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22 de Março de 1957. É
publicado, na revista “Flama”, o 1º número da Secção “O Gosto do Mistério…”,
orientada por Jartur – curiosamente, por lapso
tipográfico, identificado como “Mr. Dartur”. Domingos Cabral, com 15 anos completados
recentemente, responde ao problema naquela inserido
– “O Táxi Misterioso”, transformando, assim, em “casamento” o “namoro” que à
modalidade vinha fazendo há algum tempo, através do contacto com a Secção do
“Mundo de Aventuras”, de que era leitor há alguns anos. Sabendo, por isso, que era habitual o uso de
pseudónimo, e perante a dificuldade que sentiu na escolha, rápida, de um,
acabou, por associação, por perfilhar o “Inspector
Aranha”. É que, naquele problema, o investigador (Marcos Dias), concebido
pelo Autor (Jartur), após resolver o caso, dirige–se para o “Clube do Aranhiço”. Escolha pouco feliz,
de facto, já que ninguém inicia a construção de um edifício pelo telhado e o
principiante começava, nada modestamente, por se designar “Inspector”… De qualquer forma, iniciou–se,
assim, um longo caminho… In Mundo dos
Passatempos, 1 de Setembro de 2007 Correio Policial, 13 de Agosto de 2021 |
PRIMÓRDIOS DA PROBLEMÍSTICA
POLICIÁRIA PORTUGUESA por DOMINGOS CABRAL (do livro com o mesmo título, a
editar) 49 2º PARTE – CICLO L. FIGUEIREDO SECÇÃO “O LEITOR É
SHERLOCK HOLMES?” 4º PROBLEMA: A
MORTE DO “BICHO AZUL” Na conhecida taberna do "Canholas",
afamada por servir de valhacouto a numerosos bandidos, reuniu-se uma noite em
torno de uma mesa, e muito despreocupadamente, a temível quadrilha de "môsco" capitaneado pelo "Bicho Azul", para
dividir o produto dos roubos ultimamente praticados. Á cabeceira da mesa sentou-se o
"chefe", até então temido e respeitado, mas ultimamente mal visto
por alguns dos quadrilheiros e sempre receoso das traições dos seus
associados. Á direita deste tomou lugar o
"Orelhas", seu lugar-tenente e rival na chefia da quadrilha, a cujo
lado, também sentado, ficou o "Bola de sabão", hábil serralheiro,
transviado do trabalho para a vida de banditismo e célebre pela exímia manufactura de chaves falsas. Á esquerda do chefe,
sentou-se o "Rachado" assim conhecido devido à cicatriz que tinha
no lábio inferior, sinal de facada com que anos antes fôra
ferido em rixa sempre envolta em mistério, e ao lado deste o hercúleo
"Canário". O "Bicho azul" dissera em confidência a
alguns dos seus amigos que ninguém conseguiria prendê-lo, porque preferia a
morte à prisão a que habilmente conseguira furtar-se nos últimos tempos. Em certa altura da partilha e devido a
desinteligências a que o "Orelhas" não foi estranho, azedaram-se os
ânimos, começou uma violenta discussão e luziram os canos das pistolas de que
todos os membros da quadrilha estavam armados. Os factos que se seguem passaram-se
simultaneamente. O "Orelhas" e o "Rachado" conservaram-se
sentados de pistola em punho, levantando-se o "Canário" e o
"Bola de sabão" – movimento que também foi esboçado pelo chefe. Na
taberna entrou empunhando também a sua pistola o "Tacão", outro
quadrilheiro que ainda não aparecera e cujas relações com o
chefe era das piores. Estava este à direita e um pouco atraz do chefe, quando soaram tiros disparados por todos
os quadrilheiros e aparecem à porta, atraída por eles, uma patrulha da Guarda
Republicana, que intimou os bandidos a conservarem as posições que ocupavam,
fornecendo informações para o esboço que publicamos. O momento em que dispararam os tiros, foi aquele em que o chefe se ia levantar, tendo virado ligeiramente
a cabeça para um dos lados, quando foi atingido e cai redondamente morto no
chão. Examinadas as pistolas, faltavam balas em todas,
incluindo a do chefe, tendo ficado ligeiramente feridos alguns dos bandidos,
mas sem que tal interesse ao assunto. Tendo-se, mais tarde, extraviado o relatório da
autópsia, só se conseguiu achar a lauda em que estavam os desenhos dos perfis
Os tecidos em volta das feridas não estavam chamuscados. O posto antropométrico forneceu a indicação das
alturas dos vários membros da quadrilha: Bicho azul – 1,70; Orelhas – 1,75; Bola de Sabão
1,68; Canário – 1,83; Rachado 1,66; 0 Tacão – 1,52. Para se apurar como morrera o "Bicho
azul" não havia outros elementos senão os que fornecemos e como era
necessário destrinçar as verdadeiras responsabilidades dos membros da
quadrilha neste caso, foram apresentados à polícia de investigação as
seguintes perguntas, a que convidamos os leitores dos nossos problemas
policiais, a responder: 1º – O "Bicho azul" foi assassinado por
algum ou alguns dos seus companheiros ou suicidou-se ao pressentir a Guarda
Republicana? 2º – Por quantas balas foi atingido? 3º – Se os leitores opinarem pelo assassínio,
teria sido um ou mais do que um dos quadrilheiros, ou actores
da morte? 4º – Ainda nesta hipótese, qual ou qual deles? 5º – Como explicar a grande perda de tecidos na
ferida do lado direito? * * * SOLUÇÃO DO
PROBLEMA: 1º – O “Bicho azul” foi assassinado por um dos seus
companheiros. 2º – Só por uma bala. 3º – Como consequência da resposta anterior foi
morto só por um dos quadrilheiros. 4º – O “Canário”, devido à posição em que se
encontrava no momento do crime, de pé, à esquerda e a certa distância do
“Bicho azul” e à sua estatura. A direcção do tiro
que vitimou o chefe, dada pela posição dos orifícios de entrada e saída da
bala, confirma-o. 5º – Explica-se a grande destruição de tecidos no
ferimento do lado direito e que é normal na saída de uma bala, que atravessa
muito tecido ósseo, porque vai arrastando no trajecto
fragmentos de osso, que são outros projecteis
secundários, que devastam os restantes tecidos. O orifício de entrada de uma bala no corpo é
sempre menor e de bordos regulares. Esta explicação, que constitui uma lição
elementar de medicina forense e que um verdadeiro polícia amador não deve
ignorar, é a base deste problema. A hipótese de suicídio tinha que ser logo
posta de parte por não estarem chamuscados os tecidos circunvizinhos do
orifício de entrada da bala e não ser natural que o "Bicho azul"
disparasse o tiro do lado esquerdo e de cima para baixo. O
"Rachado" também não podia ser o autor da morte pela direcção que a bala tomou, porque estava sentado. Os
indivíduos colocados à direita e a patrulha da Guarda não podiam ter
disparado o tiro que entrou pelo frontal esquerdo do "Bicho azul"
na posição em que este se encontrava. * * * CONSIDERAÇÕES
SOBRE AS 1ª E 2ª FASES DOS "PRIMÓRDIOS" (Continuação) Abordemos, então, a questão de saber quem foi L.
Figueiredo (o que se reveste de importante na história dos Primórdios da Problemística Policiária, uma vez que a ele se ficou
devendo a segunda mais antiga experiência competitiva desta modalidade entre
nós, e a primeira claramente assumida como “Secção de Problemas Policiais”. A verdade é que não possuímos elementos
suficientemente credíveis para com credibilidade esclarecer esta questão e,
dado o tempo entretanto volvido, não se afigura ser hoje fácil obter tal
informação – apesar das diligências que nesse sentido termos vindo a efectuar… L. Figueiredo: Nome próprio? Pseudónimo? Conjecturando, com todos os riscos de fiabilidade que tal
hipótese representa, achamos que se tratou efectivamente
de pseudónimo. Primeiro porque na ficha técnica do “Notícias Ilustrado” não
consta, à data, nenhum J. Figueiredo; depois porque, mesmo posteriormente,
não foi conhecido ninguém com este nome que tivesse estado ligado ao
policiário; ainda porque, nessa época, na modalidade o uso de pseudónimos era
extremamente vulgar; porque um muito conhecido jornalista/ escritor durante
muitos anos colaborador de revistas e magazines de temática policial, e autor
- sobre vários pseudónimos – colaborava também regularmente no “Notícias
Ilustrado” (um exemplo: “O Desejado”. Novela inédita por Mário Domingues, ali
publicado no n.º 74 daquela Revista). A sua biografia regista, aliás, que –
"a partir de 1926, as suas reportagens, artigos, comentários, contos e
novelas aparecem publicadas na imprensa (…) de maior projecção…”,
entre muitas outras, o “Diário de Notícias” (onde, no seu suplemento
“Notícias Ilustrado”, surgiu a secção de L. Figueiredo…) Outros indícios: – Mário Domingues partilhava uma longa e sólida
amizade com Reinaldo Ferreira, estabelecida no Colégio Francês, em Lisboa,
que ambos frequentaram, firmada em ideias, valores e projectos
comuns, de que faziam partes as actividades
policiárias; – Em 1930, Reinaldo Ferreira deu-lhe a chefia da redacção do seu semanário “Repórter X”; – Mais tarde Mário Domingues fundou e dirigiu o
famoso semanário “O Detective”, que inseria uma
Secção Policial - durante alguns anos tida como a primeira publicada entre
nós. Fiquemos por aqui, sem a dúvida esclarecida: Terá
sido L. Figueiredo pseudónimo de Mário Domingues? É uma hipótese – levantada
e suportada não só por nós – que continuaremos a tentar confirmar…
Fontes: Secção
Correio Policial, 13 de Agosto de 2021 | Domingos Cabral Blogue Repórter de
Ocasião, 15 de Dezembro de 2025 | Luís Rodrigues |
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© DANIEL FALCÃO |
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