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(21.Abril.1925 – 30.Novembro.2019) |
CALEIDOSCÓPIO 105 EFEMÉRIDES – Dia 14 de Abril Joan Kahn (1914-1994) –
Nasce na cidade de Nova Iorque, EUA. Em 1946 é contratada como editora pela Harper Brothers para liderar a colecção Harper Novels of Suspense que
acabara de ser lançada. Kahn edita centenas de
autores e é responsável por dar a conhecer aos leitores americanos vários
autores ingleses de literatura policiária, como por exemplo, Dick Francis, Dorothy L. Sayers, John Creasey, Julian Symons, Michael Gilbert, Nicholas Blake e Nicolas Freeling; ou ainda os americanos John Dickson
Carr, Patricia Highsmith e Tony Hillerman.
Depois de vários livros seleccionados por Kahn vencerem o Edgar Award a
editora passou a incluir na capa das edições “A Joan
Kahn Book”. Em 1985,
recebe o Ellery Queen Award de Mystery Writers of America
pelos serviços prestados à indústria policiária, e quando se reforma recebe
Edgar Allan Poe Award
especial, pela sua carreira notável na vertente editorial da literatura
policiária. Joan Kahn
escreve dois romances de suspense: To Meet Miss Long (1943) e Open House
(1946) e edita ainda 11 antologias de mistério. William R. Cox (1901-1988) – William Robert Cox nasce em Peapack,
New Jersey, EUA. Começa por escrever para jornais e aos 21 anos torna-se editor de um
jornal semanal italo-americano. Publica o primeiro conto em 1934, e continua
a escrever contos para revistas durante 15 anos. No final dos anos 40 escreve
argumentos para televisão e cinema e em 1954 começa a publicar romances: western,
aventura, mistério e crime. De acordo com um artigo de Los Angeles Times, Cox
escreve 80 romances, 1000 short stories e 100 argumentos para televisão e cinema sob
o seu nome ou sob o seguinte pseudónimo: Joel Reeve, John Parkhill,
Jonas Ward, Mike Frederic,
Roger G. Spellman, Wayne Robbin
e Willard d'Arcy. Em
Portugal estão editados: 1 – Maior que o Texas (1968), Colecção Série W, Galeria Panorama. Título Original: Bigger Than Texas 2 – Sangue de Navajo
(1974), Panorama. Título Original: Navajo Blood TEMA – PEQUENAS GRANDES JÓIAS DO CONTO O GOLEM – Conto/Lenda de I. L. Peretz (1851-1915) Polónia Tempos houve
em que grandes homens eram capazes de grandes milagres. Quando o gueto de
Praga foi atacado, e estavam a ponto de estuprar as mulheres, queimar as
crianças e cortar em pedaços quem encontrassem pela frente; quando parecia
que o fim tinha chegado, o grande Rabi Loeb colocou
o seu Gemarsh de lado, foi para a rua, parou diante
de um monte de lama na frente da casa do professor e moldou com ela uma
imagem de barro. Soprou no nariz do golem – e
pôs-se a massajá-lo; em seguida sussurrou o Nome aos seus ouvidos, e assim o
nosso golem saiu do gueto. O rabino voltou à Casa
de Oração e o golem atirou-se sobre os nossos
inimigos, batendo como que a chicotadas. Homens caíam por todos os lados. Praga estava
coalhada de cadáveres. Isto durou, dizem, toda quarta e quinta-feira. Agora
já estamos na sexta-feira, o relógio marca 12 horas, e o golem
continua ocupado com o seu trabalho. “Rabi”, gritou o líder do gueto, “O golem
está transformando Praga numa grande carnificina! Não haverá um gentio vivo
para acender as velas do Sabá ou para cuidar das lâmpadas do Sabá”. O rabino
deixou seus estudos de lado, foi até ao altar e começou a cantar o salmo “Uma
canção do Sabá”. O golem cessou a carnificina, retornou ao gueto, entrou na
Casa de Oração e pôs-se diante do rabino. E novamente o rabino soprou nos
seus ouvidos. Os olhos do golem fecharam-se e a
alma que o habitara esvaiu-se e ele voltou a ser um golem
de barro. Deste dia em
diante o golem permanece escondido no sótão da
sinagoga, coberto por uma teia que vai de uma parede à outra. Nenhuma
criatura viva pode olhar para ele, principalmente mulheres grávidas. Ninguém
pode tocar na teia, pois quem quer que seja que a toque, morre. Nem mesmo os mais
velhos se lembram sequer do golem, embora o sábio Zvi, neto do grande Rabi Loeb,
tenha levantado o seguinte problema: pode tal golem
ser considerada parte da congregação de fiéis, ou não? O golem não foi esquecido. Ainda continua lá! Mas o Nome
através do qual ele pode ser chamado à vida no dia em que for necessário, o
Nome, este desapareceu. E a teia só faz crescer, e ninguém pode tocá-la. O que podemos
nós fazer? TEMA – BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA POLICIÁRIA – 8 (continuação de CALEIDOSCÓPIO
102) William
Shakespeare, inglês (1564-1616), deixou à posteridade alguns traços
facilmente reconhecidos como da área das narrações policiárias. Primeiro, em
Henrique IV (1599), depois em Hamlet (1600). Em Henrique
IV, acto III, 2ª cena, um dos personagens, Warwick, descreve com minúcia as diferenças entre as
pessoas falecidas de morte natural e o aspecto do
cadáver de Gloucester que está diante de si. Vede como o
sangue subiu ao seu rosto! Tenho visto muitas vezes seres humanos falecidos
de morte natural: o seu corpo tem um aspecto
acinzentado, lívido, incolor, que resulta do sangue se esvair do coração
agonizante… Porém, olhai, o rosto está negro, inchado de sangue, as suas
pupilas muito mais salientes do que quando vivia, tem um olhar fixo e
sinistro de um homem estrangulado… cabelo eriçado, o nariz dilatado pelas
convulsões… É impossível que não tenha sido assassinado; o mais pequeno
desses sinais é disso prova. Em Hamlet notam-se os alicerces da narrativa
gótica, argúcia de personagem e, finalmente, puro e violento drama. O
protagonista, Hamlet, é um intelectual meditativo e analista, a quem o
espectro do pai aparece e revela que foi envenenado por seu irmão Cláudio, de
combinação com a esposa, a mãe de Hamlet. O criminoso arrebata-lhe ao mesmo
tempo a coroa, a mulher e a vida. Pede vingança! O jovem Hamlet finge-se doido e, à força de simular, acaba por perturbar realmente
o espírito. Entretanto chegou à corte uma companhia de actores
ambulantes e Hamlet concebe o projecto de fazer
representar, perante a corte, todas as circunstâncias do assassínio do pai,
tal como o espectro a contou: Ouvi dizer que
certos culpados, ao assistirem a uma peça, foram de tal modo tocados pela
força das cenas, que daí a pouco tempo confessaram livremente as suas culpas.
Pois que o crime embora não tenha língua, falará com uma voz milagrosa. Vou
fazer com que estes actores representem qualquer
coisa como o assassinato do meu pai por meu tio. Observá-lo-ei até ao fundo
da sua alma. Por pouco que se perturbe, sei o que tenho de fazer! A peça denuncia, efectivamente,
os assassinos, pela perturbação manifestada. Hamlet corre aos aposentos da
mãe, dá por um movimento atrás de uma tapeçaria e com o grito de que está a
matar um rato, atravessa Polónio com a espada. É enviado pelo
rei a Inglaterra acompanhado de dois esbirros com uma carta na qual pede a
sua morte. Ardilosamente Hamlet troca a carta e são os outros que são mortos. Volta ao reino
para ter um duelo com Laertes, enquanto o rei prepara uma bebida para envenenar
Hamlet. No calor da luta as espadas tocam-se, e os dois feridos pela mesma
espada, que estava envenenada, caem mortos, não antes de Hamlet matar o
padrasto e a rainha, mãe de Hamlet, beber a bebida que a este destinara. M.
Constantino In Policiário de
Bolso,
14 de Abril de 2012
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© DANIEL FALCÃO |
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