Autor Data 14 de Maio de 2017 Secção Policiário [1345] Competição Campeonato Nacional e Taça de
Portugal – 2017 Prova nº 4 (Parte II) Publicação Público |
O INSPECTOR GARRETT E O POLICIÁRIO Búfalos Associados O
inspector Garrett foi sempre um fiel leitor do jornal Público desde que este
apareceu nas bancas. E, verdade se diga, entre os seus amigos há mais quem
partilhe desse salutar vício. E entre eles estão algumas figuras importantes
de uma actividade apaixonante que conta com muitas centenas de participantes,
congregados principalmente pela leitura dominical da página que o Público
publica há 25 anos, entalada entre as páginas da programação da televisão,
dos cinemas e teatros e as do desporto: a página do Policiário. Garrett achou
sempre curioso que uma simples página de jornal possa movimentar tanta
actividade e tanta gente que nem sequer está à espera de lucros ou benesses,
sendo apenas movida pela paixão. Embora residindo espalhados pelos quatro
cantos do país, alguns até no estrangeiro, os policiaristas constituem uma
espécie de seita fervorosamente dedicada à actividade criminal, mas, digamos,
ao lado mais saudável da questão, ou seja, à descoberta dos criminosos e das
suas malfeitorias. Tudo de uma forma desportiva, lúdica e inofensiva.
Utilizando caneta e papel, ou as teclas do computador, em vez de algemas e
pistolas. E, claro, dando uso às células cinzentas. Esses
amigos policiaristas criticavam amiúde Garrett por ele nunca se ter
abalançado a concorrer aos torneios levados a cabo pelo Policiário, nem a
produzir problemas. –
"Oh, homem, você parece que tem receio de ficar mal visto lá pelo facto
de ser da profissão!" – diziam-lhe de cada vez que se reuniam. –
"Não, não se trata disso. Só que nunca fui muito dado a competições,
prefiro acompanhar os problemas que vão saindo, umas vezes acerto, outras
não, é conforme. Mas sobretudo o que me dá mais prazer é o convívio, as
amizades que consegui fazer. Ultimamente é que não tenho tido tempo para
aparecer, mas recordo com muita saudade alguns almoços na esplanada da
avenida da Liberdade. Quem se poderá esquecer de figuras como a do Sete de
Espadas, do Dic Roland, do KO, do Rip Kirby, do Avlis, do Cloriano e de
tantos outros? Que saudades! –
"Pois, você, o que tem é medo do vexame, da vergonha de falhar! Ou então
não tem mesmo jeito para isto." –
"Pode ser que sim." – disse Garrett. – "Mas para vos dar uma
amostra do meu jeito para a coisa, vou dar-vos uma ideia do problema que eu
escreveria se decidisse ser produtor. Inventava uma história à volta da morte
de um industrial milionário, viúvo e sem filhos, apenas com quatro afilhados
que sabiam estar contemplados no testamento do velho. A morte seria a tiro,
no próprio gabinete e com a própria pistola sem impressões digitais. Claro
que as suspeitas teriam de caír sobre os afilhados. Antes de se apagar, o
homem ainda teria tido tempo para deixar uma mensagem numa folha de papel, em
forma de charada para evitar ser percebida pelo assassino, mas deixando uma
pista sobre a sua identidade. Essa mensagem pode ser descrita assim: dentro
de um círculo, as letras PER acima de um traço horizontal, e por baixo DIA.
Que tal?" –
"Ouça, Garrett, vê-se bem que você tem lido os nossos problemas, o
esquema é clássico. Onde é que está a novidade?" –
"Calma que eu ainda não acabei. Falta dizer os nomes dos afilhados
suspeitos e as respectivas alíneas. Aí vão: A
– Pimenta B
– Diamantino C
– Redondo D
– Perdigão Agora,
vá lá, escolham quem terá sido o culpado." |
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© DANIEL FALCÃO |
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