Autor Data 16 de Maio de 2017 Secção Competição Prova nº 4 Publicação Audiência GP Grande Porto |
O MEU PARAÍSO Zé S. Pedro de Moel é mesmo o
meu paraíso, o local onde respiro o meu ar, ouço o meu barulho, piso o meu
chão… Vou para lá desde que me conheço e os últimos anos dos meus pais lá
foram passados, na casa que é ainda o nosso grande refúgio familiar… Não é fácil, sem GPS, lá
chegar pois, por estranho que possa parecer, não há uma placa a indicar o
caminho. Já não pedia na A1 mas na A8 ou na A17 onde há placas a indicar
outras praias do mesmo distrito e até do mesmo concelho. E isto é
rigorosamente verdade. Para não haver enganos, vá até à Marinha Grande, a
terra onde me orgulho de ter nascido, num tempo em que havia mais de uma
dúzia de grandes fábricas em plena laboração, com milhares de operários
lidando com o vidro em fusão, queimando-se, suando em bica, encharcando-se de
litros de água; enfim, sobrevivendo. Outros pintavam ou lapidavam as belas
peças que hoje são de museu. Homens substituídos pelas máquinas, claro. Mas
ainda de lá saem milhões de unidades de vidro por dia, sobretudo de
embalagem. (A partir daqui, começa o
problema!) Da Marinha a S. Pedro (como
nós, os de lá, dizemos) são cerca de 29 quilómetros através do oficialmente
designado por Pinhal de Leiria. Para nós, será sempre o Pinhal do Rei, que o
nosso poeta Afonso Lopes Vieira cantou como a “catedral verde e sussurrante /
aonde a luz se ameiga e se esconde / e aonde, ecoando a cantar / se alonga e
se prolonga a longa voz do mar”. À chegada, somos recebidos
pelas estátuas de D. Dinis e D. Isabel que a lenda associa à plantação do
Pinhal de Leiria, apesar de se saber bem que esse pinhal já existia antes; o
casal real terá contribuído para a sua evolução. Começa a visitar uma terra
calma, que parece ter parado no tempo. Há muitas casas com largas dezenas de
anos; poucas abandonadas e em mau estado, mas a esmagadora maioria reparada
ou reconstruída, mantendo a traça original. Muito poucas construções têm mais
de dois pisos e nem as unidades hoteleiras mais de quatro… Desça até à zona da praia.
Relativamente pequena mas… linda! As rochas e as poças que se formam na
baixa-mar são a delícia da miudagem. Aí desagua o Ribeiro de S. Pedro (ou
Ribeiro de Moel), que nasce na mata, perto da Marinha Grande, atravessa o
pinhal que oferece lugares maravilhosos como a Ponte Nova. Debruçada sobre a
praia a ”casa nau” como Lopes Vieira chamava à sua casa de férias, hoje
casa-Museu. À entrada, o ex-libris do poeta “alcança quem não cansa”. Deixe os miúdos brincar no
parque do Vale (atrás da Praça), outrora leiras cultivadas e onde ainda está
o velho lavadouro… Sempre que lá estou não
resisto a ir à Praia da Vieira, onde ainda se pratica a pesca por “Arte
Xávega”. Pelo caminho, paro na Pedra do Ouro para tomar um café e comer uma
deliciosa Brisa do Lis. Regresso com aqueles fabulosos carapauzinhos
que, num arroz de tomate, até um santo fazem pecar… Claro que nem tudo é
perfeito na minha praia. O mar é, normalmente, agitado, tendencialmente frio,
perigoso e há anos em que o nevoeiro nos invade alguns dias de Verão (tudo
isto é verdade). Também pouco agradável é o
cheiro que sinto em casa, raríssimas vezes, vindo da ETAR, na zona do Farol,
estrada para a Vieira, quando o vento sopra do Sul. Medidos os prós e os
contras, há sempre quem ache S. Pedro uma maravilha e outros que a consideram
uma grande praia… para quem gosta dela. E nós amamo-la! Nada como lá ir ver o muito
mais que temos e não cabe no texto. Por agora, peço-lhe que encontre os cinco
erros grosseiros contidos no problema. |
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© DANIEL FALCÃO |
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