Autor Data 27 de Novembro de 1975 Secção Competição Policiário nº 2 Publicação Mundo de Aventuras [113] |
Solução de: UM TROVÃO FORTE FEZ VIBRAR A CASA… Camarada X Solução de Big-Ben 1
– Em meu entender, o inspector Gomes sé poderia
prender «um homem novo e há pouco tempo ao serviço, parecendo de bom
carácter…», isto é, o mordomo. 2
– Vejamos as razões que me levaram a esta afirmativa: a) Depoimento falso: «…Um
trovão forte fez vibrar a casa e a luz
falhou… Fusíveis, pensei. Não obstante o barulho da trovoada, ouvi um tiro…» Aí está!,
primeira falha do plano do mordomo. Pois se a luz faltou e, consequentemente,
tudo ficou mergulhado em escuridão, não seria descabido um tiro mas trevas,
antecipadamente condenado ao fracasso?!... Sim,
qual a garantia que teria o pseudo atirador de que
a sua (futura) vítima se conservaria no mesmo lugar, depois de a luz se
apagar?! Na circunstância, a reacção do mais vulgar
dos mortais – inclusive o milionárie Fernandes –
seria a de se levantar, a fim de constatar o que se havia passado; logo o
«alvo» fugiria… (A
hipótese torna-se ainda mais inviável se atentarmos que a bala acertou
precisamente na fronte. Bem sei que o tiro podia ser à «queima-roupa», mas,
nesse caso, onde estão os vestígios de pólvora daí resultantes – não é feita
qualquer referência e, portanto, temos de partir do princípio de que não
existem…) b) Horário
discordante: «…Meia
hora depois estavam na morada indicada. Eram 23 horas». Assim, o telefonema
do mordomo foi recebido às 22,30 horas… …Antes
disso, já a luz se teria apagado em casa do milionário Fernandes, pois, como
é evidente, o atrás referido telefonema só seria efectuado
após o mordomo verificar a morte daquele. Nesta conformidade – e a passar-se
tudo conforme o mordomo nos descreve – a luz estaria apagada um bom lapso de
tempo, talvez quinze ou vinte minutos, porquanto seria acesa pouco antes da
chegada do inspector Gomes («…e
a luz voltou. Foi um alívio para mim a chegada do senhor Carlos, logo a seguir…», afirmou o mordomo:
«…e só voltei há momentos, um pouco
antes do inspector chegar…», disse Carlos). Julgo,
pois, poder concluir que a luz estaria apagada das 22,25 até as 22,45 –
quiçá, 22,50. Chegados a esta conclusão, suponho estar habilitado a destruir
todo o plano do mordomo, porquanto «…o rico relógio eléctrico colocado na parede do
escritório, que marcava vinte e três horas e trinta minutos» deixa antever
grande tramóia… …É
que, tendo o inspector Gomes chegado às 23 horas,
não demorou, certamente, mais do que meia hora para proceder às «démarches»
tradicionais, isto é, observação do local e recolha de depoimentos. Portanto,
o relógio do inspector (ou de qualquer dos
intervenientes) poderia marcar 23,30; porém, o relógio eléctrico
– precisamente porque ficaria parado durante o espaço de tempo em que os
fusíveis estariam avariados – deveria marcar apenas 23,10 ou 23,15… c) «Não havia sinais
de luta e a janela estava aberta…» Não havia sinais de luta, nem tão pouco,
suponho, marcas da chuva copiosa que estava a cair, pois se as houvesse a
elas seria feita referência… Por outras palavras, se tudo tivesse ocorrido
conforme o criado conta, o assaltante teria vindo do exterior e, sendo assim,
dado que traria os sapatos e a roupa ensopada da chuva que caía, forçosamente
deixaria marcas no sobrado – ou na alcatifa. d) «Estava uma noite
chuvosa… a chuva continuava a cair com grande intensidade». Sim, era uma
noite «bera»… porém, chuvosa não é o mesmo que trovejosa… E só o mordomo é que faz referência à
trovoada… E como ele conseguiu, mesmo assim, ouvir o tiro, hem!!!... |
© DANIEL FALCÃO |
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