Publicação: “O Almeirinense” Data: 15 de Março de 2008 Torneio Domingos Cabral
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TORNEIO DOMINGOS CABRAL SOLUÇÃO DO PROBLEMA Nº 6 O INSPECTOR FIDALGO E O MORTO NO RIBATEJO Autor: Luís Pessoa Na realidade, o
Inspector Fidalgo não fez nada de especial na resolução deste caso. Numa
primeira análise, é necessário ler muito bem o texto, situar a cena, tendo em
linha de conta os diversos factores, nomeadamente: – Espaço temporal e
condições climatéricas: É de dia ou de noite? Está a chover ou faz sol? Está
enevoado, há nevoeiro? Há vento e de onde sopra? A que horas se passa a
acção? etc.; – Personagens e sua
colocação na cena: Quantos intervenientes há? Onde estão e o que fazem? Que
intervenção têm na acção? – Local e suas
características: Onde se passa a acção? Em local de fácil acesso ou difícil?
Há obstáculos a vencer em certas condições, por exemplo em caso de chuva, de
neve, etc. – Factores
externos: Há animais que possam dar alarme? Há sistemas de segurança
eléctricos ou electrónicos que apenas possam ser iludidos por quem os
conheça? – Testemunhas
visuais, auditivas ou outras: Quem esteve no local que possa fornecer
elementos? Quem estava suficientemente perto para ouvir sons que se possam
relacionar com o que está na cena? – Oportunidades:
Quem teve oportunidade de praticar o acto, que encontros e desencontros teria
de haver para correr bem a acção a cada um deles? No nosso caso,
temos um crime cometido em zona não fechada e portanto, à priori, sem
dificuldades especiais de acesso. Alarcão diz que
estava nevoeiro cerrado; que o vento era gelado e quase cortava a cara; que
foi tratar dos cães muito rapidamente; que não ouviu nem viu nada. Os pais do jovem
não deram por nada e encontraram o moço, por volta das 8 horas. O padeiro afirma
ter visto o Alarcão a regressar lá do fundo, ainda antes das 8 horas. Os restantes
moradores da casa de Alarcão não notaram nada. Os vizinhos do
outro lado do pinhal referem a algazarra dos cães depois das 7.30 horas, que
só poderiam ouvir-se se o vento estivesse de feição. A filha do padeiro
está totalmente posta de lado. Há evidentes
contradições entre depoimentos, a saber: Alarcão refere
nevoeiro cerrado e o vento gelado. Vento e nevoeiro não combinam. Com vento,
o nevoeiro não se forma ou, já existindo, dissipa-se rapidamente. O padeiro afirma
ter visto Alarcão a regressar de casa do caseiro para a sua. Com nevoeiro
cerrado, isso não seria possível porque a distância era grande. Os vizinhos
declararam que os cães fizeram a algazarra própria de quando o seu dono
regressava a casa, mas só era audível quando o vento soprava… Portanto,
afastada a hipótese de haver um conluio entre Alarcão e os seus vizinhos, por
ilógica e não razoável, para que estes ouvissem os cães era necessário que
houvesse vento, portanto sem nevoeiro (que mais ninguém refere); logo, ao
encontro do depoimento do padeiro, que também confere com o regresso de Alarcão
a casa e a algazarra dos cães, que o padeiro não refere por estar longe (a
estrada era distante) e por soprar vento que levaria o som para o outro lado
do pinhal, portanto, não na sua direcção. Os cães fizeram algazarra por
detectarem que o seu dono estava por ali. Ficamos, pois, com o culpado – o Alarcão. Em
grande parte por mentir, mas também por ter a oportunidade, o tempo
disponível e por a sua versão não encaixar nos depoimentos dos restantes
intervenientes, cujas afirmações se complementam, sem erros. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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