Autor Data 1 de Setembro de 2019 Secção Competição Torneio
"Solução à Vista!" – 2019 Prova nº 4 Publicação Audiência GP Grande Porto |
O CASO DO CAPITÃO VENÂNCIO A. Raposo O capitão Venâncio era um
amante de enigmas e da literatura policial. Republicano e anticlerical, defendia os ideais liberalistas: um potencial anarquista
moderno muito influenciado pelas leituras de livros que um seu antepassado
lhe encheu parte da sua grande biblioteca, um antepassado do século XIX,
amigo de Garibaldi e do seu pensamento político. Escrevia num semanário,
regularmente, uma coluna com o título “enigmas & cifras”. Numa semana
colocava o problema, na seguinte novo problema e solução da semana anterior. O capitão tinha perdido a
mulher, de doença, no ano anterior e o único filho deles tinha partido numa
expedição para o Congo e nunca mais dera sinais de vida. Já lá iam dez longos
e desesperados anos. Venâncio não tinha qualquer
outro parente e resolvera fazer há meses o testamento a favor das suas duas
velhas criadas – que ficariam com a habitação – e do jardineiro-motorista que
entrara recentemente ao serviço, um rapaz ainda bastante novo, que fora
barbeiro lá na terra e se adaptava a qualquer serviço. Este último ficaria
com todos os veículos que estavam na garagem de boa marca e alto valor. Naquela tarde, como habitualmente,
Venâncio após o almoço subiu os vinte degraus até ao primeiro piso onde tinha
variadas estantes de livros e uma grande secretária. Era o seu escritório. Antes de meter a chave na
porta, olhava sempre saudoso o quadro que sua mulher lhe oferecera um pouco
antes de falecer, uma cópia a óleo, da famosa última ceia de Cristo. O quadro ficava na parede
no topo do patamar da escada, à direita de quem subisse a escada. Segundo a opinião das suas
velhas empregadas, que terminavam a arrumação da cozinha, após o almoço,
passado um tempo depois de o sr. capitão
ter subido, ouviram um estampido, que mais parecia um tiro. Sabiam que o sr. capitão tinha a arma junto às
estantes. Sempre operacional. Largaram as tarefas e
subiram as escadas. Porém a porta estava fechada – o que não era habitual – e
uma delas veio cá abaixo buscar ao chaveiro o duplicado da porta do
escritório. Voltaram, abriram a porta e depararam com o cenário. A vítima tinha a cabeça
caída na secretária e mais veio a descobrir-se a bala, incrustada no quadro
da última ceia de Cristo, após ter atravessado a cabeça do capitão. No chão a arma do capitão e
a cápsula e na secretária o bloco de notas, um envelope com o enigma que iria
enviar para o semanário, a caneta, a chave da porta e muito sangue. No interior do envelope um
conjunto de quinze letras que era mister descobrir: FEFOABAREGEOLEA. Havia no escritório uma
outra porta raramente usada, que dava ligação a uma espécie de escada de
salvação que terminava no jardim. As criadas, aflitas,
chamaram o jardineiro que fora bombeiro e não dera por nada, pois estava a
cortar lenha com a moto-serra. O jardineiro subiu ao piso
superior e apalpando o pescoço verificou que nada havia a fazer, tendo ligado
para a polícia. A polícia chegou, colheu
depoimentos, fotografou, levou o corpo e fez a autópsia. O caso foi encerrado pela
polícia e consta que no relatório se indicava suicídio na falta de outras
provas. Para o leitor pedimos duas
coisas: que decifre o enigma e que explique o que sucedeu na casa do capitão
Venâncio. Nota de rodapé: Este
problema foi congeminado após a notícia da morte anunciada do policiário, mas
não confirmada, num pasquim lisboeta. DESAFIO AO LEITOR: Caro leitor, o que lhe
pedimos é que dê resposta ao pedido feito pelo autor do enigma, elaborando um
relatório completo das suas deduções. |
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© DANIEL FALCÃO |
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