22 de Março de 1957. É publicado, na revista “Flama”, o 1º número da Secção “O Gosto do Mistério…”, orientada por Jartur – curiosamente, por lapso tipográfico, identificado como “Mr. Dartur”.

Domingos Cabral, com 15 anos completados recentemente, responde ao problema naquela inserido – “O Táxi Misterioso”, transformando, assim, em “casamento” o “namoro” que à modalidade vinha fazendo há algum tempo, através do contacto com a Secção do “Mundo de Aventuras”, de que era leitor há alguns anos.

Sabendo, por isso, que era habitual o uso de pseudónimo, e perante a dificuldade que sentiu na escolha, rápida, de um, acabou, por associação, por perfilhar o “Inspector Aranha”. É que, naquele problema, o investigador (Marcos Dias), concebido pelo Autor (Jartur), após resolver o caso, dirige-se para o “Clube do Aranhiço”. Escolha pouco feliz, de facto, já que ninguém inicia a construção de um edifício pelo telhado e o principiante começava, nada modestamente, por se designar “Inspector”… De qualquer forma, iniciou-se, assim, um longo caminho…

In Mundo dos Passatempos, 1 de Setembro de 2007

 

 

 

 

 

 

 

PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA por DOMINGOS CABRAL (do livro com o mesmo título, a editar)

 

 

 

O nosso objectivo

Ao lançar este suplemento policial mais que um objectivo de negócio, – o que aliás seria legítimo – anima-nos o propósito de fazer, no domínio da imprensa, qualquer coisa de novo em Portugal. Entre nós é sabido, há pouco espírito criador. Peca-se pela pouca originalidade. Acha-se geralmente mais cómodo aproveitar idéias que outros já realizaram. Procura-se assim, para um êxito que parece à primeira vista fácil, trilhar um caminho já desbravado… Mas o erro é crasso. A intromissão resulta quasi sempre funesta. O meio é pequeno e refratário a empreendimentos desta ordem – e o público já de si limitado, que poderia fazer viver uma publicação, tem de dividir-se e torna-se portanto insuficiente para fazer viver duas… É isso o que a experiência nos ensina.

O que há, portanto, a fazer? Fazer qualquer coisa de novo para criar o seu público próprio. Foi o que tivemos em mira ao lançar «Detective», visto que não existe no nosso país qualquer publicação do género. Pensámos primeiro em fazer dêle um jornal popular, de apresentação ligeira, para assim se tornar de preço acessível. Mas, depois, reconsiderámos. E decidimos em vez de um jornal, reflexo de mediocridade e de pobreza, editar um magazine atraente, sugestivo, tanto quanto possível do seu tempo. Não é «Detective» o que deveria ser? Nada que se assemelhe aos grandes magazines policiais ingleses e americanos? De acôrdo. Mas uma realidade faz curvar tôdas as nossas boas intenções. Nós vivemos em Portugal – e em Portugal, com a capacidade de compra do nosso público e pelo que queremos dar a «Detective» - não é possível fazer mais nem melhor. Isto nos basta para confiar na benevolente compreensão dos nossos leitores. – J. C. G.

 

CARTA ABERTA

Eis realizado o vosso desejo, leitores. Aqui está o magazine de emoção que tantas vezes haviam pedido nas vossas cartas. Facto talvez inédito no nosso País, creio: o de uma simples página de revista transformar-se, por imposição do entosiasmo e do interêsse dos leitores, num, magazine de trinta e sete páginas.

E é esse, afinal, o nosso caso. Desde o início, a página «Mistério e Aventuras», de «Vida Mundial Ilustradas conquistou imensas simpatias, crescentes de número para número. E a nossa idéia de fazer ressurgir em Portugal a leitura das reportagens impressionantes, dos grandes artigos de sensação, das melhores novelas dos melhores ficcionistas – leitura esquecida entre nós, desde os tempos do brilhante e saudoso repórter X – foi ganhando, aos poucos, novos alentos com as próprias mil e uma confidências dos leitores, em que diziam do seu sincero desejo de possuírem uma grande publicação portuguêsa de mistério e aventura.

Aliás, está dito e comprovado que a literatura de emoção é um dos grandes recreios do espírito. Estadistas de todo o mundo, afatigados pelo vertiginoso atropêlo dos acontecimentos internacionais, buscam um pouco de tranquilidade no exercício cerebral que lhes oferece a leitura dos grandes romances policiais. Médicos, advogados, engenheiros, senhores da melhor sociedade, estudantes, cientistas e multas outras personagens de categoria social não se envergonham de confessar a sua simpatia e o seu entusiasmo pela boa literatura de mistério e de a ventura. Na verdade, notava-se há muito, em Portugal, a falta de um magazine onde o leitor se pudesse refugiar das atribulações da vida, dos desvarios da sorte e do trágico noticiário das guerras. Faltava, sim, um magazine, rico de interêsse e de sugestão, de novidades e de revelações, que recreasse e instruísse simultâneamente.

«Detective», o magazine da emoção, aqui está, leitores amigos. Êle é para vós todos.

Qual o seu programa? Bem vêem, pode ser tão vasto o programa dum magazine deste género…

O programa de «Detective» será o programa que os seus leitores quiserem!

Assim iremos fazendo o nosso magazine, o magazine que é de todos nós. E assim iremos oferecendo um novo encanto à nossa própria vida – que a vida, como já lá diz um velho rifão chinês, é apenas «uma flôr misteriosa arrancada ao jardim da fantasia»…

Repórter Mistério

 

Publicação | Detective, 24 de Abril de 1945

 

© DANIEL FALCÃO