Autor Data 6 de Abril de 1950 Secção Competição Problema Extra Publicação Mundo de Aventuras |
QUAL DAS TRÊS? Ch. Mph. Lister Quando
cheguei ao local da ocorrência, – o escritório da vítima, situado numa sala
independente de um 3.º andar de apartamentos, – já o corpo havia sido removido,
e estavam a ser interrogadas três irmãs, bastante jovens ainda, todas
naturais de minas, descendentes de pai italiano e mãe paulistana. Enquanto
o meu colega Diógenes, da Delegacia, procedia ao interrogatório, entretive-me
a analisar o acanhado aposento e o seu parco mobiliário: uma secretária, meio
desconjuntada, sobre a qual repousavam: um tinteiro sem tampa; uma raspadeira
com cabo de marfim; um velho relógio de bolso, de duas tampas, com a do
mostrador, sem vidro, aberta; uma cigarreira de cabedal, completamente vazia,
ostentando o monograma C.S.; alguns papéis com
contas; uma lista dos telefones, aberta na letra S, com um rápido apontamento
na margem da página; dois lápis, um mata-borrão, um tubo de cola, por
encetar. Sobre
a cadeira, um pouco afastada da secretária, uma pasta de cabedal, em cujo
interior divisei um bom pacote de boas notas do Banco. No
chão, sob o tampo da secretária, qualquer coisa brilhante, que me chamou a
atenção. –
É inconcebível! – exclamou, nessa altura, o saturado
Diógenes. – Todas as três a confessarem-se culpadas! Ora recapitulemos: Teima
a primeira senhorita em afirmar que veio aqui, sem conhecimento de suas
irmãs, por intermédio dum anúncio do jornal, a fim de contrair um empréstimo,
não é assim? Mas ao ver a pasta com as notas, tentou apoderar-se do maço,
quando a vítima se encontrava, momentaneamente, de costas. –
Exactamente! «Ele», porém, voltou-se, subitamente…
E, então, receando as consequências do meu gesto, agredi-o com o pesado
cinzeiro de cobre, sem pensar que lhe causaria a morte e desejando, apenas,
colocar-me a salvo… –
Muito bem. Passemos a sua irmã: É mentira o que acabo de ouvir, não é assim?
A senhorita é que esteve aqui, e não sua irmã, para contrair o empréstimo. Ao
ver o pacote das notas, tentou-se e… –
… e cheguei a tê-lo nas minhas mãos… Mas «ele»
voltou-se, de súbito, e, ao surpreender o meu gesto, ficou tão furioso que
recuei, assustada… Creio que embati em qualquer coisa, que se arrastou atrás
de mim… Peguei no cinzeiro e… Depois, fugi, horrorizada,
com a sensação de que me caíra qualquer objecto…
Nada mais. –
Falta a terceira senhorita. É claro que tudo quanto suas irmãs contaram é
falso… A senhorita, sim, é que foi a culpada… –
Vim aqui, para contrair um empréstimo, sem conhecimento de minhas irmãs…
«Ele» recebeu-me atenciosamente, mas teve logo de início, palavras para a
minha beleza, que não me predispuseram bem… De repente, senti-me enlaçada
pelas costas… Tentei libertar-me… Então, vendo o cinzeiro sobre a secretária,
ao alcance das mãos. Peguei nele com a esquerda e… –
Basta! Que apanhou você aí do chão, Charles? Mostrei-lhe
o meu achado: um pequeno brinco, de fantasia barata. Maquinalmente,
os olhos de Diógenes percorreram as orelhas das três irmãs… Pertencia
à primeira, cuja orelha esquerda estava desguarnecida… Na orelha direita,
ostentava um brinco exactamente igual… –
Bolas! – exclamou o Inspector,
furioso. – Mas esse brinco não estava aqui, quando o corpo foi removido!
Asseguro-o! Foi,
então, que lhe fiz uma pergunta ao ouvido… –
Não sei. – respondeu. – Mas vou já indagar… Correu
ao telefone… Momentos depois, não sem ocultar a sua surpresa, volveu: –
Sim. Mas como foi que você descobriu? –
Não interessa! Prenda aquela, que é a culpada! As outras pretendem, apenas,
sacrificar-se por ela! 1
– Que perguntei ao meu colega Diógenes? 2
– Em que baseei a pergunta? 3
– Qual das irmãs aconselhei a prender? 4
– E por que não uma das outras?
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© DANIEL FALCÃO |
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