Autor

Daniel Gomes

 

Data

4 de Junho de 2019

 

Secção

O Desafio dos Enigmas [70]

 

Competição

Torneio "Solução à Vista!" 2019

Prova nº 1

 

Publicação

Audiência GP Grande Porto

 

 

ABÍLIO VAI À BOLA

Daniel Gomes

 

O agente Abílio nunca foi um grande apreciador de futebol, tanto como espectador ou como praticante. É certo que chegou a dar alguns toques na bola quando era miúdo, mas com a idade foi perdendo o gosto pelas peladinhas entre amigos e há muito que não entra sequer num estádio de futebol. Mas hoje é um dia muito especial. O clube da sua terra natal conseguiu ultrapassar várias eliminatórias da Taça de Portugal e recebe agora, no seu velhinho estádio, uma das grandes equipas do futebol luso. O jogo começou há poucos minutos e ainda está muita gente a entrar no estádio, que se encontra quase à pinha. O ruído é ensurdecedor. As bandeiras agitam-se. O povo grita.

(…)

A equipa da casa está a ser completamente esmagada por um ataque demolidor da turma adversária, que a remete totalmente para o seu meio campo. Porém, miraculosamente, a bola não entra. Bolas na trave já foram mais de dez! O guarda-redes defende tudo. Com os pés, com os ombros, com a cabeça, com as mãos abertas e de punhos de cerrados. O ponta-de-lança dos visitantes acabou agora mesmo de cabecear para o canto superior direito da baliza e o guardião foi lá desviar a bola com a ponta dos dedos, deixando a sua claque em delírio. Os cânticos não cessam. Abílio também está eufórico. Tenta falar com os seus parceiros do lado, mas mal se ouve. E grita: Quanto falta para o intervalo?

(…)

Ouve-se o apito do árbitro e as equipas rumam então aos balneários, no meio de um coro de assobios, vaias e insultos. Nem a mãe do juiz de campo escapa à frustração dos adeptos da turma visitante! O agente Abílio aproveita a pausa na partida para se refrescar com uma garrafa de água fresca. A seu lado, um rapaz da terra comenta o jogo com vários amigos e afirma que a sua equipa tem de ganhar, nem que seja preciso invadir o campo. Um sujeito mais velho acerca-se dos jovens e pede-lhes contenção, apesar de perceber a importância da passagem à próxima eliminatória da Taça para os cofres do clube, defendendo porém que a verdade desportiva deve ser preservada.

(…)

O jogo recomeça e tudo volta a ser como antes, com a equipa visitante a massacrar a turma adversária, com todos os jogadores dentro do meio campo dos locais, à exceção do guarda-redes contrário. As boas jogadas junto à baliza sucedem-se mas a bola não entra, por intervenção direta dos defesas ou por qualquer capricho dos deuses do futebol. Os cruzamentos em chuveirinho para a pequena área repetem-se e o resultado dos cabeceamentos terminam invariavelmente na barra, nos postes ou nas mãos do guardião. Os remates rasteiros, a meia altura, com mais ou menos efeitos, de trivela ou em arco, têm sempre o mesmo desfecho. E as redes mantêm-se invioladas!

(…)

Passaram mais de quarenta e cinco minutos e tudo se mantém inalterado, como até aqui. A bola é rematada já dentro da pequena área e só não entra por um qualquer milagre, que só os crentes podem explicar, e acaba invariavelmente nas mãos do guarda-redes da casa. Este levanta-se, com esforço, vê um seu companheiro de equipa completamente isolado, não existindo qualquer jogador entre ele e o guarda-redes adversário, e lança-lhe a bola com as forças que lhe restam. A receção do atacante não é a melhor, mas, a custo, lá consegue dominar a bola. E depois de uma correria desenfreada, faz um belo chapéu ao guarda-redes, que se encontra adiantado, anichando-se a bola nas redes.

Instala-se um tremendo sururu, com as claques defendendo pontos de vista opostos, perante a hesitação manifesta do árbitro. Os adeptos da equipa da casa gritam “golo”, a plenos pulmões, pulam e agitam bandeiras e cachecóis. Os apoiantes da turma adversária clamam esbaforidos por “fora de jogo”. E o juiz da partida mantém-se indeciso, desnorteado, sem saber o que fazer. O árbitro toma finalmente a decisão acertada, o que faz com que os ânimos se exaltem ainda mais, acabando quase tudo à pancada nas bancadas. E só não há invasão de campo porque o agente Abílio, apoiado por colegas da GNR local, salta para o relvado e evita várias tentativas nesse sentido.

O que decidiu, afinal, o árbitro?

A – Invalidou o golo.

B – Invalidou o golo e puniu o atacante com cartão amarelo.

C – Validou o golo.

D – Validou o golo e puniu o guarda-redes com cartão amarelo.

 

DESAFIO AO LEITOR:

O que se pede é que o leitor não se limite a indicar a alínea que considera certa, mas que justifique a sua escolha através de relatório o mais circunstanciado possível.

 

SOLUÇÃO

© DANIEL FALCÃO