Autor Data 15 de Agosto de 2006 Secção Competição Prova nº 6 Publicação O Almeirinense |
UM ENIGMA PARA GUSTAVO Zé da Vila Apesar
da força interior para aparentar jovialidade, Gustavo não podia disfarçar o
cansaço. Ele próprio duvidava podê-lo esconder por muito tempo. Se o “Rapto
do Aldinho” fora fácil de mais, já “O Punhal
Maldito Que Veio do Passado”, “A Morte do Escritor” e outros mais,
consumiram-lhe boa parte dos neurónios. Dias e noites de intensas buscas…
Assim, G.B. nem protestou à ordem que “veio de cima” para oito dias de
férias… já! Férias repartidas – comentou, num sorriso meio chistoso, para o
colega de equipa – ainda se fossem férias repetidas!!! De
qualquer modo, partiu para S. Pedro de Moel, habitual refúgio revigorante,
entre o cheiro doce dos pinheiros e o ar salgado da imensidão do mar. A “bomba
159” entrou em descanso, trocada por amigos certos, dispostos à cavaqueira,
longos passeios, a pesca que compartilhava, a sós, com o mar… um entendimento
entre a agitação da água e os seus eternos pensamentos… quiçá, tão só, sonhos
jamais revelados… Levantou-se
tarde. Espiou o mar, do alto da falésia. Após o almoço, conduziu o passeio de
manutenção até ao “Bar dos Anjos”, recanto paradisíaco roubado ao passado.
Conversa, jogo de damas, dominó, sueca, bisca… Televisão só nas transmissões
de futebol e nas (imperdíveis!) de Fórmula 1. Abraçou os quatro companheiros
com quem se encontrava à noite, gozando as peripécias das longas partidas de
bisca de quatro. O Jeremias e o Matos (que partilhavam parte do dia com a
pesca), o Vinhas (que se dedicava a tempo inteiro a passear a simpática cadela)
e o Pacheco (que tem um quintal murado e árvores de fruta bem tratadas, de
que ele cuida com enlevo). E
foi a fruta, fundamentalmente as peras, que gerou um duelo entre os quatro
referenciados. Pacheco gabava-se de que ninguém conseguia entrar no pomar
devido ao temível cão que o guardava, apesar de o portão gradeado ficar no
trinco. A bravata soou a desafio e gerou um total silêncio de desagrado. O
facto é que, na noite seguinte, um dos parceiros faltou e foi Gustavo quem
tomou o seu lugar. Soube-se, entretanto, que, através do portão, alguém
lançara dois pedaços de carne ao cão, que os rejeitou. Até parecia mais
feroz… Tentativa
A, pensou G.B., quando teve conhecimento do acto! Aliás, no decorrer do passeio digestivo, divisou
Vinhas a rondar o pomar, ralhar com a cadela e atirar um pequeno seixo a um
rafeiro que se aproximava. Nessa noite, um dos parceiros escalou a traseira
do muro através de uma escada que passou para dentro. Ao descer, o cão
apareceu e mal teve tempo de subir para o muro, de onde desceu sem escada,
com prejuízo das pernas… Na
quinta-feira, Pacheco foi à Marinha Grande. Quando regressou e entrou no
pomar, encontrou uma cesta de peras apanhadas, uma meia comida! O cão,
deitado junto à casota, olhou o dono meio desconfiado, ergueu uma orelha
interrogativa, mas indiferente… Roubado,
limpamente! Ou, antes, não havia ladrão… deixara lá as peras! Mas… como
iludira o cão? Era a pergunta que tinha para a noite! Um
desafio para si, Inspector – eu só quero saber Quem
e Como? Mais tarde, teve a resposta, óbvia. Pergunta-se:
Quem foi o “ladrão” e como conseguiu colher as peras, sem oposição do cão? |
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© DANIEL FALCÃO |
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