M. CONSTANTINO

(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019)

CALEIDOSCÓPIO 37

EFEMÉRIDES – Dia 6 de Fevereiro

Louis Nizer (1902-1994) – Nasce em Londres, mas vive a maior parte da sua vida nos EUA. Advogado e escritor é o fundador de uma firma de advogados em Nova Iorque. Ao longo da sua longa carreira defende muitas celebridades, como Charlie Chaplin, Mae West e Johnny Carson. Em 1962 escreve My Life in Court, um dos seus livros mais conhecidos, um bestseller com a descrição de alguns dos seus próprios casos. Em 1973 publica The Implosion Conspiracy, que analisa o julgamento e a execução do casal Rosenberg; o livro baseia-se principalmente na transcrição do julgamento, mas também inclui muitas histórias comoventes de vida dos Rosenberg.

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TEMA – O CRIME NA LITERATURA - Não Especializada

A extensão do crime e a variedade dos grupos nele envolvidos refutou teses de que este pode ser explicado por generalizações causais ou que o problema pode ser resolvido como parte de um problema socioeconómico.

A literatura é a expressão da vida humana no que se refere ao belo e ao feio, ao virtuoso e ao maligno, a alma e o espírito do povo eleito ou obscuro captado pela lente fotográfica das letras. As reacções da literatura não especializada – não ligada ao policiário – não ligada ao facto criminológico, pormenorizada por autores dos mais diversos quadrantes.

Escolhemos Portugal e Brasil, língua comum para fixar estes clichés inseridos na rubrica

ANATOMIA DO CRIME

1 – REPARTIÇÃO DE ÁGUAS

Um pouco além do sítio onde a vereda se bifurcava, lá estava patente a prova do delito: o rego de repartido em dois, um fio correndo para a belga do Pimpim, o outro, não mais farto que o primeiro, continuando de rota batida para as batatas do Francisco.

– É uma vergonha, seu Pimpim. Um homem que faz a barba não pratica destas safadezas.

O outro saltara para o caminho e desculpava-se apaziguador:

– Escuta, Milheirinha, tenho tudo a morrer à sede. Hoje vim ver esta desgraça, com ideias de para aí me pôr a chorar. E vai senão quando os meus olhos deram com o rego de água a correr por aí fora. Não sabia para quem ia a água. E que soubesse, era o mesmo. Pensei em dar um nadinha de água às cebolas.

– E não tem vergonha…

– Homem, compreende…

– Compreendo que é um larápio.

– Milheirinha, criatura de Deus, já todos fizemos coisas destas pelo menos uma vez na vida. Ver os frutos definharem-se sem lhes podermos acudir, retalha o coração, bem sabes. Não faças tanto banzé por nada, homem.

Perdi a paciência. Mas Milheirinha não notara.

– Já lhe disse: vossemecê é um larápio.

João Pimpim chegou para ele.

– Larápio és tu, barbeiro de trampa seca.

– Seu Pimpim, que eu perco a cabeça!

E ergueu o sacho. O outro porém foi mais rápido, jogou-lhe a lâmina da sachola à tola. E ele caiu, como uma massa banhado em sangue. Caiu para o lado sem um ai. A água, que corria cantando, tingiu-se de vermelho.

M. Constantino

In Policiário de Bolso, 6 de Fevereiro de 2012

 

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