Autor Data 11 de Março de 2021 Secção Policiário [62] Competição Torneio do Centenário do Sete
de Espadas Prova nº 2 – B Publicação Sábado [880] |
UM CRIME NUMA TASCA RICA Abrótea O
dia estava a correr mal, aliás. Terminar os relatórios com algumas semanas de
atraso, ainda por cima sem nenhum dos meus homens. O pior era a Mara e o
“Baixinho”! Pensei
bem, hora de fechar a loja… pensei, apenas pensei… quando entrou o Matos. Parabéns
avó Matos – exclamei – até parece que és tu o pai, mas enfim! –
Desculpa-me chefe, mas hoje é hoje, e nos outros dias temos andado em cima de
um assunto, que também te deve preocupar, nunca te falámos nada, porque como
vais perceber, tem que ver contigo, e com todos nós… Mas vamos até uma tasca
que conheces bem – continuou o Matos – o resto do pessoal está lá, e é aí que
temos estacionado, só não fui esta manhã pelos motivos que sabes. Sabia
bem qual era a tasca. Velhas recordações vinham-me à cabeça, boas e más. Chegados
ao local logo uma receção ao Matos. Victor e Paulo estavam na porta de
entrada, mesmo aqui na rua ouvia-se perfeitamente a algazarra que provinha do
interior. –
Chefe, gritou o Paulo – venha cá, parabéns. Ainda
nem tinha reparado na minha figura, quando emudeceu, mandou--nos entrar,
quando começou a festa a sério. Foi então que o Paulo chamou a atenção da
restante equipa, pelos vistos estavam todos presentes, estavam felizes pelo
Matos, e por mim… não sei bem. O
detetive Paulo foi o primeiro a interromper o silêncio que se tinha instalado
naquela sala. Chefe,
chefe, isto não é o que parece – falou o Paulo, com uma gelada na mão. O
inspetor Matos também está a par da situação, mas hoje é o dia dele. Rick,
lembras-te do bando do “PEIXE S” – perguntou o "Doc", e continuou –
aquele bando a quem cortaste a cabeça da “peixota” maior, mandando-a para
aquele lugar onde se olha o sol aos quadradinhos…? Sem
o deixar continuar falei – lembro-me bem, mas o que é que isso tem a ver com
vocês passarem aqui dias e noites? Eu é que aturo o Big Chefão, não são vocês
– resmunguei. Mas já sei que essa cujo nome não quero dizer, foi solta. Sim
– exclamaram todos em uníssono –, pouco mais de dois meses atrás, e vem aqui
como fadista, mas nem sabemos qual é o fado que canta, porque naquela sala,
aquela lá em cima apenas se demora dois a cinco minutos no máximo. Tempo
suficiente para envenenar qualquer um dos que estão lá, pensei eu. Quem são
os frequentadores – perguntei apontando para o andar cimeiro. Conheces
todos eles, a tua tia só os reconheceu muito tempo depois, e por causa da
comida, além da Célia Sargo temos diariamente e até altas horas o Joaquim
Salmão, Jorge Sargueta, Manuel Sardinha e António Safio… Bela
equipa – interrompi – e porque acham que hoje é o dia? Notaram algo? –
Sim: a Safio não aparece há três dias, e todos eles nestes últimos dias andam
com uma carranca – responderam. Levantei-me
e dirigi-me ao bar onde a minha tia estava atarefada a “sacar” canecas de
imperial. Perguntei quem os servia, e o que geralmente comiam, e ao ouvido
mandei-a trancar todas as portas menos a principal, algo estava para
acontecer… o Luís explicou-me que os quatro nunca trocavam de posição, e que
comiam sempre a mesma coisa. Já era coisa de outrora, pensava ele, e um deles
queria sempre o talher ao contrário. Nisto um alvoroço, pois três dos nossos
“procurados” procuravam escapar, mas esbarraram na força da nossa equipa,
faltava um. Mandei o “Doc” subir primeiro, e encarei o meu velho Quim Salmão,
perguntando-lhe qual era a pressa. Apenas a sua mão esquerda se movia, desde
pequeno, um acidente danificara-lhe a direita. –
Acho que houve um pequeno acidente lá em cima – respondeu. Vamos dar uma
vista de olhos, retorqui e sem pressas. No
primeiro andar, num dos reservados encontrava-se o “Doc”, acenou a uma
pergunta muda pois sabia o que significava, na mesa, uma cabeça deitada sobre
ela, respirava com dificuldade, na mão um pequeno volume de sal, talvez para
temperar a salada das suas sardinhas assadas. Mas os pratos vazios, tanto a
travessa da sardinha, como a da salada, e até a broinha faltava. Apenas um
prato cheio de espinhas e claro o pouco das cabeças. Nas
costas, abaixo do ombro direito uma faca espetada. De frente para ele, mas no
lugar oposto, um prato com espinhas grossas, algumas batatas assadas. No seu
lado esquerdo um peixinho frito, ainda com a cebolinha e azeite por cima. Na
sua direita peixe grelhado, com um pouco de alcaparra, alho, azeite e limão. Fiz
um sinal ao “Doc”, e este – Sabes quem foi, não sabes Rick? – perguntou o
Victor “Doc”. Sei
sim, e os nossos detetives também… E
aqui fica: A – A Célia. B – O Sargueta. C – O Salmão. D – O Safio. |
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© DANIEL FALCÃO |
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