Autor

A. Raposo & Lena

 

Data

7 de Março de 2010

 

Secção

Policiário [972]

 

Competição

Campeonato Nacional e Taça de Portugal – 2010

Prova nº 3 (Parte I)

 

Publicação

Público

 

 

REALIDADE OU FICÇÃO

A. Raposo & Lena

 

Se nos contassem não acreditávamos.

Sem motivo nenhum aparente, à Tertúlia Policiária da Liberdade começaram a chegar donativos, principalmente do estrangeiro, de universidades e fundações americanas, aparentemente todas ligadas à influência judaica naquele país.

O envelhecido, mas sempre empreendedor, núcleo duro da Tertúlia reuniu e chegou à conclusão que o povo judaico leva tempo mas acaba por cumprir o seu dever. Não sei se se recordam que em Maio de 2009, em Cabanas de Viriato, fizemos uma grande homenagem ao nosso Aristides, que tantas vidas salvou, principalmente de judeus.

O dinheiro ia chegando e o nosso guarda-livros ia depositando. Como a verba já era grossa, alguém – e bem – sugeriu construir uma casa que simbolizasse a actividade policiária nas suas muitas vertentes.

O Búfalo macho, mal ouviu a história, começou logo a desenhar o edifício. Cloriano, o tesoureiro, começou a contar os tostões. Peter Pan mandou vir por conta uma sangria fresquinha para afinar a garganta e afastar o maldito fastio. A Detective Jeremias a contra gosto deixou escorregar mais um pastelinho de bacalhau, para dar base ao estômago, como preventivo.

Tempicos, que se encontrava desempregado há muito e já andava farto de gatas, ofereceu-se (contra uns trocados) para ficar responsável pela sala dos enigmas. Assim sempre fugia da praia, do sol e principalmente das inglesas de meia-idade que o não largavam, não se sabia muito bem porquê…

Era essa sala que serviria de exame a quem quisesse entrar para sócio efectivo da Tertúlia.

Criámos, também, para dar prestígio, o sócio contribuinte, que só pagava e não tinha direitos. Até hoje ainda não se inscreveu ninguém. Porque será?, perguntou o Nove com um ar trocista.

Não queríamos que entrasse uma multidão para sócio, pois assim o nível geral intelectual do conjunto baixava. Só queríamos gente com dois dedos de testa e uma boa dose de células cinzentas. Não é pedir muito, caramba!

Queríamos ser, de certa forma, uma elite para representar Portugal no mundo. Sem outras vaidades para além das nossas, que não eram desprezíveis.

O projecto foi aprovado, a casa feita e à porta da sala dos enigmas lá estava o “polícia” Tempicos, a fazer as provas aos candidatos.

Aqui levantou-se uma grande celeuma. A confrade Jeremias entendeu “amarrar o barco”. Pelo facto de ter sido vice-campeã nacional no policiário pensava ter o direito a ter a chave da porta da sede. Tempicos, mais uma vez – com o charme habitual – deu a volta ao problema. Pegou numa chave que tinha guardado da porta de outro edifício e ofereceu-a à nossa Detective. Não sei se ela ainda anda com a chave ao pescoço, mas se descobre a marosca

Tempicos deixava entrar um candidato e acompanhava-o até aos fundos, onde estava a porta de saída. O candidato tinha 48 horas para apresentar a solução a um enigma figurado a que fora sujeito durante o trajecto. Parecia simples…

Tempicos aproximou-se de um relativamente pequeno aquário onde, com espaço suficiente, diversos peixes nadavam: com ar de conhecedor, apontou as variedades que se iam aproximando da sua mão, à medida que largava um pouco de alimento.

Disse: São peixes, todos eles, do estuário do Sado. Este é o alcoraz, nome popular, ali aquele é o Mulus surmuletes, o outro é o Boops boops, e por fim a saborosa Anguilla anguilla, como lhe chamava Linnaeus nos velhos tempos de 1758.

O candidato tomou nota num pequeno caderno e seguiram para a sala seguinte.

Uma prateleira comprida tinha várias estatuetas. Oito bonitas figuras em madeira. Encontravam-se pela seguinte ordem: uma Rena, um Tigre, um Leão, uma Zebra, uma Águia, e um Urubu. Duas estatuetas de Índio ladeavam o Leão. Seguia-se uma simples carta de jogar com uma única pinta.

O candidato, que não era nada parvo, reparou que duas estatuetas tinham sido trocadas da normal sequência, pelo pó que a prateleira apresentava.

Na parede da sala seguinte dois quadros pendurados. O primeiro representava um céu onde voavam várias lulas. O segundo tinha pintado à esquerda um monte de cinza. À direita a frase “de quarenta a noventa”. Pareciam ser quadros do tipo de Salvador Dali. Mas eram mais do género de enigma figurado. Ambos os quadros estavam assinados. Nada de gente famosa. O primeiro por “U.Menos”, o segundo por “A.Menos”. A seguir aos quadros havia um painel pintado com um ponto de interrogação.

Tempicos despediu-se do candidato e desejou-lhe boa sorte.

 

Boa sorte também nós desejamos aos concorrentes. Desta vez não terão para resolver casos de sangue, facadas, tiros e mortes. Para variar, o policiário também tem lugar para outras áreas onde se podem utilizar as células cinzentas. “O bestunto”, como às vezes, sem querer, diz o amigo Tempicos quando já está “bem-disposto” com uns copitos do maduro.

O amigo concorrente, com um pouco de paciência, sabedoria, estudo e inteligência, também poderá entrar para a Tertúlia. Para isso tem que passar neste teste e responder acertadamente ao enigma que o seu amigo Tempicos apresenta.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO