| Autor Data Março de 2004 Competição I
  Torneio Policiário “O Lidador… das Cinzentas” Prova nº 2 Publicação (em Secção) | Solução de: UM DIA DE FÉRIAS ESTRAGADO Zé-Viseu A
  conclusão que transmiti aos meus amigos polícias que investigavam o caso foi
  a que me pareceu mais lógica, com os elementos de que dispunha, no momento: Não
  tendo entrado ninguém na vivenda, por não haver qualquer vestígio estranho,
  dentro ou fora do cenário do crime (os existentes, perfeitamente
  identificados – correspondem às personagens que falam, no texto, não
  habitantes da casa – foram feitos muitas horas depois da morte), esse crime
  só poderia ter sido cometido por um dos sobrinhos, com a motivação, óbvia, de
  acelerar a herança. E
  o criminoso foi o Carlos, que, por as coisas não lhe terem saído como queria
  e pensara, acabou por atingir os seus objectivos –
  acelerar a herança, mas para o João (se se confirmar o testamento)! Pensei
  que só um canhoto poderia colocar o peso no corpo na mão esquerda e,
  golpeando o tronco do tio, com uma lâmina pequena, ter contactado com a parte
  superior direita da vítima e, com a força e direcção
  do movimento, ter partido o termómetro que o tio tinha colocado sob o braço direito.
  Um dextro, golpeando da direita, em trajectória inclinada, teria tocado no ombro esquerdo e
  continuado a golpear para a esquerda, sem chegar ao ombro direito (onde não
  há golpes). E o Carlos era canhoto, como mostrou, ao escrever o número de
  telefone (o João pegou no cinzeiro, com a mão direita). Ao
  partir o termómetro, cortou-se, ligeiramente, na mão (o que justifica ter
  posto o penso, na mão esquerda, para disfarçar o corte). E, mais grave do que
  isso, colocou a sua aliança de ouro (a noiva seria
  dextra e colocou-lha na mão, para ela, normal) em contacto com as bolinhas de
  mercúrio que se soltaram (correu-lhe tudo mal). Como sabemos, o mercúrio actua sobre o ouro (não é por acaso que muitos rios
  brasileiros estão poluidíssimos com mercúrio, pois os garimpeiros usam-no,
  para “aglutinar” as partículas de ouro, impedindo-as de escapar às peneiras
  que utilizam nos areais dos rios que atravessas jazidas auríferas). Por isso,
  ele tirou a aliança, que o denunciaria. As
  coisas ter-se-ão passado assim: Pouco
  depois de entrarem no quarto, Carlos, ao ver que o tio colocava o termómetro
  (ele sabia que, frequentemente, isso acontecia), pretexta uma ida à casa de
  banho (tinha-me falado dos seus problemas intestinais). Pega, com a toalha,
  em três copos de água (que, previamente, havia para lá levado, sem lhes tocar
  com as mãos - usou luvas?), coloca-os sobre os pires e enche-os de água.
  Porém, coloca, dentro de cada um dos copos, um poderosíssimo sonífero. Pega
  nos pires e, num gesto de grande “amabilidade”, oferece-os ao tio e primo,
  que bebem, avidamente. Vai buscar o seu, que coloca ao lado do sofá que
  utiliza. Passados 2/3 minutos, os alvos adormecem, profundamente. Carlos
  ataca o tio com uma pequena navalha (de ponta e mola?), o que justifica a
  necessidade do elevado número de golpes (apesar de o tio estar magríssimo e a
  lâmina atingir, facilmente, um canal sanguíneo/órgão vital, decidiu jogar
  pelo seguro). Na
  casa de banho, lava-se de eventuais esguichos de sangue, muito bem, para não
  sujar a toalha. Repara no pequeno corte e coloca o penso. Vê que a aliança
  foi atacada pelo mercúrio e lança-a na sanita, assim como a navalhinha e o
  invólucro das drogas. Puxa o autoclismo, empurrando tudo. Traz
  a toalha para a sala e pega, com ela, no rebordo dos copos, retirando os
  pires (não mexe no seu). Lava os pires, seca-os e volta a colocá-los sob os
  copos, segurando o copo com uma das mãos na ponta da toalha e o pires com a
  outra, na extremidade oposta. Coloca a toalha no sítio próprio. Fecha
  a porta, por dentro (as janelas estavam fechadas, devido à chuva), bebe a sua
  água e adormece, também. Fácil,
  como vêem. Difícil terá sido procurar as ”provas”,
  no fim da sanita e nas caixas de visita, dos esgotos. Mas, como não estava lá
  para ver (nem cheirar!). Ah,
  já me esquecia – as perícias confirmaram tudo!  | 
| © DANIEL FALCÃO | |
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