Autor

Asclépius

 

Data

28 de Agosto de 1980

 

Secção

Mistério... Policiário [282]

 

Competição

Torneio “4 Estações 80” | Mini C – Verão

Problema nº 4

 

Publicação

Mundo de Aventuras [360]

 

 

QUANDO A MEIA-NOITE SOOU…

Asclépius

 

Naquela festa de anos encontravam-se todos os seus apaixonados, desde o tímido Paulo ao louco Daniel, não esquecendo Carlos com quem Luísa dançava e que em arroubos de melancólica paixão se lhe declarara. Luísa acedera às suas propostas, porém, olhava com receio para todos aqueles indivíduos que se olhavam como feras ciumentas prontas a devorarem-se… Levada pelas musculosas, mas macias mãos de Carlos, ela sentia que todos os seus movimentos eram vigiados e que ao menor descuido, alguém estaria pronto a saltar sobre si… Pudera observar esses indícios nos insistentes olhares que todos lhe dirigiam e instintivamente o medo apoderou-se de si. No entanto de Daniel pouco havia a recear, já que, embriagado, se encontrava a um canto rodeado de um numeroso grupo, a dissertar sobre o seu tema favorito – o horrível!

Tudo isso pertence ao passado e agora Luísa caminha decidida para casa, quando vislumbra um vulto, que postado no caminho lhe barra a passagem. Avança, receosa, e reconhece o intruso.

– Olá, boa-noite!... Que se passa para estares aqui à minha espera?

– Ora, não se passa nada… Apenas me esqueci de te entregar uma pequena recordação… Ei-la!

Quando Luísa se aproxima, para lhe olhar as mãos, é inesperadamente abraçada ao mesmo tempo que o seu agressor, em palavras desordenadas exprime a sua paixão. Debatendo-se desesperada ela perde o equilíbrio e estatela-se arrastando consigo o seu atacante que a esmaga com o seu corpo… Tenta gritar, porém, ninguém a ouvirá, porque uma poderosa manápula vai de encontro ao seu rosto, atordoando-a. Por entre as estrelas cintilantes que faíscam em seu cérebro, surgem os rostos vampirescos de Jorge… Paulo… Carlos… Daniel, que, lentamente se esbatem mergulhando-a numa escuridão imensa… Densa, impenetrável!

Pôde ainda sentir, como umas mãos gordas e macias, febrilmente lhe devassam o corpo, ao mesmo tempo que um corpo inestético e descontrolado se cola a si, depois… Tenta debater-se, mas desmaia.

Provido de uma bestialidade inumana, o seu assaltante consuma um acto que qualquer lei condena. Enquanto na torre doze badaladas soam, a lua testemunha impassível de toda a acção, querendo esconder-se, envergonhada da vileza dos seres humanos, cobre-se com um espesso manto de nuvens…

 

No dia seguinte, Luísa é encontrada seminua no meio de uns arbustos, que ladeiam o caminho apresentando no corpo as marcas de um louco que saciara uma animalesca paixão. Antes de ser estrangulada, fora violada. Tomando conta do caso, as autoridades removeram o corpo abrindo um inquérito que terminou, quando se apurou o seguinte sobre os principais suspeitos:

Jorge (rapaz possante, declarara que a festa era em sua honra e como velha amiga; convidara-a) – Sim, claro que vi a Luísa quando saiu, pois ia acompanhada pelo Carlos e o Paulo. Não tenho álibi porque após a saída deles, senti-me mal disposto e estive no pátio da casa a recompor-me. Quando entrei, pelas… uma menos vinte, encontrei na sala o Carlos, o que estranhei, pois pensei que se tinha ido embora. Lamento muito a morte da Luísa, mas não os posso ajudar.

Carlos – Saí do baile pelas 23 e 45, acompanhando o Paulo e a Luísa, até que o Paulo nos deixou indo comprar tabaco. Nós seguimos separando-nos pouco depois; só que, ao chegar a minha casa, lembrei-me de um recado que tinha para um amigo e voltei para o baile, sem contudo o encontrar. Depois disso, sei que me embebedei, tendo chegado a casa quase de gatas… Pouco os posso ajudar, a não ser dizer que quando cheguei ao baile, não vi o Jorge nem o Daniel enquanto que o Paulo estava no bar, a beber.

Paulo (tímido por natureza, amava Luísa em silêncio, amaldiçoando por vezes a sua condição de menino bem, que o transformara num ser abúlico, de carnes flácidas e adiposas) – …Pobre Luísa… enfim, parece que está morta! Agora é necessário castigar os autores deste crime. Eu saí nessa noite, juntamente com o Carlos e ela, tendo-os deixado para ir comprar tabaco, porém, devido ao grande movimento no bar, acabei por regressar sem ele. Quando cheguei ao baile eram 0 e 30; o movimento era intenso, e fui encostar-me no bar, onde tomei qualquer coisa, acabando por sair pelas 2 horas…

Daniel (julgando-se um émulo de «Jack, o Estripador», adorava falar sobre histórias onde o horrível era tema. Frankenstein ou Sade eram a sua paixão, e ao ouvi-lo cada pessoa se arrepiava, julgando estar perante uma mente onde o sadismo, era uma constante…) – Ah, ah, ah… inspector, aquela noite foi infernal! Sabe o que aconteceu? Às 11 e 30 tremendamente bêbado, fui aos sanitários onde acabei por perder a noção do tempo e do lugar… Mal disposto, vomitei tudo, e acabei por me esquecer, na decifração das numerosas inscrições que são um verdadeiro puzle e abundam nas paredes… Quanto à Luísa, pois «Jack, o Estripador» não cometeria um crime tão perfeito.

Todas as declarações estavam de acordo, só que… Jorge, ao reentrar na sala além de vir com a roupa em desalinho, estava pálido… Daniel, também ao reentrar tinha o olhar alucinado e a roupa de descomposta, com manchas vermelhas na camisa. Duvidava-se se era vinho ou…

– Claro que tudo isto tem um certo sentido, por isso o caso é fácil; logo, vão buscar-me e prender esse louco estripador do Daniel pois há provas que podem incriminá-lo…

 

PERGUNTA-SE:

1 – Será que Daniel foi mesmo o assassino? Porquê?

2 – Exponha convenientemente o seu raciocínio.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO