Autor Data 2 de Agosto de 1986 Secção Sábado Policiário [36] Publicação Diário Popular |
ZOOMISTÉRIO Zé Maio No
Jardim Zoológico ninguém consegue dormir: a meio da noite há um engraçado que
solta gritos capazes de arrepiar uma roda dentada. Enquanto a bicharada se
encolhia de medo, o brincalhão aproveitava para desviar parte das refeições
de um ou outro habitante do jardim. O
Leão, para não perder a sua autoridade, nomeou uma comissão «ad-hoc» que se encarregaria de descobrir quem atormentava
as noites zoológicas. Reunidos para o efeito, a Minhoca, o Camelo, o Cágado,
o Boi-Cavalo e o dito Leão decidiram fazer rondas nocturnas
em patrulhas duplas. Nessa
noite, o Leão e o Camelo ficaram de vigia junto à porta de entrada e à uma da
matina ouviu-se o grito junto à aldeia dos macacos. Na
segunda noite, o Boi-Cavalo e o Cágado ficaram na barraca dos gelados e o
grito ouviu-se para a banda da caverna dos ursos. Tendo o Leão tocado
imediatamente a reunir, todos se apresentaram de pronto, excepto
a Minhoca, que chegou afogueada, dizendo que tinha vindo a nado pelo lago e
se demorara porque a corrente estava muito forte nessa noite. Ficou decidido
que na noite seguinte todos se mantivessem acordados enquanto a Minhoca e o
Leão iriam montar guarda ao pé do palácio dos répteis, mas nessa noite o «gritador»
fez gazeta. Esperançados
na desistência do importuno, o Boi-Cavalo e o Camelo ficaram à coca na margem
do lago, na noite seguinte, mas o malandrim soltou o seu grito para as bandas
da cabina de som. Na quinta noite de vigia, o Cágado e a Minhoca postaram-se
ao pé das águias e até de manhã tudo se manteve silencioso. Mais
um dia se passou e o Camelo e o Boi-Cavalo voltam a juntar-se na patrulha que
fica à espreita atrás da casa da raposa, mas o grito vem de perto dos
elefantes. Reunido o grupo, verificou-se a falta da Minhoca que foi
encontrada com um galo na cabeça e muito queixosa, dentro do forno. Dizia a
Minhoca: –
Eu estava aqui dentro pronta a intervir quando me deram uma mocada na cabeça
e desmaiei – afirmou ela. –
E viste quem foi? – inquiriu o Leão. –
Não, só sei que fugiu pela árvore pois ouvi o malandro trepar depois de me
agredir – respondeu a minhoca. Quase
desanimado, o Leão mandou que a Minhoca e o Cágado ficasse perto do ringue de
patinagem, na outra noite, mas foi uma vigília vã porque o silêncio não foi
perturbado toda a noite. Para a vigília seguinte o Leão foi com o Camelo para
junto das araras e ordenou aos outros que se lhe reunissem se ouvissem o
grito. Às duas horas lá voltava o tormento da guinchadeira para os lados da
foca. Com
a comissão reunida, o Leão mostrava-se deprimido, com a juba caída: –
Qualquer dia ninguém tem confiança em nós: o sono perturbado, a comida
roubada: estou a ver que o pessoal se põe a andar. –
Não me admirava nada que a onça fosse já amanhã – disse a Minhoca. – Ela
jurou que se lhe roubassem outra vez a comida voltava para África. –
Não volta nada! – rugiu o Leão. – A partir de amanhã
acabam-se as brincadeiras. Não é…? Para
quem se virou o Leão, acusador? Porquê? |
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© DANIEL FALCÃO |
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