Autor

Zé Carioca

 

Data

28 de Setembro de 1978

 

Secção

Mistério... Policiário [185]

 

Competição

Torneio “M. Lima"

Problema nº 6

 

Publicação

Mundo de Aventuras [261]

 

 

A HERANÇA DO “LORD”…

Zé Carioca

 

Uma senhora, que morava numa velha mansão com duas empregadas, pensou em mandar abater parte das paredes das cocheiras, para aí construir quartos.

E agora recuemos, no tempo…

Em 1766, morrera ali, Lord Dickinson, cuja fortuna muitos cobiçavam, pois atingia, actualmente, muitos milhares de contos. O testamento integral do Lord jamais aparecera… Apenas apareceu na altura, utilizado por familiares, o selo e a ordem que iria autorizar o possuidor e seus descendentes a poder comparticipar na gestão e administração, com o Estado, e com esses documentos a levantar os dinheiros necessários para a manutenção e exploração. Todos os lucros, e o dinheiro depositado, seriam sempre administrados pelo Estado. E assim foram decorrendo os anos, e os séculos… Até que…

Voltemos ao presente…

Concertadas as obras com o «mestre de obras», começar-se-ia, como seria de esperar, pelas demolições do telhado e paredes interiores – visto as exteriores serem de pedra e com mais de um metro de largura – o que viera a acontecer nesse dia, depois de colocados os tubos de ferro e andaimes, pelas quatro horas da tarde…

Tiradas as telhas da ala, e iniciada a demolição da parede interior mais elevada – seriam perto das cinco horas da tarde – vai a passar no empedrado do piso das velhas cavalariças uma criada que quase ia sendo esmagada por enorme bloco de pedra que veio lá do alto de escantilhão e veio desfazer uma velha caleche ali guardada há bem dois séculos, desfazendo-lhe o banco do condutor e deixando à mostra uma pequena arca dentro daquela espécie de enorme ataúde que constituía o assento…

Chamada a D. Clara, esta veio verificar o achado e ficou verdadeiramente espantada com o seu conteúdo… Nada mais, nada menos, que uma espécie de pergaminho amarelado e quase comido pelo tempo mas onde se podia ler perfeitamente, sem quaisquer dificuldades:

«– Eu, Lord Dickinson, informo que deixo toda esta minha fortuna ao, ou aos, descendente(s) da era em que este meu testamento for encontrado e, caso não sejam conhecidos, ou já não existam, aos residentes no momento na velha mansão, quando este for encontrado e lido.

«– Mais declaro, que um outro testamento com mais pormenores, está enterrado, dentro de uma caixa, a dez passos a Este da formação natural rochosa, denominada «O Napoleão de Pedra», pela sua c com aquele «cabo de querror». Quem encontrar a caixa, receberá um décimo da fortuna».

 

Chamadas as autoridades para autenticarem o achado, veio também a secção especial da Polícia que procedeu a várias investigações, para que ela própria ficasse de posse de todos os dados. E por isso houve interrogatórios…

D. Clara: – Pouco passava das duas horas da tarde, e após o almoço, fui para o meu quarto. Ali permaneci, até que Berta, uma das criadas, me foi chamar para ir verificar uma caixa que ela tinha encontrado, semelhante a um pequeno baú, metido na espécie de ataúde que era o local onde na sege, ou lá como se chama aquele carro, se sentava o boleeiro, ou condutor, ou como lhe queiram chamar… Depois, e também para me habilitar à herança, visto já não haver herdeiros descendentes, mandei chamar as autoridades para autenticarem tudo. Nada mais sei.

Uma das criadas: – Eu não posso ajudar muito, pois quando a coisa aconteceu, eu tinha ido à drogaria.

Outra criada, a Berta: – Depois do almoço, e almoçar logo de seguida com a minha colega, fui levantar a mesa da senhora e fui lavar a louça. Foi nessa altura que um operário me chamou para avisar a senhora que ia começar a demolição das paredes. Como na família há vários «mestres de obras» e eu própria já trabalhei nisso, quando era rapariga, fui dar uma olhadela, quando a pedra cai lá de cima… Chamei a senhora e fui para o meu quarto… até que, quando as autoridades chegaram me foram ali chamar.

O operário: – Quando começo a demolir faço-o com cuidado, não vá haver qualquer desastre… Apesar disso, aquele enorme pedregulho caiu-me, foi escaqueirar o banco lá em baixo, deixando a espécie de baú à mostra… Depois desci e fui…

O inspector interrompeu-o dizendo: Não é preciso mais!... Há aqui algo que não joga… e, dá-me a impressão que o documento é forjado… E vou mais longe… Bem!... Não vou…

E não foi mesmo!...

 

Mas nós perguntamos:

1.a – Que levou o inspector, daquela secção técnica, a pensar que o documento era falso?

2.a – Quem, e qual a ideia do falsificador (ou falsificadora)?

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO