Autor Data 8 de Novembro de 1958 Secção Competição 1º Problema Publicação A Voz Portalegrense, nº 1357 |
O DUPLO CRIME DA RUA MORGUE Carlos Paniágua Fèteiro Noite
escura como breu, ensopada por uma chuva miudinha e incomodativa. Na Rua da
Morgue, para quadrar com o ambiente, um silêncio sepulcral. De
repente, um tiro, logo seguido de um grito arrepiante que soou, lugubremente,
dilacerando o silêncio. Uma
porta aberta de súbito, atirou uma chapada de luz à escuridão e um vulto
afastou-se com um embrulho debaixo do braço, fazendo ecoar, sincopadamente, os
seus passos apressados. De
novo o silêncio, a breve espaço interrompido pelo silvo dum policial. Depois,
mais apitos e em pouco tempo um movimento desusado convergia para o edifício
da Morgue. Auguste
Dupin identificara-se e pedira para dar uma olhadela no local do crime e logo
atenderam o seu pedido. Entrara
e deparara-se-lhe um macabro espectáculo: Numa das mesas de mármore, o
cadáver do guarda da Morgue, vestindo um fato-macaco humedecido decerto pela
borraceira, descalço e... sem cabeça! Junto
à mesa, caído de bruços e sangrando dum ferimento na nuca, outro cadáver,
este vestindo una bata de médico. Havia
vestígios de pegadas vindo do pátio do edifício, que tinham sujado de lama o
pavimento. Monsieur
Dupin aproximou-se mais e pôde verificar que as roupas interiores do guarda
da Morgue tinam a marca «Skilret», uma das melhores casas londrinas da
especialidade e estavam absolutamente impecáveis, duma alvura imaculada, além
do que os pés da vítima se encontravam cuidadosamente tratados. Um
dos polícias murmurava nesse instante a outro, que falara apenas há meia hora
com o malogrado guarda da Morgue. A
uma pergunta de August Dupin respondeu que o guarda lhe tinha manifestado
receio dum assalto e que, por isso mesmo, ele, polícia, não tinha perdido de
vista a única entrada do edifício e podia garantir que, quinze minutos antes
do tiro, apenas entrara o Dr. Mastiss, médico da Morgue. Que
sim, que era impossível a qualquer outra pessoa entrar no prédio, visto que o
muro que circundava o pátio tinha três metros e meio de altura, e teria sido
impraticável a escalada sem que se notasse o facto. Então
Monsieur Dupin tirou conclusões de tudo o que tinha visto e ouvido e, perante
a estupefacção geral, disse quem tinha sido o criminoso. Sherlocks:
que conclusões foram essas e quem foi o criminoso? |
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© DANIEL FALCÃO |
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