Autor

Yensid Tlaw

 

Data

15 de Maio de 1980

 

Secção

Mistério... Policiário [268]

 

Competição

Torneio “Novos" e “Iniciados” 79

Problema nº 10

 

Publicação

Mundo de Aventuras [345]

 

 

Solução de:

UMA QUESTÃO DE COR…

Yensid Tlaw

 

 

1 – O criminoso foi o segundo sobrinho: José Diniz.

2 – Podemos chegar a esta conclusão de duas maneiras distintas:

1.a – Segundo podemos ler no texto, «…o inspector Rocha, segurava o «Mundo de Aventuras» N.o 245 que (…) ostentava sobre a capa uma mancha de sangue que tudo levava a crer ter ali sido posta pelo seu dedo». O herói que, nesse número, é apresentado, e que tem uma cena da sua aventura na capa, é «Lanterna Verde». Será que isto tem algo a ver com o facto de «o morto» ter ali posto o seu sangue? Sem dúvida que tem!

Reparemos no título do policiário: «Uma Questão de Cor».

Portanto: a capa tem uma cena da aventura de «Lanterna Verde», dessa semana; sobre esta há uma mancha de sangue; o texto fala de uma «questão de cor»… Da cor de quê?... Do sangue, naturalmente.

Juntando todos estes elementos, podemos afirmar que o sangue foi ali posto com a intenção de transmitir algo a quem o visse. Podemos assim verificar que: «Lanterna Verde» + sangue (vermelho) = «Lanterna Vermelha»!

Observemos agora o que José Diniz diz no seu depoimento, acerca do seu primo Nuno Coelho: «…(Lampion Rouge), como toda a família lhe chama)…».

Peguemos no dicionário e tentemos traduzir «Lampion Rouge»: para «Lampion», no francês-português da Porto Editora, temos: LAMPION, tigelinha para iluminações; para «Rouge» temos: ROUGE, vermelho, encarnado

Numa tradução à letra poderíamos indicar «tigelinha para iluminações vermelha», como sinónimo de «Lampion Rouge».

Decerto já compreenderam onde quero chegar!

O inspector «colocou» o seu sangue na capa do «Mundo de Aventuras» com o intuito de indicar que o seu assassino fora Nuno Coelho, «Lampion Rouge» («Lanterna Vermelha»)!

Estará assim descoberto o criminoso? Não, certamente que não! E porque digo eu isto?... Porque quem pôs o sangue sobre o «Mundo de Aventuras» não foi o morto mas sim o outro sobrinho, para culpar o primo.

Ora vejamos:

Segundo o médico-legista disse, «Quando recebeu a segunda e as restantes pancadas, já estava morto».

Quando Pierre Toujour sente curiosidade em ver a cara do seu ex-colega, repara que este apresentava «uma expressão calma e despreocupada». Juntando isto à anterior afirmação do médico-legista, podemos afirmar que a primeira pancada provocou morte instantânea, pois que se assim não fosse a sua expressão seria outra, talvez de dor ou sofrimento, mas nunca «calma e despreocupada»! Assim sendo (tendo morrido instantaneamente), nunca poderia ser ele quem teria posto a mancha de sangue sobre a capa da revista. Posso ainda afirmar que o morto não viu quem o agrediu não só porque o sitio onde recebeu a pancada indica que estava de costas para o assassino, como também, porque, se o tivesse visto não ficaria com aquela expressão (botas! Sempre era seu sobrinho!).

Portanto, não foi o inspector quem colocou o sangue sobre a capa da revista. O sobrinho Nuno Coelho também não, porque não teria qualquer sentido ir-se acusar a si próprio. O vizinho muito menos, pela simples razão que não sabia a alcunha que a família dava ao Nuno Coelho (se só conhecia o seu vizinho de vista, uma vez que morava ali só há dois meses, como iria saber a alcunha que a família deste dava a um dos seus membros, e que ele nem conhecia?...). Por exclusão de partes, só nos resta o sobrinho José Diniz, que não tem nada que o ilibe, e que, pelo contrário, disse uma coisa que o acusa abertamente: porque teria tomado a iniciativa de informar as autoridades da alcunha do seu primo, se estas não lhe perguntaram nada acerca disso? É evidente que com isto pretendia chamar a atenção da Polícia para o seu primo, enquanto ele escapava impune do crime que praticara.

Esta é a primeira forma de descobrir o suspeito, passemos agora à segunda:

2.a – Podemos também acusar José Diniz de assassinar seu tio, com base em erros «técnicos», por ele cometidos, quando apresentou o seu depoimento às autoridades.

No princípio dos seus apontamentos o sargento Ferreira tinha a data desse dia: 10 de Outubro de 1978. Consultando um calendário, podemos ver que este dia é uma terça-feira. Procuremos agora uma lista telefónica e busquemos, nos restaurantes, «Restaurante O Chafariz», na Amadora. Lê-se, no anúncio do restaurante: «Encerra às terças-feiras». Pois é! O José Diniz mentiu, nunca poderia ter almoçado naquele restaurante pela simples razão de que estava fechado.

Mas, como parecendo ainda insatisfeito com a quantidade de provas que o acusavam, resolve «aldrabar» a Polícia mais uma vez… Almoçou com um muçulmano… Está no seu direito; pode almoçar com quem quiser! Mas dizer que o tal muçulmano comeu carne de porco, e, ainda por cima, ele comeu carneiro, é que me parece não esteja muito certo! A religião muçulmana proíbe os seus crentes de comer carne de porco, por a considerarem «impura» (então se, como ele diz, o muçulmano era um fanático, muito menos teria almoçado a tal costeleta de porco). A carne por eles mais utilizada é a de carneiro e a de camelo que possuem em grande quantidade e que ninguém lhes impede de comer. Sendo assim porque foi logo ele quem comeu a carne de carneiro?

Parece-me que as provas apresentadas são suficientes para afirmarmos, sem qualquer sombra de dúvida, que o assassino foi o sobrinho do inspector José Rocha, José Diniz.

© DANIEL FALCÃO