M. CONSTANTINO

(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019)

CALEIDOSCÓPIO 36

EFEMÉRIDES – Dia 5 de Fevereiro

Margaret Millar (1915-1994) – Margaret Ellis Millar nasce em Kitchener, Ontário, Canadá. O seu primeiro romance, The Invisible Worm, em 1941 torna-a alvo de fama. Trabalha também como argumentista para a Warner Brothers. Margaret Millar é casada com Kenneth Millar, mais conhecido pelo pseudónimo, Ross Macdonald, o casal forma uma parceria na escrita e no crime. Em 1982 é agraciada com o Grand Master of the Mystery Writers of America e em 1986 recebe o Derrick Murdoch Award.

Nas suas obras cria vários personagens: Paul Prye, um psiquiatra detective amador, Tom Aragon, advogado hispânico e o Inspector Sands. Publica os seguintes livros:

Série Paul Prye

The Invisible Worm (1941)

The Weak-Eyed Bat (1942)

The Devil Loves Me (1942)

Série Inspector Sands

Wall of Eyes (1943)

Taste of Fears , também com o título The Iron Gates (1945)

Série Tom Aragon

Ask for Me Tomorrow (1976)

The Murder of Miranda (1979)

Mermaid (1982)

Margaret Millar escreve ainda cerca de vinte romances policiários, com destaque para Beast In View (1955), vencedor do Edgar Allan Poe Award em 1956 e incluido na lista dos 100 melhores livros de crime e mistério do crítico e novelista H.R.F Keating; A Strange in My Grave (1960) e In Banshee (1983), que são considerados respectivamente um dos seus melhores trabalhos e o enredo mais emocionante.

Em Portugal

1 – Vida por Vida, Minerva, nº 76 da Colecção Xis (1958), Vanish In An Instante (1952)

2 – A Bola de Cristal, Minerva, nº 83 da Colecção Xis (1958), Beast In View (1955).

3 – A Caixa de Prata, Minerva, nº 99 da Colecção Xis (1960), The Listening Walls (1959)

4 – Um Estranho no Meu Túmulo, Averno (2011), A Stranger in My Grave (1960)

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TEMA – ENIGMÍSTICA POLICIÁRIA - O Enigma Policiário e a Sua Apresentação

Semente do fruto da literatura policiária e, para além das virtudes do romance e do conto, nasceu o problema policiário ou enigma, tão do agrado de alguns milhares de adeptos ou cultores que ao longo da vida se recrearam ou recreiam com este actuante estímulo cerebral.

Mas o que é o Enigma Policiário?

Fundamentalmente é uma questão exposta para se lhe encontrar solução. De harmonia com o conceito é a descrição de uma coisa que por particularidades ou pelas qualidades que lhe são próprias, ou deliberadamente nela inseridas, de modo a tornar difícil a identificação do que se trata. O mistério que advém destes problemas ou enigmas é um desafio ao espírito observador, dedutivo ou indutivo, estimulante do intelecto ante o labirinto ardiloso da questão. Nada mais do que o desafio contido num conto ou romance policial clássico.

No início dos anos 40 a apresentação de tais enigmas ou problemas que as revistas ofereciam eram exclusivamente apresentados em fotografias, o chamado foto-crime, cuja solução resultava da observação dos pormenores das fotos, com contradições das declarações dos personagens. Trabalho dispendioso para os apresentadores que começaram a usar o desenho manual, o que não resultou, optando-se pela prosa – verso ou peça teatral, por curiosidade.

Hoje muitos anos decorridos, é o relato do crime com enredo integrado, constituindo uma espécie de conto, do qual se requer a finalização (solução) que é usada totalmente ou preferencialmente. E com boas razões, tanto se pode escrever um enigma do tipo clássico, isto é, apresentando o crime, detalhes e suspeitos, pedindo-se a solução, ou apresentar o enigma, descrevendo-o e ao respectivo criminoso e intervenientes, desafiando o solucionista a apontar o erro ou erros que incriminam o delinquente. De qualquer modo são vastas as alternativas e sem dispêndio (fotos), tão só com a imaginação e arte do produtor do enigma ou problema.

Apresentamos um enigma escrito pelo inesquecível Roussado Pinto e desafiamos o leitor a tentar encontrar a solução.

Sam Sixkiller e Paul Justice entraram no escritório onde tinham sido chamados e olharam para o corpo do homem caído sobre a secretária. Ferber, o sargento, estava presente, e em voz breve, disse:

– O médico legista também vem aí, e a brigada de homicídios chega um pouco mais tarde.

– Pormenores?

Ferber informou: Suicídio. É dono da firma, e pelo que parece tudo está complicado em questão económica. Tem dívidas e poucas possibilidades de pagá-las.

Paul rodeou a secretária, e do lado onde pendia a mão da vítima, em pleno solo, estava uma garrafa.

Ele baixou-se, apanhou-a, tirou-lhe a rolha e cheirou-a. Caminhou para o inspector e disse:

– Conheço o cheiro. Veneno demasiado violento. Morte instantânea. Basta uma gota misturada em qualquer líquido para…

Calou-se. Sam não lhe ligava importância. Caminhara para a porta, a receber uma senhora que acabara de entrar.

– É a mulher do morto. Sam, cumprimentou a senhora e na intenção de evitar cenas violentas, disse:

– Desculpe, mas é melhor esperar lá fora. Por agora, tem que nos deixar trabalhar.

– Mas que aconteceu, meu Deus?

– O seu marido suicidou-se.

– Perdão – interveio Paul. – O marido desta senhora não se suicidou. Foi assassinado.

O que levou Paul Justice a optar pelo assassínio?

M. Constantino

In Policiário de Bolso, 5 de Fevereiro de 2012

 

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