Autor

Búfalos Associados

 

Data

19 de Novembro de 2018

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [59]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!"

Prova nº 5

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

A LÓGICA NÃO É UMA BATATA

Búfalos Associados

 

Toda a vida desgostoso por não ter tido netos, o inspetor Garrett substituía-os afetivamente por dois amiguinhos do prédio em que morava, netos de Miguel, um amigo também inspetor da PJ, e a quem gostava de dar muita atenção por serem dois rapazes espertos e encantadores. E como os miúdos tinham uma curiosidade inesgotável, passavam sempre as horas disponíveis em bate-papos de lógica ou matemática com o vizinho. O mais velho tinha 12 anos e chamava-se Cesário, o mais novo dava pelo nome de Eugénio e tinha 11 anos. “Nomes de poetas...”, como costumava dizer Garrett. – “Foi em homenagem à avó, explicava o pai. Ela chamava-se Florbela. Passou a ser uma tradição da família, mas já o pai dela se chamava Elmano. E o avô Bernardim.”

Um dia, ao fim da tarde, o Cesário vinha entusiasmado com uma coisa que aprendera na aula de matemática. O professor tinha falado numa história que se conta ter-se passado há mais de duzentos anos. Nesse tempo, numa escola em que a disciplina não andaria a ser muito praticada, o professor, para castigar os alunos, ordenou-lhes que fizessem a soma de todos os números de um a cem e que aquele que o fizesse mais depressa teria um prémio. Todos se atiraram com entusiasmo ao papel e ao lápis na ânsia do conseguirem o prémio. Apenas um garoto ficou quieto, pondo-se a pensar e ao fim de alguns minutos levantou o braço no ar e perguntou se já podia dizer o resultado. O professor aceitou e ficou espantado por o miúdo ter feito a conta de cabeça em tão pouco tempo. E foi a vez de o mestre acorrer ao lápis e ao papel. Espanto: o resultado estava correto!

– “Pois é, Cesário, essa é uma história muito conhecida e interessante. E ficou para sempre na história episódica da matemática. Mas olhem, agora vou propor-vos aos dois, um problema também já conhecido, de pura lógica e raciocínio. Gostam de histórias para pensar?”

– “Venha ela!” – gritaram os dois entusiasmados.

– “Sabemos que há três caixas, contendo cada uma delas duas bolas. Na primeira estão duas bolas pretas, na segunda duas bolas brancas e na terceira uma preta e uma branca. As bolas são todas iguais em tamanho e em peso, bem como as caixas. Por fora, as caixas dizem as cores das bolas que lá estão dentro: a primeira “Preto e Preto”, a segunda “Branco e Branco” e a terceira “Preto e Branco”.

– “Muito bem, e agora?”

– “Agora, longe das vistas dos assistentes, alguém muda o conteúdo de todas as caixas de forma a que nenhuma delas fique igual ao que tinha sido antes. Mas por fora nada se alterou, os dísticos é que estão agora todos errados.

E a pergunta é:

Qual será o menor número de bolas que é preciso tirar para ver a cor, e de quantas caixas e quais, para poder dizer com segurança que bolas estão agora dentro de cada caixa? Mas atenção que só se pode tirar uma bola de cada vez.”

– “Oh, o vizinho só nos põe problemas difíceis. Acha que nós somos génios?”

– “Meus amiguinhos, lembrem-se do que disse Einstein: Um génio é uma pessoa como toda a gente, só que nem toda a gente consegue ser um génio. Nada se faz sem trabalho. E já agora, além de responderem à minha pergunta, digam lá também qual é a soma dos números de um a cem inclusive, e qual a forma de o saber apenas por cálculo mental e em poucos minutos.

Mas vou colocar-vos uma condição: desta vez, nessa sequência de 0 a 100 não podem estar os números 20 e 30. E não se esqueçam de que é preciso, num problema e noutro, descrever qual foi o raciocínio que seguiram.”

– “Oh, senhor Garrett! E essas contas todas têm de ser feitas de cabeça e em pouco tempo?”

– “Tentem. Vale sempre a pena. Tudo vale a pena, se a alma não é pequena. Foi mais ou menos o que disse um poeta que se chamava Fernando, como o vosso pai. E se pensarem um bocadinho vão ver que é mais fácil do que parece.”

  

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO