos ainda solucionar. A
arma do delito, o punhal, estava na loja para venda. Pendorado, qualquer o
via e qualquer o poderia tirar. –
Bem, premeditado parece não ter sido. E que mais? –
Não conseguimos ainda solucionar umas marcas que a vítima apresentava no
antebraço direito. Uma é um corte provocado sem dúvida pela lâmina do punhal,
um pouco acima do pulso; a outra é uma esfoladela um pouco acima da primeira.
Você, que gosta de charadas resolva esta se puder… –
E que disse o médico acerca dessa… dessa charada como você lhe chama? – retorquiu o advogado, sorrindo. –
Pouco ou nada. Garantiu-nos que foram simultâneas; a primeira, (não é preciso tirar um curso para chegar a essa
conclusão) foi provocada pelo punhal. A segunda, que a resolvesse-mos nós!
Encontrámos ainda no chão um bilhete do combóio eléctrico de Sintra. Um sobrinho visitara-o nesse dia, e
viera de Sintra. Não gostei da cara dele, mas anda com a mão direita ferida;
uma pancada, há dias, quando martelava um prego. O doutor Bento esteve a
examinar a ferida, em vias de cicatrização e foi de parecer que qualquer
esforço neste caso, se tivesse vibrado os golpes com o punhal, rebentaria a
crosta da ferida, deixando vestígios, que infelizmente não apresentava. É o
tipo de cínico da história. Para complicar ainda mais este caso, uma
sobrinha, que também mora em Sintra, visitou-o mais ou menos nessa altura;
quer dizer, o bilhete também podia pertencer-lhe. Mas mesmo que assim fosse,
ela é frágil de mais para poder vibrar os golpes de punhal. Está um perito
contabilista a conferir os livros do velhote e parece-me que o culpado foi
burlado, pois havia pouco dinheiro no cofre. Mas que está você a rabiscar
nesse papel? Francamente, estou eu a apresentar-lhe todos os pormenores deste
caso e você entretêm-se a fazer bonecos?... –
Está enganado, meu caro, estava até com muita atenção. Ora nós vamos saborear
um café, enquanto os nossos «Sherlocks» solucionam
este caso. –
Como? – inquiriu o inspector
– Mas você já?... –
Sim, meu caro, e verá que o caso não é tão difícil como parecia… Venha daí! Convidamos
os «Sherlocks» a apresentar os seus relatórios,
sobre este caso. A solução é sobretudo lógica e os pormenores foram todos expostos. |
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© DANIEL FALCÃO |
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