Autor Data 19 de Dezembro de 1956 Secção Crime e Castigo Publicação A Rabeca |
UM CRIME COLORIDO Carlos Paniágua Fèteiro Como
habitualmente, a azáfama na gigantesca fábrica de automóveis «Torpedo», cerca
de Gouveia, era enorme. Trabalhava-se activamente em todos os departamentos. De
súbito, duma das secções de pintura, alguém sai correndo e procura o
respectivo contramestre, a quem fala nervosamente, com abundância de gestos. O
contramestre recomenda: -
Que ninguém mexa em nada. Eu sei que Mr. Pilot, o Sherlock n.º 1 de Portugal,
está passando as férias em Gouveia e vou pedir-lhe que tome conta do caso. De
facto, algum tempo depois, Mr. Pilot entrava no «Torpedo» acompanhado pelo
contramestre da pintura. Colocado na boca o simbólico cachimbo, dirigiu-se
com o seu companheiro à secção onde se teria passado algo de anormal. Mentalmente,
foi anotando os factos e pormenores que lhe poderiam ser necessários. O
compartimento onde estava instalada aquela secção comunicava com o exterior
apenas por uma porta. Os gases das tintas eram absorvidos por uma
moderníssima e adequada instalação. À
direita de quem entrava, com a traseira virada para a porta, estava um carro
começado a pintar de azul. Na frente deste e com a mesma disposição, outro
automóvel, que viria a ser vermelho. Do lado esquerdo, dispostos da mesma
maneira, outros dois veículos. O primeiro seria verde e o outro amarelo. Nada
de extraordinário ali se notaria, se não fôra o corpo dum homem caído no meio
da sala, entre os carros azul e verde. Mr. Pilot ajoelhou-se junto dele e
constatou que a morte fôra provocada por uma bala que o atingira na têmpora
esquerda. Além da pistola de pintura, não havia, junto dele, qualquer outro
objecto que permitisse tomar uma pista. Mr.
Pilot deu então a volta aos carros. O azul tinha, no guarda-lama direito, à
frente, uma pequena mancha púrpura. Todos estavam começados a pintar e em
nenhum existiam quaisquer indícios que pudessem interessar. O
Sherlock n.º 1 quis então ouvir depoimentos. Metódico como sempre, chamou em
primeiro lugar o porteiro: -
Ninguém, além dos operários respectivos, ali tinha entrado. Não ouvira, nem
vira, nada de anormal. Seguiu-se
o pintor do vermelho: -
Começara a pintar a parte da frente do carro e só saíra dali quando o colega
descobrira o morto. O
pintor do verde prestou as seguintes declarações: -
Tal como os meus colegas, não dei por nada de especial. Só quando passei para
o lado direito do carro que estou a pintar é que vi o nosso companheiro caído
e dei o alarme. Quanto
ao homem da tinta amarela, esse disse: -
Entretido no meu trabalho, não dei por nada. Como sabe, o ruido provocado
pelas pistolas de pintura é enorme e não ouvi nada de estranho. Então,
Mr. Pilot percorreu de novo a sala, procurando qualquer indício. Os cinco
homens aguardavam, em silêncio, o desfecho daquelas investigações. E esse
desfecho veio mais cedo do que esperavam, quando o Sherlock n.º 1 tomou a
palavra: -
Meus senhores, o assassino está entre vós! Nesta
altura, como não podia deixar de ser, eu interrompo a narrativa, propondo a
todos os que a leram a solução do enigma. |
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© DANIEL FALCÃO |
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