Autor Data Janeiro de 1977 Secção Enigma Policiário [10] Competição Volta
a Portugal em Problemas Policiais 1ª Etapa (Lisboa – Peniche – Caldas da Rainha – Abrantes) Publicação Passatempo [32] |
Solução de: FÉRIAS NA ALDEIA Big-Ben Na minha
aldeia, foi a primeira (e única) vez que tal coisa aconteceu. Por isso, toda
aquela gentinha ficou em polvorosa e sem saber o que fazer… Aproveitei a
circunstância para botar figura, porquanto, sendo um dos intervenientes da «jogatina», estava melhor «documentado» que qualquer outro para
chegar a uma conclusão. Os «vapores de
morangueiro» depressa se dissiparam e o raciocínio entrou em pleno
funcionamento… Antes de mais,
rememorei as posições que cada um de nós ocupava. Ora, como «eu por nada deste mundo, faria «parelha» com
o Vítor» e, igualmente, porque «o
meu parceiro não quis ficar defronte do Carlos», poderá concluir-se que
eu «fazia caixa» com o Artur,
contra o Carlos e o Vítor. Como «o dono
da casa (Carlos) não queria que o
Artur ficasse à sua direita», a distribuição dos jogadores era esta:
Nesta
conformidade, fácil será concluir quem era o morto; o meu parceiro – o Artur! O forte odor a
amêndoas amargas que o Artur exalava era indício bastante significativo de que
este tinha sido envenenado com cianeto de potássio, já que aquele é o cheiro
característico de tal produto. Tóxico de acção fulminante, o seu efeito é imediato. Assim, o mesmo
só poderia ser ingerido conjuntamente com a última bebida. Mas como seria isso
possível se todos os demais beberam do mesmo vinho?! Sim, é um
facto, o «morangueiro» foi
despejado do mesmo pichel para os copos de cada um; logo, se o vinho estava
envenenado para o Artur também estaria para os restantes, não é verdade?!... A bebida teria
sido envenenada por quem lhe encheu os copos? Se fosse na «rodada» anterior, em que o Vítor
manobrou o pichel, ainda se poderia considerar tal possibilidade, atendendo a
que a «visão» dos
jogadores-bebedores já deveria estar algo afectada… No entanto, dessa feita, foi o próprio Artur
quem procedeu ao enchimento dos copos… Então, como se
passou a «coisa»? De uma maneira
muito simples: um dos cubos de gelo é que continha o tóxico e dada a liquefacção daquele, em contacto com a bebida,
misturou-se com esta, envenenando-a. Chegados a esta conclusão, fácil será
depreender tudo o resto… Quem é que «distribuiu
pelos copos a quantidade de cubos que cada um julgou conveniente»?... …Exactamente, o Carlos, que precisamente por ser o dono da
casa teve possibilidade de engendrar a «tramóia», já que os «recipientes de plástico, cada qual contendo
um pequeno bloco de gelo», saíram do seu frigorífico… Mais fácil
ainda será reconstituir os acontecimentos: Por razões que
não vêem ao caso, o Carlos quis lançar o Artur «p’rós anginhos». Assim,
tratou de organizar uma suecada na sua adega. Disse que havia «morangueiro» no frigorífico, mas esta
desapareceu «mais cedo do que seria
para esperar»… …Propositadamente,
porquanto convinha aos seus planos que os bebedores, habituados ao vinho
fresco, bebessem o «choco», pois, desse
modo, facilmente aceitariam o seu alvitre de misturar pequenos blocos de
gelo. Num dos minúsculos
recipientes de plástico que normalmente se utilizam nos congeladores dos
frigoríficos domésticos, especialmente com a finalidade de fabricar os tais
cubos de gelo, estaria misturada uma partícula de cianeto de potássio, tóxico
extremamente actuante. Para tanto, teria o cuidado
de isolar convenientemente o referido recipiente de plástico (e o seu conteúdo
mortal), envolvendo-o em papel plastificado (ou de alumínio), próprio para
usar nos frigoríficos. Este seria um cuidado primário, porquanto, doutro
modo, corria o risco de contaminar tudo quanto se encontrasse no congelador, inclusive
o gelo em formação nos restantes recipientes… …No entanto,
outro «sistema» poderia ter sido
utilizado: depois do gelo formado em condições normais, injectaria
o tóxico, com agulha e seringa apropriadas, num dos pequenos cubos… …Em qualquer
das hipóteses, bastaria ao Carlos transferir o referido pequeno bloco de gelo
para o copo do Artur – não esquecer que os bebedores se serviram sempre com o
mesmo copo, como se deixa antever no texto, e como recomendam as mais
elementares regras de higiene… …A «manobra» seria fácil, pois «cada um tinha (o copo respectivo) à sua
direita». Portanto, dada a posição dos jogadores, o copo de Artur estaria
à esquerda de Carlos; consequentemente, aquilo que se chama «mesmo à mão de semear»… …Depois,
enquanto se esperava que o gelo refrescasse a bebida, no copo do Artur, o
veneno misturava-se com o líquido, tornando-o mortífero. |
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© DANIEL FALCÃO |
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