22 de Março de 1957. É publicado, na revista “Flama”, o 1º número da Secção “O Gosto do Mistério…”, orientada por Jartur – curiosamente, por lapso tipográfico, identificado como “Mr. Dartur”.

Domingos Cabral, com 15 anos completados recentemente, responde ao problema naquela inserido – “O Táxi Misterioso”, transformando, assim, em “casamento” o “namoro” que à modalidade vinha fazendo há algum tempo, através do contacto com a Secção do “Mundo de Aventuras”, de que era leitor há alguns anos.

Sabendo, por isso, que era habitual o uso de pseudónimo, e perante a dificuldade que sentiu na escolha, rápida, de um, acabou, por associação, por perfilhar o “Inspector Aranha”. É que, naquele problema, o investigador (Marcos Dias), concebido pelo Autor (Jartur), após resolver o caso, dirige-se para o “Clube do Aranhiço”. Escolha pouco feliz, de facto, já que ninguém inicia a construção de um edifício pelo telhado e o principiante começava, nada modestamente, por se designar “Inspector”… De qualquer forma, iniciou-se, assim, um longo caminho…

In Mundo dos Passatempos, 1 de Setembro de 2007

 

 

 

 

 

Correio Policial, 18 de Setembro de 2020

 

 

 

 

 

 

PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA POLICIÁRIA PORTUGUESA por DOMINGOS CABRAL (do livro com o mesmo título, a editar)

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A interrogação foi, até há alguns anos, colocada sobretudo pelos cultores mais recentes da problemística policiária: desde quando, e em que título da imprensa, começou a ser divulgada entre nós esta modalidade de passatempo/desporto cerebral?

Manuel Constantino (recentemente falecido), prestigiado e estudioso de tudo quanto à literatura e problemística policiária respeitasse, iniciado como solucionista, produtor e seccionista na segunda metade da década de 40, escreveu em 1992 a obra intitulada “O Grande Livro da Problemística Policiária Portuguesa”, que a Associação Policiária Portuguesa editou na qual, sobre o tema em apreço, se lê o seguinte:

“Decorriam os últimos anos da II Grande Guerra Mundial. A “Vida Mundial Ilustrada”, um jornal de actualidades que recolhe no mundo da crónica internacional diversos exclusivos de várias tonalidades e tendências, saborosas umas, amargas outras, mas sempre com elevado êxito…

Um dia…

… Pelas mãos de Gentil Marques, jornalista, escritor e também poeta, mais tarde conhecido nas lides policiárias como “Repórter Mistério”, começam a aparecer “adaptados das melhores publicações estrangeiras” casos policiais que punham à prova as qualidades de “detectives” dos leitores…

Em 1945, em resultado dos desejos manifestados pelos leitores, a página de “A Vida Mundial Ilustrada.”

Esse Magazine denominava-se “Detective”, saiu a público a 24 de Abril inserindo nas suas páginas a “Secção Policial” onde se iniciaram na modalidade alguns dos nomes que nela mais se viriam a destacar, tais como “Sete de Espadas”, “Inspector Varatojo”, Manuel Constantino, Leiria Dias, Natércia Leite, etc. Secção decerto inspirada nas anteriores “Foto-Mistério” (enigmas elaborados a partir de fotografias), mas também nos diversos problemas traduzidos de publicações estrangeiras – na sua grande maioria do americano Austin Ripley – que vinham granjeando popularidade em vários órgãos da nossa imprensa.

 

    

 

Seguiram-se, ao longo dos anos, muitas mais secções em diversos jornais e revistas (mais de trezentas, até hoje), na convicção de que a sua origem, entre nós, ocorrera naquela época dos anos 40.

Até que…

… Pouco depois da publicação do livro de Manuel Constantino, João Artur Mamede (policiarista desde 1955, com o pseudónimo de “Jartur”) – persistente pesquisador e coleccionador de todo o tipo de publicações das temáticas policiárias e de banda desenhada, principal obreiro do Arquivo Histórico da Problemística Policiária – veio colocar-nos perante uma nova realidade.

Revelou-a numa publicação que apelidou de “Jarturices”, com o sub-título de “História da Primeira Secção Policiária publicada em Portugal” (ver capa).

 

 

E do seu conteúdo – que registava a existência duma Secção afinal muito anterior à que anteriormente nos reportámos, transcrevemos o seguinte:

“Há uns anos atrás adquiri, na Feira das Velharias (de Vandoma, no Porto), uma dezena de velhas encadernações que recolhiam: “NOTÍCIAS” ILUSTRADO, edição semanal do “DIÁRIO DE NOTÍCIAS” desde o seu n.º 1, Série II, de 17 de Junho de 1928, até ao n.º 382, de 6 de Outubro de 1935.

Como se depreende trata-se de um semanário de actualidades, profusamente ilustrado, com colaboradores de grande mérito, donde ressaltam o Director Leitão de Barros e o Director-Gerente, Carolina Homem Christo.

Ao folhear as páginas n.º 62, de 18 de Agosto de 1929, chamaram-me a atenção as páginas que contam e ilustram “A Origem do Conto do Vigário”, narrada por Fernando Pessoa.

Aquilo que, porém, motivou este escrito foi ter encontrado na página 7 do número seguinte, o 63, uma página intitulada:

 

PROBLEMAS POLICIAIS

O LEITOR É SHERLOCK HOLMES?

COMO OS GRANDES POLÍCIAS

DESCOBREM OS CRIMES MAIS

MISTERIOSOS

QUER O LEITOR FAZER

DE DETECTIVE?

 

Na verdade, a página a seguir desta referida publicação era ilustrada por um desenho com anotações relacionadas com a solução do problema, apresentando-se a Secção, e davam-se “conselhos” e indicações para resolver o 1.º problema – proposto à argúcia dos leitores.

Seguia-se o caso “O Assassinato do “Patacas”, assinado por L. Figueiredo.”

Seguiu-se a publicação de mais 9 problemas, que completaram o Torneio e contou com a participação de 150 concorrentes.

E, assim, ficámos a conhecer que afinal a 1.ª Secção Policial conhecera a sua publicação entre nós em 1929, mais precisamente a 26 de Agosto!

A revelação constitui surpresa para muitos, não obstante a distância de apenas 16 anos entre as duas datas. Acreditámos então que esta questão tinha ficado definitivamente resolvida. Mas

 

 

Continuar

 

 

Fontes:

Secção Correio Policial, 18 de Setembro de 2020 | Domingos Cabral

 Blogue Repórter de Ocasião, 15 de Dezembro de 2023 | Luís Rodrigues

 

© DANIEL FALCÃO