Autor Data 24 de Agosto de 1978 Secção Mistério... Policiário [180] Competição Problema nº 4 Publicação Mundo de Aventuras [256] |
TANTOS SUSPEITOS!... A. Lacerda Estamos
nos Estúdios Cinematográficos «Alameda das Linhas» onde se roda o filme «A
Vingança»… realizado por Carlos Soares e tendo como encenador Júlio Rosas. De
entre os muitos trabalhadores, sempre presentes, temos ainda, na maquilhagem:
Manuel Silva e Carla Paiva; no varandim, ao comando dos holofotes: Sérvulo
Belas; assistente de realizador: Amador Pedro; anotadores: Raul Gaspar e
Raquel Macedo; intérpretes dessa cena, uma das principais: João de Sousa e
Maria Clotilde… Nas câmaras: Sebastião Lopes e Jorge Félix. Naquele
dia e naquele momento não havia mais ninguém. O filme é uma autêntica
tragédia, pois até há mortos em cena e tudo… E
o pior é que naquele dia tudo estava a correr mal!... João de Sousa, o
principal artista é imponente, arrogante, vaidoso e humilhante! Intratável no
trabalho… Quase toda a equipa está incompatibilizada com ele. Sente-se ferver
ódio no ar… –
Repetir a cena?... Mas ela está muito boa, Soares! Ninguém se atrasou e
entraram a tempo nas deixas… tanto os dois em cena, como os ruídos e as
luzes! –
Ninguém lhe perguntou nada, Sousa! Volte para o seu lugar e vamos a isto! João
de Sousa obedeceu, enquanto o realizador murmurava entre dentes: «Arrogante!
Ainda lhe estoiro os miolos com um tiro!» –e numa transição, ordenando: –
Clotilde! Sousa! Agora vamos entrar na cena em que «Albertina», furiosa por
ter descoberto a verdade, resolve vingar-se de «Marcos», matando-o! Ó Rosas,
dá cá o revólver!... Gaspar, preparaste tudo?... Clotilde, toma lá a arma!
Não se assustem porque o anotador e o assistente prepararam e conferiram
tudo. Para dar mais realidade há uma bala de plástico fino cheia de tinta
vermelha que vai rebentar na camisa… Atenção! Começar! A
cena decorre normalmente, até que… –
Vais pagar tudo o que me fizeste! –
Mas… estás louca! Eu nada tenho com o vossa ruína. –
É tarde!... Vais morrer! Dito
isto, a intérprete tira da bolsa um revólver, dispara, e o actor João Sousa
com um esgar leva as mãos ao peito onde alastra uma mancha vermelha e cai! –
Corta! –
Óptimo! Formidável! Dêem cá um abraço! Sousa, Sousa! Sousa!! –
Es… Está… morto, sr. Soares! –
Quem disparou em cena? –
Eu, Maria Clotilde, sr. inspector. –
Ah, sim… Bom… Neves, leve a arma com os devidos cuidados para que a Técnica
se pronuncie já, antes da autópsia. Excepto a senhora, quem mais mexeu no
revólver? –
Eu! –
Quem é o senhor? –
Júlio Rosas o encenador. Verifiquei se a arma estava carregada com a bala de
plástico e entreguei-a, mais tarde aquando da repetição de parte da cena, ao
realizador… –
E quem carregou a arma? –
Eu, inspector, que sou o anotador. Preparei-a antes do almoço, logo de manhã,
praticamente, e esteve sempre aqui, nesta mesa fora de cena, junto com outros
adereços de cena… –
Houve algum intervalo? –
Apenas o do almoço! – informou Soares. –
Muito bem! E quem tinha acesso aqui? –
Desde que se começa a filmar, todo o pessoal fica fora da área. Se pretende
saber se alguém de fora podia ter cometido algo, digo-lhe que é impossível. O
que houve, se alguma coisa houver, está aqui dentro! Está aqui connosco! –
Neves, tomou conta de tudo? –
Sim, senhor. –
Então, vamo-nos. Já vem pessoal responsável para retirar o corpo. Boas
tardes! –
Então, o que diz a Técnica? –
Lamento informar, chefe, mas a Técnica diz que há uma grande surpresa… Diz que
as únicas impressões digitais bem visíveis na arma, são de Maria Clotilde… Há
outras, mas estão borratadas… Melhor, são apenas manchas… O tambor do
revólver tem um orifício de cartucho em frente do cano… para a direita, há um
outro vazio… e a seguir a este, está um cartucho completo, com a tal bala de
plástico e tinta… –
Quer dizer que?... –
É isso! Aquela arma, não disparou! –
Mas isso é incrível! Hum… –
Tem algo em vista, chefe? –
Sim! Se não foi essa arma, nem Maria Clotilde a disparar, então… só alguém
que estivesse num local onde não pudesse ser visto!... –
Temos de reconstituir o cena! –
Exacto; vamos a isso! E
pelo caminho, o inspector ia a «ver» a cena. De repente monologou: «Quase que
nem é preciso… Nós também lá estivemos… e eu vi, que todos, praticamente, se
viam uns aos outros… Excepto… Pois é!...» É!...
e nós já não vamos «reconstituir a cena»… Porque já não nos interessam as
filmagens… Também já lá chegámos!... Ou não?... Bem… façam um esforçozinho… 1
– Quem acha que é o criminoso? 2
– Explique, convenientemente, as razões da sua afirmação. |
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© DANIEL FALCÃO |
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