Autor Data 1 de Dezembro de 2019 Secção Competição Torneio
"Solução à Vista!" – 2019 Prova nº 5 Publicação Audiência GP Grande Porto |
Solução de: …E TAMBÉM NÃO É UMA CEBOLA Búfalos Associados No dia seguinte houve nova
reunião em casa do inspetor Garrett para apresentação das soluções dos
desafios lógicos da véspera. Os resultados foram brilhantes. Começando pelo problema dos
31 fósforos, o inspetor apresentou a seguinte dedução: – “É evidente que o jogador
que inicia o jogo pode garantidamente ganhar se deixar sempre para o
adversário quatro ou um múltiplo de quatro fósforos. Assim na sua primeira
jogada retira 3 fósforos deixando 28 para o adversário jogar, portanto um
múltiplo de 4. E vai repetir sempre o processo, de modo a deixar sempre um
múltiplo de 4 na mesa. Se o adversário tirar 1 fósforo ele retira 3, se tirar
2 ele retira 2, se tirar 3 ele retira 1. Assim, o número de fósforos em cima
da mesa vai sendo sucessivamente de 28, 24, 20, 16, 12, 8 e 4. Quando ficam
apenas 4, o segundo jogador não pode evitar perder o jogo, qualquer que seja
a jogada que faça. A seguir, ao ceder a
primeira jogada ao inspetor, o Eugénio, na ânsia de não perder, teve a
esperteza saloia de mudar o número inicial de fósforos para 32, começando
logo aí o processo dos múltiplos de 4. Só que isso acabou por revelar o
truque dos múltiplos de 4 que assim foi descoberto. Quanto ao desafio da ilha
do Pacífico, dos verdadeiros, dos mentirosos e dos assim assim, a resposta é surpreendentemente fácil.
Desde logo o primeiro a responder, que diz ser FALK, não pode ser VERK porque
se o fosse teria de falar verdade e então não seria FALK. Mas também não pode
ser FALK, porque se o fosse estaria a ser verdadeiro o que não lhe seria
permitido como FALK. Então é de certeza ALTERN, e está a mentir. O segundo, que diz ser
ALTERN, está certamente a mentir porque o ALTERN daquele grupo é o anterior.
Logo é FALK e mente, claro. Por exclusão de partes o terceiro só pode ser
VERK. Nem precisou de falar. Vejamos agora o segundo
grupo de três. Quem poderá ser o VERK deste grupo? O quarto e o quinto não
podem ser, porque se o fossem estariam a mentir, o que não é próprio dos
VERK. Então só o sexto é que pode ser o VERK. E sendo ele o que fala sempre
verdade, é porque, como ele diz, o quarto é mesmo o
ALTERN do grupo, o qual, dessa vez, teria falado verdade mas como ALTERN.
Portanto o quinto que falou é que é o FALK, e mentiu, claro, quando disse ser
ALTERN. Estes temas foram
inspirados nas páginas DESAFIOS que, tal como as do POLICIÁRIO, desapareceram
inexplicavelmente das edições do jornal PÚBLICO dos domingos. E mais uma vez se prova que
a lógica não é nem uma batata, nem uma cebola... É lógica. E pode ser para
todos.” Foi a vez dos manos Cesário
e Eugénio apresentarem a sua lista de falsidades contidas na notícia do
jornal. E foram seis: 01. – A viagem de circum-navegação,
iniciada sob o comando de Fernão de Magalhães, foi ao serviço e com o
patrocínio do Rei de Espanha, Carlos I (mais tarde Carlos V) e não ao serviço
de Portugal e do Rei D. Manuel I, sendo portanto abusivo dizer-se que honrou
mais Portugal do que a Espanha. 02. – Tanto a partida como
a chegada não tiveram nada a ver com Lisboa, mas sim com Sevilha, ou melhor,
com o porto de Sanlúcar de Barrameda, na foz do rio
Guadalquivir. 03. – Na partida saiu de
facto uma armada de cinco navios e centenas de mareantes, mas após as
tremendas dificuldades ocorridas durante vários anos na viagem, chegou a
Espanha apenas um, de seu nome Victória, com dezoito tripulantes num estado
deplorável de doença e mal-nutrição. 04. – Fernão de Magalhães
não concluiu a viagem não voltando pois à Europa. Foi morto a meio da
empresa, em combate, perto das atuais Filipinas e substituído por um
tripulante chamado Juan Sebastián Elcano que comandou a partir daí. 05. – A chegada à Europa
foi no dia 6 de Setembro de 1522 e não a 6 de Outubro de 1582. 06. – O principal objetivo
da viagem não terá sido provar que a terra era redonda, coisa que já era
conhecida na Europa e foi mesmo a razão da viagem. Copérnico já o confirmara
no princípio do século ao trabalhar na tese heliocêntrica, a qual só viria a
ser tornada pública em 1543 aquando da sua morte. A viagem de
circum-navegação iniciada por Magalhães veio no entanto confirmar na prática
o que já era sabido antes. Mas o principal objectivo
era assaltar as riquezas das Índias orientais, especiarias e outras, mas
atingidas navegando para ocidente para evitar encontros com os barcos
portugueses. Um dos feitos de Magalhães terá sido procurar e encontrar,
navegando para Sul, o estreito que hoje tem o seu nome e que permite passar do
Atlântico Sul para o Pacífico sem chegar aos mares gelados da Antártida.” Aí o inspetor Garrett
interrompeu para dizer aos jovens que afinal não tinham investigado todos os
pontos naquela frase. Havia mais uma falsidade e muito importante, o que
passava o número delas de seis para SETE. E concluiu: “07. – A data indicada, a
de 6 de Outubro de 1582, também nunca seria possível pela simples razão de
que essa data nunca existiu. Este é um truque que já foi usado para apanhar
os incautos em problemas policiais. Quando o Papa Gregório XIII decretou a
abolição do calendário Juliano, para acerto de datas, o mundo passou do dia 5
de Outubro de 1582 do calendário Juliano para o dia 15 de Outubro do
Gregoriano, tendo sido omitidos da História qualquer
coisa como os dez dias intermédios. Felizmente, a viagem de Magalhães tinha
já ocorrido cerca de sessenta anos antes. E aconteceu mesmo, apesar dos
muitos problemas.” |
© DANIEL FALCÃO |
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