Autor Data 30 de Junho de 2006 Secção Competição Prova nº 3 Publicação O Almeirinense |
O CASO DOS QUADROS DESAPARECIDOS Zé da Vila Manhã
melancólica convida à melancolia. Não para o Inspector
Gustavo. Entra de rompante no gabinete e senta-se. Abre os braços,
espreguiçando-se, e solta uma gargalhada, diante de duas caras
suficientemente preocupadas. –
Vai ao gabinete do Director, informam-no… G.
B. levantou-se. Maquinalmente, olhou, através da janela, comentando: – Não se
deixem influenciar pelo clima… Meia
hora depois, sai do gabinete do director,
disfarçando um sorriso amarelo. No íntimo, revela-se um esboço, incomum, de
tempestade. "Um investigador do crime, geométrico, lógico, dedutivo não
pode ter muitos princípios nobres". Os sentimentos são relativos… Atende
o telefone e sai do edifício. Um carro já o espera. No interior deste, um
cavalheiro, distinto, de meia-idade, quase não o deixa
sentar: –
Perdoe, Inspector. É um procedimento estranho, mas
gostaria de obter resultados, sem escândalo. Sou administrador de um Museu de
Arte. O meu nome é Damião de Castro. Ultimamente, apoiado por meus pais,
tenho adquirido alguns quadros, mais propriamente oito telas de paisagens,
que guardava no meu escritório. Desapareceram! Ninguém poderia ter
conhecimento das telas. Só têm acesso ao escritório os restantes três membros
da Direcção; por isso, gostaria que assistisse à
reunião que vamos ter, onde levantarei a questão. Tenho a certeza de que foi
um deles. Confio no seu discernimento e discrição… G.B.
foi apresentado como um amigo, conhecedor de arte. Aberta
a reunião, Damião atacou: – Lamento informar que houve um roubo de algumas
peças de arte que guardava no meu escritório. Gastei tempo e dinheiro para
iniciar uma colecção particular… –
É bem feito, interrompeu Dora de Ataíde. Não se pode meter em negócios
particulares! David
Neves apoiou Dora: – Se tivesse reunido essas telas de paisagem para o Museu,
nada disto teria acontecido! Arnaldo
Seco defendeu-se: – Se pensa que algum de nós tem a ver com o assunto, risque
o meu nome. Desde a última reunião, há três semanas, que não venho ao Museu! Todos
queriam falar ao mesmo tempo. G. B. levantou-se: –
Sou Inspector da Judiciária e tenho suspeitas
seguras de quem tirou as telas. Aconselho o actual
possuidor a devolvê-las. Mais! Quando sair daqui, com a devolução consumada,
quero levar dois cheques de 500 euros cada, a favor da Liga Portuguesa contra
o Cancro, assinados, respectivamente, pelo meu
amigo senhor Damião e pelo suspeito. Amanhã, se informar por escrito, não
garanto nem posso controlar o dígito… Estabelecido
o acordo, pergunta-se: De
quem suspeitava o Inspector e porquê?
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© DANIEL FALCÃO |
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