Autor Data 19 de Novembro de 2019 Secção Competição Torneio
"Solução à Vista!" – 2019 Prova nº 6 Publicação Audiência GP Grande Porto |
CRIME LEAKS Daniel Falcão Gustavo Santos está
sentado, numa solarenga manhã de domingo, na esplanada do Café-Restaurante
Sítio do Costume. Continua a rodar a colher dentro da chávena defronte de si,
enquanto observa com alguma curiosidade a primeira página do jornal Matutino,
pousado sobre a mesa. Nos últimos dias, as
notícias daquele teor têm surgido a conta-gotas. Dia após dia iam sendo
libertados fragmentos de relatórios criminais. “Crime Leaks”,
assim era apelidada pelos meios noticiosos estas fugas de informação. Mais um
“leak” a juntar-se a vários outros, o que levava
muitos a perguntarem sobre qual seria o próximo, numa época em que tudo vinha
a público, mesmo as informações mais privadas. Gustavo Santos abre o
jornal e lê atentamente a mais recente fuga de informação que aparece
reproduzida na terceira página. O texto em causa divulga informações, que
deviam ser confidenciais, sobre o homicídio de Manuel José Carvalho, ocorrido
em finais de dezembro de 2018. Pela leitura do texto publicado,
ficava-se a saber que a vítima fora encontrada no seu escritório pelo
companheiro. Este afirmara que, assim que deparou com o corpo, imediatamente
ligara às autoridades. Os agentes destacados para o local não tiveram
dificuldade em concluir, pelas peças partidas, pelos móveis deslocados e
pelos papéis espalhados pelo chão, que ali ocorrera uma violenta disputa.
Disputa que teria terminado com a vítima a ser fortemente golpeada na cabeça
com o pisa-papéis, encontrado mesmo ao lado do
corpo. Alexandre Miguel Duarte,
assim se chamava o companheiro da vítima, declarara que naquela noite saíra
com uns amigos comuns, mas que o Manuel ficara em casa, pois tinha agendado
receber uns clientes, situação que ocorria com alguma frequência. Acrescentara
ainda que, ao chegar a casa, pouco depois da meia-noite, se apercebera que o
companheiro ainda estaria no escritório, pois a luz estava acesa. Decidira
não interromper e subira para o quarto, situado no primeiro andar,
adormecendo mal se deitara na cama. Seriam umas cinco horas da manhã quando
acordou e reparou que o Manuel ainda não se deitara. O que achou estranho.
Desceu as escadas, bateu à porta do escritório e, como a luz continuava acesa
e não teve qualquer resposta, abriu a porta e entrou. Foi nessa altura que
deparou com o escritório todo desarrumado e com o corpo do companheiro. Segundo o relatório
policial, a vítima tinha próximo da sua mão esquerda uma magnífica espátula
para abrir cartas, com cabo em madrepérola e lâmina em tartaruga natural. Desta
vez, a espátula teria servido para marcar o soalho com o que parecia ser um
número: 942. Qual seria o seu significado? Era algo que ainda estava por
esclarecer. Se é que significava alguma coisa. O agente responsável chegou
a questionar o companheiro da vítima, ainda no local, sobre quem seria a
pessoa ou pessoas com quem Manuel José Carvalho tinha agendado reunir. Num
primeiro instante, o inquirido manifestou desconhecimento. Logo depois
acrescentou que, nos últimos dias, havia alguns assuntos que ocupavam muito
do tempo do companheiro, envolvendo dois clientes: Francisco João Sá e Isidro
Diogo Baganha. Suspeitava que a reunião teria sido marcada com algum deles,
mas não sabia qual. As últimas informações
disponíveis sobre este caso referiam que o companheiro da vítima, segundo as
suas próprias declarações, saíra de casa pouco depois das oito horas, tendo
chegado ao local do encontro, a cerca de uma dezena de quilómetros, cerca de
meia hora depois, pois era muito cuidadoso na condução. Gustavo Santos leu e releu
os elementos agora divulgados e começava a ter uma ideia do que sucedera na
noite do crime. DESAFIO AO LEITOR: E o leitor também tem
alguma teoria? Em caso afirmativo, desenvolva essa teoria, sustentando-a com
os factos disponíveis. |
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© DANIEL FALCÃO |
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