Autor Adaptação de original estrangeiro Data Abril de 1948 Secção Publicação Altura – nº 11 |
O COLAR DESAPARECIDO Adaptação de original estrangeiro O
colar tinha sido roubado. Todas
as precauções adoptadas não tinham evitado que desaparecesse a famosa jóia, o
Colar dos Três Rubins, considerada única e avaliada em cinco mil contos. Um
verdadeiro exército de polícias tinha cercado a famosa propriedade onde a
jóia era exibida naquela noite, durante uma festa em honra da futura dona da
casa, que ia casar brevemente com o proprietário. A
vigilância tinha sido severíssima, a ponto de se ter criado uma zona em volta
do quarto onde estava guardada a jóia, zona pela qual só podiam passar as poucas
pessoas que conheciam a senha e contra-senha dadas pela polícia. Mas apesar
disto o colar desapareceu. O
inspector-chefe interrogou os agentes encarregados de vigiar a zona, mas não
obteve qualquer elemento esclarecedor. Por
exemplo: o polícia que guardava o corredor do lado Este fez saber que meia
hora antes a lâmpada que iluminava o dito corredor se havia fundido. Mal fez
este descobrimento, dirigiu-se à porta de comunicação com o resto da casa
para verificar o que acontecera e, ao regressar ao seu posto, encontrou
alguém cujo rosto não conseguiu ver em virtude da completa escuridão, mas que
deixou passar por lhe ter dado a contra-senha. Por
sua vez, o guarda que vigiava a porta de serviço comunicou que, justamente
naquela meia hora que o colar devia ser guardado, tinha surpreendido o
mordomo a sair furtivamente pela referida porta, o que estava, durante aquele
tempo, rigorosamente proibido. Por
último, o agente que rondava o lado Oeste, indicou que, na hora em questão,
tinha visto o sobrinho do proprietário saltar pela varanda. Todas
estas investigações foram feitas em sigilo absoluto, de acordo com o dono da
casa, o único a quem a polícia pôs ao facto do roubo, mas sem lhe indicar
qualquer pormenor. Este ordenou taxativamente que fossem interrogados os dois
suspeitos, isoladamente, na sua presença. Proibiu, contudo, que se alarmassem
os restantes convidados, fosse a que pretexto fosse. As
primeiras averiguações fizeram saber ao inspector que a lâmpada do corredor
havia sido propositadamente fundida. Interrogado o mordomo sobre a sua saída,
justificou-a dizendo que saíra por ter absoluta necessidade de se avistar com
um amigo que partia naquela noite para o estrangeiro. -
Ainda que isso não iliba o mordomo – disse o dono da casa – lembro-lhe,
inspector, que ele não pode ser directamente o culpado, uma vez que para
chegar perto do colar tinha que conhecer a senha e a contra-senha, e ele não
as conhecia. -
Isto é verdade – concordou o polícia – mas não o livra da suspeita. O
sobrinho do dono da casa, depois de muito apertado, confessou com relutância
que saltara pela varanda após ter-se avistado pela última vez com aquela que
ia ser sua tia, e por quem há muito estava apaixonado. Ela tinha-lhe
concedido uma entrevista. -
Isso é falso! – disse o tio. -
Então é ele, certamente, o ladrão – apontou o inspector. – Vamos, confesse.
Vimo-lo no corredor, a sair do quarto onde estava guardado o colar. Passou
porque sabia a senha e contra-senha… -
Alto aí! – interrompeu o dono da casa. – O facto de o rapaz mentir, não é
razão para lhe chamarem ladrão. Não acredites, não te puderam ver. O corredor
estava às escuras, pois a lâmpada foi fundida por alguém propositadamente… Quem
era o ladrão? O mordomo ou o sobrinho do proprietário? |
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© DANIEL FALCÃO |
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