Autor Data 20 de Julho de 2018 Secção Competição Prova nº 2 Publicação Audiência GP Grande Porto |
CAMARADA TEMPICOS A. Raposo Vocês já conhecem o Tempicos de outras histórias. Pois ele continua malandreco, oportunista e
pinga-amor. Tudo qualidades, como é
óbvio. Ultimamente, como o turismo
aumentou, decidiu explorar esse filão. Meteu-se nas suas
tamanquinhas e começou a frequentar locais turísticos na cata de visitantes,
preferentemente noviças e apetitosas, que ele não faz por menos! Estava ele no Mosteiro dos
Jerónimos quando vê aproximar- se duas loiras lindas e viçosas e, claro, ele
meteu conversa. O velho “Do you speak
english?” da ordem. E o diálogo começou. Elas
começaram por dizer que eram russas de Moscovo, professoras de educação
física, estavam em Portugal pela primeira vez e arranhavam o português com
sotaque do Brasil. Fora lá que estiveram um mês e aprenderam alguma coisinha.
Tempicos apresentou-se como político de carreira
aposentado. Dizer que for da Judite não lhe dava status.
Elas eram cópia fiel uma da outra o que quer dizer que eram gémeas. Delicadamente, Tempicos ofereceu a sua casa, no Bairro Alto, bairro
típico de Lisboa, num segundo andar, com janelinha para o Tejo e uma grande
cama “big size” que daria
para os três, sem prejuízo para quem ficasse ao meio, desde que fosse ele… Mas como elas não tinham
conseguido arranjar hotel – Lisboa estava sem camas, dado o grande boom de turistas – elas não se fizeram esquisitas… pois
afirmaram ser socialistas e com grande mental aos costumes. Uma delas que afirmou
chamar-se Nádia tinha uma pequena mancha negra no mamilo esquerdo (esquerdo para
quem saia, direito para quem entra) que era bem visível dado o generoso
decote. A mana chamava-se Galina. Tempicos pensou que ela seria uma franganota de
fácil e rápida digestão… Eram moscovitas e tinham
aprendido o português no Rio, de onde tinham chegado de manhãzinha a Lisboa, pela
primeira vez, e estavam a gostar do que estavam a conhecer. Tempicos levou-as até sua casa após a ida aos
Jerónimos e a uma visita aos pastéis de Belém, comprar umas dúzias para
comerem à noite que se apresentava agitada quiçá de insónia. Tempicos apresentou-lhes uma bandeirinha do PCP que
lhes ofereceu de lembrança visto que elas se confessaram partidárias do atual
partido comunista da federação russa, e ele aproveitou para dizer uma
mentirinha: que andara em tempos na clandestinidade. Tovarish – disse Tempicos,
a única palavra que sabia ser Camarada. Nádia disse num português
de sotaque brasileiro que gostaria de andar de carro elétrico. Galina
acrescentou que gostaria de beber uma bica numa esplanada à beira Tejo. Tempicos disse-lhes que sim e mudou de assunto. Passaram uma noite agitada,
cheia de risinhos, ruídos e boa disposição que nos escusamos de detalhar,
pois os nossos libidinosos e perversos leitores são capazes de calcular sem
esforço. Às tantas da noite Tempicos precisou de se levantar para ir à casa de banho
(coisas da natureza) e no regresso foi espreitar as langeries
dispersas no chão. Nádia tinha um H bordado na calça vermelha e a mana um L igualmente
bordado a dourado na calcinha preta. Estes factos levaram o
nosso herói a perguntar se elas não estariam ligadas aos serviços secretos. Tempicos gostava de enganar mas não de ser
enganado. E os amigos leitores, que
também não gostarão de ser enganados, saberão através da vossa dedução
concluir da veracidade das afirmações das manas russas? Tempicos sabia que aquela história não estaria a
ser bem contada. Mas perdoava-lhes o mal que lhe fizeram pelo bem que lhe
soube aquela aventura. |
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© DANIEL FALCÃO |
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