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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 56 EFEMÉRIDES – Dia 25 de Fevereiro S. B. Hough (1918-1990) – Stanley Bennett Hough nasce em Preston, Lancashire, Inglaterra. Escritor de ficção científica sob o nome de Rex
Gordon, usa também o pseudónimo Bennett Stanley.
Publica 10 romances de mistério/detective. Cria o Inspector Brentford, personagem principal em Dear Daughter Dead (1965) e Sweet Sister Seduced (1968). John Wainwright (1921-1995) – Nasce em Hunslet, East Yorkshire,
Inglaterra. Em 1947 ingressa na polícia em Yorkshire e estuda advocacia ao mesmo tempo.
Escreve o primeiro livro em 1956, mas só em 1966 se torna escritor a tempo
inteiro. Até 1992 publica 80 livros, com o nome próprio ou sob o pseudónimo
Jack Ripley. Cria várias séries: Lewis, Gilliant, Charles Ripley, Sullivan, Inspector Chefe Lennox, Inspector Lyle, Superintendente Robert Blayde
e Superintendente Ralph Flensing. TEMA – ENIGMA POLICIÁRIO INVESTIGAÇÃO EM CINZENTO Os criminologistas afirmam que é na juventude que
se preparam os grandes criminosos. Segundo as estatísticas mais recentes, em
cada 10.000 habitantes. 536 delitos de roubo,
fraude, passagem de moeda falsa, etc., são praticados por crianças até aos 14
anos, números inigualáveis para quaisquer outras idades. Da consequente leitura do relatado, o correr das
recordações trouxe-me ao presente um remoto caso que envolvia duas crianças
de dez e doze anos e o desaparecimento de um diamante. Estávamos num dia implicante. Chuva leve mas
contínua escorrera todo o santo dia, até cerca das
17 horas. Tudo ficara peganhento, de ambiente opaco. Nesta situação, foi com
um sentimento de desconforto que correspondi ao apelo do Sr. Vila-Pouca,
residente, à época, na Rua dos Lusíadas, ali para o Restelo.
Desvaneceu-se-me, no entanto, aquele estado de espírito ao conhecer o drama
daquele homem que, se se permite, bem poderia chamar-se, com inteira
propriedade, o Senhor Pouca Sorte. Na verdade, emigrante de tenra idade, por esse
mundo comera o pão que o diabo amassou. Cansado, regressara à pátria, fazendo
um casamento serôdio, aparentemente feliz, rematado com dois gémeos que
viriam a revelar-se atacados de afonia congénita, por deformação orgânica
permanente. Acresce que, num passeio ao Alentejo, de onde era natural, um
terrível desastre automobilístico deixou-o viúvo, preso a uma cadeira de
rodas, sobrecarregado com a educação dos filhos e sustento - este mais
consentido que imposto, diga-se… do inconformado Rafael Lobo, o condutor do
veículo daquele dia fatídico, a quem o desastre amputara ambos os braços um
pouco acima dos cotovelos. Valeu-lhe, na vicissitude, a destreza das suas
mãos de hábil lapidário. O infortúnio parecia, contudo, ser uma constante. Que sucedera agora? Como invariavelmente, na prisão imprescindível da
sua cadeira de rodas, o lapidador trabalhava um esplêndido diamante. Olhos
cansados, adormeceu. Na obscuridade da tarde que findava,
acordou sobressaltado. Como que pressentindo algo de desagradável, procurou
instintivamente sobre a mesa o - diamante desaparecera! Ao seu grito, Rafael e Rosa acorreram. Buscas,
explicações, nada resolveram. Embora existisse um seguro que cobria as “pedras”
que lhe eram entregues, desorientado pedira a Rosa que me telefonasse, já que
não desejava a presença da Polícia. Determinado, olhei o grupo na minha
frente, todos vestidos de cinzento (cor preferida ou imposta?). No rosto de
cada transparecia um sentimento diverso: desespero em Vila-Pouca, expectativa
em Rafael, indiferença na pequena Maria Bonita, afilhada de Rosa, indignação
nesta e, em oposição, os gémeos, caras inidentificáveis pintadas de
guerreiros índios, a que não faltava a tradicional pena no cabelo, camisolas
de indispensável cinzento médio, com o nome de cada um em letras cinzentas
mais escuras nas costas, definiam apenas divertimento. Comecei por pedir a
Rafael a sua versão dos acontecimentos. Esclareceu-me, enquanto com um gesto
de cabeça me apontava as mangas da camisa vazias. - Bem vê, não tirei o diamante! Estava sentado à
janela, vigiando os miúdos que brincavam aos índios no pátio das traseiras. O
patrão adormecera e eu também dormitava. Vi o menino aproximar-se do pai e
tirar-lhe a língua… Só quando se afastou, pelo nome, percebi que era o Marco.
Fui atrás dele para lhe perguntar o que queria, mas não o alcancei. Deve ter
sido ele por brincadeira, está sempre a pregar partidas… Rosa, muito alterada, alta e sólida, enrolava o
avental nas mãos fortes, dizendo: - Os miúdos são uns diabos, isso são, mas não
ladrões… Também não sei quem tirou aquilo. Não vi o menino entrar na sala;
depois que a professora saiu, “às cinco”, foram os dois para o pátio. Por
acaso fui acender a luz da cozinha - o interruptor fica ao pé da porta - e vi
o Rafael dirigir-se para a saída… ainda lhe perguntei se os gémeos estavam
bem, mas nem me olhou; respondeu-me com um resmungo surdo. A pequena afilhada foi encostar-se à sua protectora, envergonhada. Confirmou as declarações de
Rosa, afirmando que não tinham saído da cozinha. Restavam-me os rapazes. É bem verdade que as
crianças que procedem delituosamente apresentam
congénita inclinação para o crime ou são, provavelmente, influenciadas pelo
ambiente. Naturalmente que não seria o caso. Tratar-se-ia de brincadeira e
agora receariam as consequências. Procurando fazer-me entender, perguntei por
escrito a cada, se tinha tirado a jóia ou estiveram
na sala depois da saída da professora. Ambos acenaram veemente negativa e,
trocando olhares, como se pensassem por um só cérebro, cruzaram os braços
esfingicamente, fecharam-se num mutismo feroz a todas as insistências da
minha parte. Antes de me dirigir à sala do lapidário, contígua
à que nos encontrávamos (segundo os ensinamentos de Locard,
por ali devia ter começado), perguntei a todos se se importariam de ser
revistados. Face à resposta negativa, que me pareceu franca, passei ao local
do “crime”. À esquerda da entrada, uma janela larga; em frente, um pouco para
a direita, a porta da cozinha; à direita, duas janelas, numa das quais estava
encostada a mesa de lapidário, na outra a cadeira onde se sentara Rafael.
Todas as janelas envidraçadas, com cortinas, estavam fechadas. Ao centro,
sobre a mesinha, uma jarra de flores murchas, pétalas caídas, a contrastar -
o que não podia deixar de me surpreender suspeitosamente - com o asseio de
toda a casa e o próprio soalho encerado impecavelmente, que percorri de
joelhos em busca da jóia perdida… Saí, dei a volta pelo pequeno jardim frente à
casa, passei para o pátio das traseiras, de terra barrenta encharcada. Num
pequeno círculo de relva ao centro, uma tenda tipo índio, na qual entrei
procurando entre a amálgama existente algo que se parecesse com um diamante.
Marto veio ter comigo e, zangado, empurrou-me dali. Voltando ao convívio dos
outros, pensava a todo o vapor, seguro à teoria de Claude Bernard: “a marcha
do espírito não pode avançar, senão pondo uma ideia adiante da outra”. Quem?
Como? Talvez sabendo “Como”, saberia “Quem”. Comecei a expor conclusões.
Marco e Marto trocaram um olhar - mais uma vez a sensação de uma cabeça a
pensar pelos dois - e esgueiraram-se para a saída. Ainda fiz um gesto para os
deter mas, reconsiderando, continuei com a explanação. Subitamente, voltaram.
Marco, puxando-me pelo casaco, presenteou-me com um pé de erva-bezerra que
trazia atrás das costas. Ambos sorriam abertamente. Embatuquei. Diacho dos miúdos, estariam eles a gozar-me? Estariam a
dizer-me algo? Ora bolas… A que propósito vinha a oferta? Teria esta relação
com as flores murchas da jarra, que tanto me impressionara? Resolvi o caso. A solução verdadeira viera-me,
afinal, em bandeja de prata… Sabe bem ao advogado, melhor diria, consultor
criminólogo, porquanto raramente chegava ao Tribunal, divagar hoje no reino
da saudade. O problema apresentado pertence à categoria
enigma que consiste em inserir no conteúdo do trabalho indícios de forma
metafórica ou ambígua cuja interpretação contribui ou é a solução. São
infinitos os artifícios que se podem empregar. Desde a colocação de um objecto, de determinada forma, a uma letra, uma carta,
livro, deixados pela vítima para indicar o autor da sua situação. Uma palavra
dita para ser ouvida, ou frase, descrição, cujo efeito depende do produtor e
a solução do raciocínio e interpretação do solucionista. É um enigma de um
enigma. Preste atenção
aos pormenores e pondere na solução, que apresentaremos proximamente. M. Constantino In Policiário de
Bolso,
25 de Fevereiro de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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