Publicação: “O Almeirinense”

Data: 15 de Maio de 2008

 

 

Torneio Domingos Cabral

 

 

 

 

TORNEIO DOMINGOS CABRAL

 

SOLUÇÃO DO PROBLEMA Nº 8

 

SORTE RIMA COM MORTE

Autor: M. Constantino

 

Pacientemente, Cabral elucidou um Heldo boquiaberto. Pouco interessa quem ocupava este ou aquele quarto. Se necessário, o Tenente pode providenciar a exigência de impressões digitais de cada um – até os gémeos univitelinos, como é o caso, têm impressões digitais distintas. Em todo o caso, posso dizer-lhe: o ocupante do quarto 11 é o Delfino (o culpado), detectado pelo azul do oximetano que deixei no puxador e ele próprio diz que é o “caga-no-ninho” – expressão que se usa para designar o último da família e da ninhada de pássaros; no 12, está o mais velho (o que nasceu primeiro), Albino, que usa o apartamento de luxo, é o mandante, como vi na entrada em fila indiana e o primeiro a falar. Para mais, é o “sempre actor”! Até mesmo na sua declaração (Que diabo! Sempre o dinheiro! Parece que não sabem falar noutra coisa se não em dinheiro, dinheiro! Só sabem dizer dinheiro! Só conhecem a palavra dinheiro…) interpretou, deficientemente, Harpagão – acto III, cena V de “O Avarento”, de Molière; no 15, estará Betino ou Celino, pouco importa – são dois aldrabões de 1ª classe. Nem o ocupante do 15 é perito em arte sacra e régia (classificação muito estranha para um perito) nem D. José foi o reconstrutor de Lisboa (tarefa devida ao Marquês de Pombal, que se serviu – entre outros – do Arquitecto Eugénio dos Santos) e até um leigo sabe que, após D. João IV (que, em 1646, tornou Nossa Senhora da Conceição Padroeira de Portugal, colocando a sua coroa na imagem), nenhum rei vindouro mais usou, na cabeça, a coroa, que era colocada, simbolicamente, no trono – aparecendo, também, nas pinturas, ao lado do Rei! Nem o ocupante do 8, amante da donzela, foi professor; um professor de português não diz “ao meu ver”, “és um dos que desejas” e “tenho que ir fazer”. Dirá “a meu ver “, “que desejam”, e “tenho de ir fazer”…

Mais… Lembra-se de ver Amália e Amélia juntas? Basta de gémeos! Amélia nunca existiu. Tive a primeira desconfiança quando interroguei Amália – não é natural uma criada usar caríssimos sapatos “Gucci”, de salto alto. Posteriormente, quando a vi no bar e ela escreveu que era surda-muda, após uma “partida de ventríloquo", encaixei alguns tijolos na muralha dedutiva. Parti do princípio de que quem é mudo não pode ser um ventríloquo bem-falante, não é? Depois de encontrar Vaz morto, perguntei-me que necessidade tinha ela de entrar no quarto, quando a casa de banho se situava à entrada?! Porque tinha que fechar a janela por dentro! Aliás, Amália (como qualquer pessoa normal), ao dar com um cadáver inesperado, teria largado as toalhas, espalhando-as… ou tê-las-ia levado agarradas, fugindo! Mas estas estavam arrumadas na mesa, situadas mais à frente. Porquê fechar a janela? É que o parceiro do 11, de combinação com algum ou alguns dos outros, serviu-se da pequena escada de alumínio que acabara de descer, para subir ao muro de separação dos quartos, passar a escada para o outro lado. Não teve necessidade de partir o vidro, aberto, mas a sua presença acordou Vaz; e ele, num “aperto”, usou o cinzeiro para o calar. Ficou sujo de sangue, usou a camisa e o laço do smoking (lembra-se? Estava em falta!), voltou pelo mesmo sítio, levando o dinheiro. No entanto, era preciso fechar a janela (uma pista). Saíram cedo, levando o dinheiro e as cinzas da camisa e da gravata que foram obrigados a queimar. Amália, que saiu com os outros, mudou de aspecto, entrou pela porta dos criados, foi buscar a chave mestra e fez a sua parte no negócio; não foi fácil lá chegar, mas era a única alternativa…

© DANIEL FALCÃO