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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 29 EFEMÉRIDES
– Dia 29 de Janeiro Harold Q. Masur (1909-2005) –
Nasce em Nova Iorque. Advogado de formação, serve na US
Air Force, que abandona nos anos 40; começa a
escrever muito cedo para os pulps policiários. Publica o primeiro romance em 1947: Bury Me Deep;
escreve um total de 15 livros policiários e numerosos contos, recolhidos em
várias colecções. O seu personagem principal é o
advogado nova-iorquino Scott Jordan, que chegará a
magistrado público em 1984 com o romance The Morning After.
Harold Q. Masur é
Presidente de The
Mystery Writers of America em 1973/74. Bibliografia – Série Scott Jordan: 1 – Bury Me
Deep (1947) 2 – Suddenly
a Corpse (1949) 3 – You
Can’t Live Forever (1951) 4 – So
Rich, So Lovely, and So Dead (1952) 5 – The Big
Money (1954) 6 – Tall,
Dark and Deadly (1956) 7 – The
Last Gamble também publicado
como The Last
Breath e Murder on Broadway
(1958) 8 – Send
Another Hearse (1960) 9 – The
Name Is Jordan (1962) short stories 10 – Make a
Killing (1964) 11 – The
Legacy Lenders (1967) 12 – The
Mourning After (1981) Outros livros: 13 – The
Last Breath (1958) 14 – The
Attorney (1973) 15 – The Broker
(1981) Em Portugal, o
conto Papazinho
fez parte da antologia 43 Autores
Violentos do Conto Policial, o nº 7 Colecção
Antologia Policial, publicada pela Ibis em 1965 (2ª
Edição). Também foram
editados vários livros, por diferentes editoras, por vezes com um título
diferente para a mesma obra original. A Mulher dos Olhos Cinzentos (1958),
Minerva, Colecção Xis nº74, (Bury Me Deep) Ninguém é Eterno (1959),
Minerva, Colecção Xis nº 87 (You Can’t Live Forever) Alta, Morena e Fatal (1959),
Minerva Colecção Xis nº 92, (Tall, Dark and Deadly) Tão Rica, Tão Bela e… Morta (1960), Minerva, Colecção Xis nº 98, (So Rich, So Lovely, and So Dead) A Última Cartada (1961),
Minerva, Colecção Xis nº 112, (The Last Gamble) Uma Visita Macabra (1962),
Século, Colecção: As Grandes Obras de Mistério e Acção (Suddenly a Corpse) Dinheiro Fatal (1964), Minerva, Colecção Xis nº 143, (The Big Money) Sepultem-me Bem Fundo (1964), Ibis, nº 7 Colecção Rififi, (Bury Me Deep) Cadáver Inesperado (1965), Ibis, nº 20 Colecção Rififi, (Suddenly a Corpse) Choque de Ambições (1967),
Minerva, nº 168 Colecção Xis Mercadores de Heranças (1970),
Minerva, nº 192 Colecção Xis, (The Legacy Lenders?) UM TEMA – LITERATURA: NARRATIVA DE TERROR: BREVE REFLEXÃO No princípio
era o verbo… frase notável. Nos remotos
tempos só a palavra existia: para transmitir sensações. As histórias eram
cantadas, narradas, representadas pela dança, pela pintura nas paredes das
grutas, nos riscos da areia húmida… Eram transcrições utilizadas para
exorcizar, basicamente o medo. Os traços das estrelas no céu, o medo da
escuridão, da seca, da doença, do desastre, da fome, da morte… apontavam e
evocavam demónios reais e imaginários. Os demónios inspiram o horror,
sentimentos de medo interior entram no espírito e gelam o sangue… Transporta-se
de século para século de forma verbal, até que chega a palavra escrita,
passados milénios: na pedra rija, no tijolo preparado, no papiro, no papel. É
uma nova dimensão para a narrativa. Uma existência independente do narrador, sobrevive e espalha-se pelo mundo. Mudam-se os
métodos narrativos, mas as histórias de terror são imutáveis; o medo é do
incognoscível é o artista que domina o palco, o público e a mente. Em tempos
idos, com as tétricas lendas medievais eram o lúgubre ambiente das noites
tenebrosas dos castelos fantasmagóricos, o cheiro do enxofre do senhor dos
infernos, os mortos-vivos vampiros atravessando a terra das tumbas sedentos
de sangue, monstros atemorizadores sem conta, peso e medida. Hoje o narrador
moderno modera a descrição e apresenta-o em múltiplas formas, como uma
ciência material, onde se distinguem três correntes essenciais: A alegoria
moral, a metáfora psicológica e o fantástico. No primeiro
grupo destaca-se o sobrenatural, ou melhor o encaixe do mal sobrenatural no
quotidiano geral, o segundo recai sobre a psicologia humana em forma de
metáforas ou efeitos científicos e a terceira corrente citada explora o
anormal. Nenhuma delas enjeita a aproximação às correntes congéneres, já que
não se pode pôr limites ao fantástico, que a par do maravilhoso, continua nos
modelos modernos. O medo a que
chamamos terror, estranho e inconcebível tem a sua própria estética e só
aguarda uma tensão ideal para se manifestar, Lembramos os
góticos Lewis, Radcliffe, Walpole,
os românticos Byron, Keats,
Shelley, os imaginosos Poe, Le
Fanu, Dickens e progressivamente, Doyle, Jacobs, M. R. James, Wills, Lovecraft… até aos
modernos Clive Barker, Koontz
e Stephen King. CONTO – VÍCIO SOLITÁRIO O autor do presente conto, Marcel Bealu, é um cultor da área fantástico – terror. No hotel onde me
hospedara, o meu maior prazer consistia em espiar o que sucedia nos quartos
da frente. Oculto pela sombra, todas as noites experimentava inúmeras
satisfações com tais vigílias: um rosto em oferenda, que duas persianas
recobriam como pedra de um túmulo, um braço nu mergulhando pelas águas negras
de um cortinado, uma cabeleira arrancada aos remoinhos da noite. Não me
entregaria a um divertimento tão só visual se, em determinada noite, os
reflexos fugidios do mistério de que me rodeava, não acabasse por despertar
em mim a mais enlouquecida das paixões. Solitária como eu, vivia ali uma
mulher. Por vezes cantava, e eu, do meu observatório, escutava, febril, os
sons que me chegavam. Outras, vi-a sentada no
toucador… acontecia trincar os lábios para não gritar o meu deseje de vê-la
mais perto. Sucedeu, porém, que certa noite, esquecendo a minha cela de
sombra, aproximei-me; interpretei como um apelo alguns gestos desacostumados.
Ainda que tivesse fixado a localização exacta do
quarto, com alguma hesitação bati à porta daquele onde tantas vezes sonhara
entrar. Não houve eco de resposta. Movido pela audácia do desejo, receando
atrair a atenção dos vizinhos, deixei cair a mão e empurrei a porta. Estava
nua e parecia adormecida. A aberração do meu espírito fez-me acreditar num
estratagema ingénuo do amor, ao qual liguei desde logo o meu consentimento.
Foi preciso que tivesse perdido o domínio de mim mesmo para não reflectir na estranheza de um tal excesso. A face
voltada, inundada de sombra parecia animar-se nas convulsões do prazer. Olhei
com maior atenção e apercebi-me de que só eu imprimira movimento ao rosto
inerte, como de resto a todo o corpo e sacabara de
fazer amor com uma morta. Repentinamente morta também a minha paixão. Fiquei
apavorado. Em que terrível aventura me afundara. Tinha de fugir depressa. Mas
já soavam passos pelo corredor, a porta abria-se e eu gritava no auge da
minha angústia: Não fui eu, não fui eu! Não fui eu! M. Constantino In Policiário de
Bolso,
29 de Janeiro de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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